Casos de “flurona” — nome informal dado à coinfecção simultânea causada pelo coronavírus e a influenza em inglês — são comuns em vários paises do mundo, inclusive no Brasil. No entanto, há poucos dados epidemiológicos sobre a condição.Isso ocorre porque, diante dos sintomas bem parecidos de Covid-19 e gripe, investiga-se apenas uma das condições, impossibilitando o diagnóstico duplo. É o que explica Salmo Raskin, médico geneticista e diretor do Laboratório Genctika, de Curitiba.Ao menos três estados brasileiros (Rio de Janeiro, Ceará e São Paulo) tiveram registro de testes positivos tanto para a Covid como para a influenza, segundo o G1.
Os casos de coinfecção costumam aparecer quando o paciente que apresenta sintomas é submetido a um teste do tipo painel viral — no qual uma amostra é analisada para vários tipos de vírus ao mesmo tempo. Esses testes normalmente são feitos em laboratórios privados. No cenário de pandemia de Covid-19, os laboratórios públicos estão priorizando a realização de testes para identificar o coronavírus.DÚVIDAS NO ARNeste período em que os casos de influenza voltaram a aumentar, principalmente no Brasil, após o relaxamento das restrições impostas por conta do coronavírus, as atenções dos pesquisadores se voltaram para a possibilidade de dupla infecção. Para Raskin, ainda faltam estudos sobre as principais questões que envolvem as consequências dessa ocorrência.
Uma das dúvidas que ainda precisam ser sanadas pelos cientistas sobre a “flurona” é se um paciente acometido por ambos os vírus pode apresentar um quadro de saúde piorado.
“Sabemos que os dois vírus podem infectar, inclusive, a mesma célula. Mas como ainda não temos estudos comparando coinfectados com aqueles que foram infectados com apenas um dos dois vírus, não podemos dizer se o prognóstico é melhor ou pior”, afirma Raskin.
O geneticista destaca ainda que o Sars-CoV-2 é um vírus relativamente novo e o influenza se manteve controlado entre 2020 e grande parte de 2021, já que as estratégias para combatê-lo são semelhantes às do coronavírus (como uso de máscaras, distanciamento social, melhor ventilação do ambiente e higienização frequente das mãos).
Os poucos casos de influenza e o surgimento recente do novo coronavírus ainda não possibilitaram estudos aprofundados sobre a coinfecção dos dois — esclarece o médico.VÍRUS COMBINADOO geneticista afirma que a possibilidade de recombinação — a formação de um novo vírus com material genético de ambos — entre o coronavírus e o influenza é extremamente raro e ainda não foi notificado na literatura.
A recombinação não é incomum nos coronavírus, nem nos vírus da influenza. No entanto, é muito raro que eles se juntem (façam uma recombinação de um com o outro). Numa rápida pesquisa, não encontrei nenhum relato no mundo sobre isso — diz.
O médico orienta que as pessoas continuem praticando medidas de proteção contra as doenças, como o uso de máscaras, o distanciamento social, a higienização das mãos e a preferência por ambientes ventilados. Raskin reforça a importância de se vacinar contra os dois vírus, que possuem imunizantes próprios, mas que no futuro podem ser combinados num só.
Fonte: O Globo