As doenças cardiovasculares são a principal causa de morte entre homens e mulheres nos Estados Unidos e no Brasil. Ainda assim, estudos mostram que elas são mais propensas a ignorar os sinais de alerta de um ataque cardíaco, às vezes esperando horas ou mais para procurar socorro.
Agora, os pesquisadores estão tentando descobrir o porquê. Eles constataram que as mulheres muitas vezes hesitam em buscar ajuda porque tendem a ter sintomas mais sutis do que os homens. E mesmo quando vão ao hospital, os profissionais de saúde são mais propensos a minimizar essas manifestações físicas ou atrasar o tratamento. Autoridades de saúde dizem que as doenças cardíacas nas mulheres continuam amplamente subdiagnostica- das, e que isso contribui para piores resultados e aumento das taxas de morte.
A maioria dos estudos sugere que uma das principais razões pelas quais as mulheres demoram a procurar atendimento —e muitas vezes são diagnosticadas incorretamente —é que, embora a dor ou desconforto no peito seja o sinal mais comum de infarto em ambos os sexos, elas muitas vezes não sentem esse alerta. Em vez disso, têm sintomas como falta de ar, suores frios, mal-estar, fadiga e dores na mandíbulae nas costas.
Um grupo de cientistas investigou os fatores que levam as mulheres a postergar a procura por atendimento. Eles descobriram que a ausência de dor ou desconforto no peito foi um dos principais motivos.
O estudo, publicado na revista Therapcutics and Clinicai Risk Management, analisou 218 homens e mulheres que sofreram infar- tos e foram tratados em quatro hospitais em Nova York antes da pandemia. Descobriu-se que 62% das mulheres não tinham dor ou desconforto no peito, em comparação com apenas 36% dos homens. Muitas relataram falta de ar, bem como sintomas gastrointestinais, como náusea e indigestão. Cerca de um quarto dos homens também relataram esses mesmo sintomas.
A pesquisa mostra que 72% das mulheres que tiveram um infarto esperaram mais de 90 minutos para ir ao hospital ou ligar para a emergência, em comparação com 54% dos homens. Pouco mais da metade das mulheres ligou para um parente ou amigo antes de ir a um hospital, em comparação com 36% dos homens.
PROBLEMA NO ATENDIMENTO
Um relatório da American Heart Association descobriu que os ataques cardíacos são mais mortais em mulheres que não apresentam dor no peito, em parte porque isso significa que pacientes e médicos levam mais tempo para identificar o problema.
Mas mesmo quando elas suspeitam que estão tendo um ataque cardíaco, ainda têm mais dificuldade em serem tratadas. Pesquisas mostram que as mulheres são mais propensas a serem informadas de que seus sintomas não estão relacionados a doenças cardiovasculares. Muitas delas ouvem que esses sinais estão todos em sua cabeça. Um estudo descobriu que mulheres que se queixavam de indícios consistentes de doenças cardíacas —incluindo dor no peito — tinham duas vezes mais chances de serem diagnosticadas com uma doença mental em comparação com homens com a mesma queixa.
Em um estudo publicado no Journal of the American Heart Association, pesquisadores analisaram dados de milhões de atendimentos de emergência antes da pandemia e descobriram que mulheres — especialmente as negras —que se queixaram de dor no peito tiveram que esperarem média 11 minutos a mais por atendimento do que homens. Ela também eram menos propensas a serem internadas, recebiam avaliações menos completas e tinham menos chances de fazer exames como eletro- cardiograma, que pode detectar problemas cardíacos.
Alexandra Lansky, cardiologista do I lospital Yale-New Haven, lembrou de uma paciente que havia procurado vários médicos reclamando de dor na mandíbula foi encaminhada a um dentista, que extraiu dois molares. Quando a dor não desapareceu, a mulher foi ver Lansky, que descobriu que o problema estava relacionado ao coração. A paciente precisou de uma ponte de safena.
MAIS JOVENS
Há uma falta de compreensão de que um ataque cardíaco não precisa causar dor no peito ou esses sintomas de filmes — disse Jacqueline Tamis-Holland, autora do estudo e cardiologista do Mount Sinai Morning- sideem Nova York.
Tamis-Holland disse que havia outras razões para os atrasos. Uma delas é que as mulheres não se consideram tão vulneráveis a doenças cardíacas e costumam achar que os sintomas são de estresse ou ansiedade. Elas também tendem a desenvolver problemas cardíacos em idades mais avançadas do que os homens. No estudo de Tamis-Holland, as mulheres que tiveram ataques cardíacos tinham, em média, 69 anos, enquanto a idade média dos homens era de 61.
Mas as mulheres mais jovens não são imunes. Estudos recentes descobriram que ataques cardíacos e mortes por doenças cardíacas estão aumentando entre as mulheres entre 35 e 54 anos, em parte devido ao au- mento de fatores de risco cardiometabólicos, como pressão alta eobesidade.
— Muitas mulheres jovens não acreditam que têm doenças cardíacas porque estas nunca foram rotuladas como doenças de mulheres jovens —disse Lansky. — Segundo, os sintomas nelas são ainda menos típicos. Há menos sensação de aperto no peito e mais indigestão, falta de ar, mal-estar, fadiga e náusea.
Especialistas pedem mais divulgação e educação sobre as doenças e seus sintomas.
Fonte: O Globo