Nas últimas duas semanas, a média móvel de casos de covid-19 aumentou em 24 Estados e no Distrito Federal. A média do País dobrou, cresceu 100,3% no período, conforme dados do consórcio de veículos de imprensa. O número que era de 14.644, no dia 22 de maio, passou para 29.342 no domingo, após oito dias de alta.
Com isso, voltou aos níveis do fim de março. O número ainda está distante do pico da Ômicron, em janeiro. Porém, o cenário de alta pode estar subnotificado por causa de autotestes e falhas na divulgação de dados pelos Estados.
Especialistas falam sobre a possibilidade de uma nova onda e atribuem a alta à transmissibilidade da Ômicron e de suas subvariantes; à flexibilização de medidas de proteção; à estagnação e a desigualdade regional da vacinação; e ao frio.
Eles indicam a necessidade de estímulo à imunização e a retomada do uso de máscaras em locais fechados.
No País, a média de casos, que exclui distorções do fim de semana, caiu entre fevereiro, quando ultrapassava a casa dos 100 mil, e a primeira quinzena de abril. A partir do dia 26 do mês passado, aumentou por oito vezes seguidas, atingindo 32.983 em 2 de junho. Em relação às mortes pela doença, nas últimas duas semanas, houve queda de 21,5% na média móvel, que está em 80.
O número está abaixo de 100 desde 3 de junho, após nove dias consecutivos acima. O Boletim InfoGripe Fiocruz mostrou ainda que a covid-19 responde por 59,6% dos casos de Síndrome Respiratória Aguda (SRAG) com identificação viral nas últimas quatro semanas (de 1.º a 28 de maio).
Entre as unidades federativas, os maiores aumentos nas duas últimas semanas foram no Acre (1800%), no Rio Grande do Norte (621,4%), em Roraima (400%), no Distrito Federal (383,7%) e no Rio de Janeiro (283,9%). Amazonas (de 33,3%) e Sergipe ( de 6,6%) foram os únicos a apresentar queda. Em São Paulo, a variação de duas semanas foi de 45,6%, após 11 dias de crescimento.
AFASTAMENTOS
O aumento nos casos voltou a causar o afastamento de profissionais de saúde em cidades do interior de São Paulo. Há impacto também na educação e em outros setores de serviços públicos. Em Campinas, por exemplo, o número de servidores afastados subiu de 32 em abril para 207 em maio. Em Ribeirão, 151 profissionais da área da saúde estavam afastados.
Especialistas ouvidos pelo Estadão acreditam que o País possa estar enfrentando uma nova onda de casos. “Vimos primeiro essa subida em abril”, diz o coordenador da Rede Análise Covid-19, Isaac Schrarstzhaupt, citando a pesquisa Covid Trends and Impacts Survey, da Universidade de Maryland, em conjunto com o Facebook. “As pessoas respondem essa pesquisa informando se estão sentindo sintomas, e essa curva sempre antecipa as curvas oficiais em 15 a 20 dias, e desta vez não foi diferente.”
Schrarstzhaupt lembra que o número de óbitos é “indicador tardio”. “Durante o mês de maio já víamos esse aumento nas Regiões Sul e Sudeste, e hoje vemos em todas as áreas do País. Nas Regiões Sul e Sudeste, onde começou antes, vemos aumento de hospitalizações em leitos clínicos e aumento leve em UTI em São Paulo e Rio Grande do Sul.” Marcelo Otsuka, vice-presidente do Departamento de Infectologia da Sociedade de Pediatria de São Paulo, chama a atenção para a estagnação dos níveis de imunização – principalmente de crianças, adolescentes e de reforço para idosos. “A cobertura vacinal ainda não é completa, não é adequada. Temos regiões em que a cobertura é muito falha.”
SUBNOTIFICAÇÃO
O epidemiologista Pedro Hallal destaca que, da forma que foi implementado no País, o autoteste se tornou uma “gigantesca fonte de subnotificação”. “Ninguém reporta para o sistema de vigilância”, diz.
“Não adianta ficar fazendo teste e isso não dialogar com o sistema de vigilância. Se o sistema não se beneficia das informações geradas pelo teste, é inútil.” Ao Estadão, a Associação Brasileira de Redes de Farmácias e Drogarias (Abrafarma) disse não ter dados sobre a venda de autotestes, apenas informações de pacientes que utilizaram o QR Code nas caixas dos testes para relatar o diagnóstico. Entre março e abril, 32 mil pessoas acessaram a aplicação. A maioria (88%) apresentou resultado negativo.
A reportagem tentou contato com o Ministério da Saúde e a Secretaria de Saúde do Rio Grande do Norte, sem resposta. O Distrito Federal disse monitorar casos de covid e demais síndromes respiratórias agudas graves (SRAG).
A Secretaria de Saúde do Rio, além do crescimento dos casos, viu aumento de 5% nos atendimentos a casos de síndrome gripal em UPAs e enviou alerta de monitoramento aos 92 municípios. “Na semana de 22 a 28 de maio, a média diária de atendimentos foi de 396, sendo 238 pediátricos.” O Conselho Nacional de Secretários de Saúde destacou, em nota, não ter “elementos para afirmar que estamos vivendo uma nova onda, mesmo considerando um aumento dos casos de forma significativa”. O Conass destacou, porém, que medidas de proteção e vacinação “sempre devem ser incentivadas”.
Fonte: O Estado de S.Paulo