AstraZeneca e Janssen são seguras, afirma Saúde

Últimas indicações de vacinas, que passam a ser recomendadas a faixa a partir de 40 anos, criou pânico nas redes sociais. Mas especialistas e autoridades dizem que efeitos adversos são raríssimos e revisão segue outros países

O que diz a mídia

O Ministério da Saúde e a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) se manifestaram em favor dos imunizantes AstraZeneca e Janssen depois de uma polêmica sobre possíveis efeitos colaterais envolvendo vacinas de vetor viral.

A pasta informou que continua a indicar e distribuir para estados e municípios os dois imunizantes contra a Covid-19. Em nota, negou o suposto abandono das vacinas que circula nas redes e explicou que elas são recomendadas para pessoas com mais de 40 anos, público com menor probabilidade de apresentar os efeitos adversos.

Em nota, a Anvisa reafirmou que todas as vacinas contra a Covid-19 aprovadas no país estão válidas e podem ser utilizadas para proteção do vírus. “Os benefícios das vacinas superam os possíveis riscos relacionados ao uso desses produtos”, defendeu a agência.

A controvérsia veio à tona depois que circulou na internet uma nota técnica do ministério, assinada no final do ano passado, pela antiga gestão, que alterava as recomendações de uso das vacinas contra a Covid-19 desenvolvidas com a tecnologia de vetor viral. Nela, a pasta passava a indicar os imunizantes da AstraZene- ca/Oxford e Janssen para a população acima dos 40 anos, com base em sua análise de risco na população.

A decisão foi baseada em um levantamento que apontou 98 casos com suspeita de trombose após as doses do imunizante contra a Covid-19 notificados no e-SUS até o dia 17 de setembro do ano passado em indivíduos com menos de 40 anos. Destes, 34 dos 40 considerados “prováveis ou confirmados” foram relacionados à AstraZeneca.

“As vacinas de vetor viral (que usam um vírus atenuado para entrar nas células) estão indicadas para uso na população a partir de 40 anos de idade e; em pessoas de 18 a 39 anos de idade, devem ser administradas preferencialmente vacinas Covid-19 da plataforma de RNAm (como a da Pfizer/BioNTe- chy\diz o documento.

EVENTOS RAROS

Especialistas ouvidos pelo GLOBO, no entanto, esclarecem que a incidência dos eventos adversos é raríssima, de 0,02 casos por 100 mil aplicações. Eles enfatizam ainda a importância do imunizante, da sua segurança e de seus benefícios.

— Observou-se que abaixo de 40 anos há um risco muito baixo de ter a trombose, são eventos raríssimos. No cenário de pandemia em que é preciso vacinar todo mundo, o benefício da proteção supera muito esse risco. Mas agora em que a pandemia melhorou e a doença está em baixa, e nós temos outra vacina que não causa evento adverso e é considerada mais eficaz, como a da Pfizer, vamos dar preferência a ela. Isso acontece o tempo todo, não é novo. Sempre que temos vacinas com melhor relação risco benefício nós substituímos —explica a epidemiologista Carla Domingues, ex-coordenadora do Programa Nacional de Imunizações (PN1) de 2011 a 2019.

O professor da Universidade Federal do Mato Grosso do Sul (UFMS) Julio Croda, também pesquisador da Fiocruz, concorda. E lembra que, embora seja um evento grave, o risco de uma trombose era muito maior pela infecção com a Co- vid-19 entre não vacinados do que pelo imunizante.

— O risco de você ter uma trombose ou morrer por Covid-19 era incrivelmente maior do que por qualquer vacina. Porque em cenários de baixa cobertura vacinai é mais frequente um evento grave consequente da doença do que qualquer um resultante da vacina. Mas no momento em que já há uma altíssima cobertura vacinai, e existe acesso a outros imunizantes sem esse risco, você pode analisar o cenário de forma diferente —avalia.

Croda lembra que a mudança na recomendação para pessoas com menos de 40 anos não é uma decisão nova, e que foi tomada seguindo exemplos de outros países. Porém, destaca que não deve causar pânico, pois tem caráter de precaução, já que existem outras doses no país que não oferecem esse risco (raro) de trombose:

— Não é nada fora do comum, não existe nenhuma novidade. O Brasil seguiu exemplos de países como Estados Unidos e Reino Unido, que dão preferência às outras vacinas. Isso está ganhando repercussão agora, mas já foi debatido, analisado, é algo comum na vacinação—afirma.

PRODUÇÃO NACIONAL

O Brasil, por meio da Fiocruz, produz uma versão da AstraZeneca 100% nacional, resultado de um acordo de transferência de tecnologia firmado em 2020. Doses fabricadas em solo brasileiro já foram entregues ao PNI e disponibilizadas à população.

Com as mudanças na recomendação sobre o imunizante no final do ano passado, surgiram dúvidas em relação à continuidade da produção do imunizante na Fiocruz. Em nota, o Ministério da Saúde esclareceu que a produção continua, e que o acordo segue valendo.

Fonte: O Globo.