Interpretado por Sam Waterston, o personagem Solomon Bergstein, da série Grace and Frankie, se vê diante do médico, no quarto episódio da sexta temporada. Acompanhado de seu parceiro Robert (Martin Sheen), ambos recebem um folheto sobre câncer de próstata e ouvem o diagnóstico.
— O resultado não foi exatamente o que esperávamos. Nós o achamos cedo. É indolente, de crescimento lento, o que é ótimo.
— É ótimo? Mas é câncer. Sol tem câncer! – diz Robert. O médico se vira para Solomon e responde: —Sol, imagine que sua próstata é esta noz. Você tem uma noz esquisita. Só isso. É muito comum na sua idade.
— Então, qual é a estratégia? O que fazemos agora? – questionam.
— Podemos operar, mas uma cirurgia sempre tem risco. Depois tem o risco de infecção — diz o médico, que completa: — Podemos ficar de olho nisso… a boa notícia é que, na sua idade (75 anos), alguma coisa provavelmente o matará primeiro. Você é saudável e a noz é sua.
Este diálogo é bastante representativo do momento de comunicar o diagnóstico de câncer de próstata para o paciente. Os tumores prostáticos malignos, em sua maioria, crescem mais vagarosamente. E a decisão de apenas observar, sem qualquer intervenção, pode ser a mais acertada em muitos casos. O nome técnico para isso é vigilância ativa. Mas você pode se perguntar: qual paciente pode receber esta indicação? Para que possamos responder é fundamental que conheçamos o perfil do tumor e, para tanto, estarmos munidos de informações sobre o seu perfil biológico. Isso porque, em alguns casos, o tumor pode ser potencialmente mais agressivo.
Além da agressividade do tumor, devemos levar em conta outros fatores. As principais indicações são para pacientes que têm um tumor pequeno, de baixo risco e uma expectativa de vida mais curta. A vigilância ativa segue critérios científicos rigorosos com PSA e toque retal de rotina. O PSA é um exame de sangue no qual são avaliados os níveis circulantes desta molécula (antígeno prostático específico), que é produzida na próstata. Os valores alterados de PSA podem indicar a presença de um tumor, o que faz dele um excelente marcador tumoral.
Portanto, observar não é sinônimo de não fazer nada. O acompanhamento com esses exames permanece, em vigilância, e dependendo da evolução da doença, é feita nova biópsia, com nova avaliação da progressão do tumor e aí pode ser iniciado o tratamento ativo. O importante é que o paciente esteja munido deste conhecimento e se empodere dele, pois como bem disse o médico no seriado, a noz é do paciente.
Dentre os determinantes para a melhor tomada de decisão está o fator idade. Entre pacientes mais jovens, na faixa dos 50 ou 60 anos, o tema é mais controverso, porque há riscos associados às biópsias frequentes feitas para acompanhar a evolução. Se houver ao longo do monitoramento alguma alteração no comportamento da doença, como, por exemplo, o crescimento do tumor, será o momento de definir uma nova estratégia de tratamento, que pode envolver a cirurgia (com a possibilidade de técnicas minimamente invasivas, como a robótica), assim como a radioterapia ou a hormonioterapia, ou até mesmo uma combinação dessas opções.
O objetivo da vigilância ativa é, portanto, monitorar o comportamento e a evolução da doença e introduzir o tratamento no momento mais oportuno. Ela contribui para evitar tratamentos invasivos e que possam acarretar riscos e efeitos colaterais. Para o paciente, aconselho que, antes de iniciar qualquer tratamento, converse com o seu médico sobre os riscos e benefícios. Paralelamente, cabe aos uro-oncologistas e demais profissionais envolvidos no acompanhamento destes pacientes, orientá-los sobre as possibilidades de vigilância e tratamento ativo, de tal forma que a ansiedade e insegurança não sejam obstáculos para a decisão.
Fonte: O Globo