Uma questão que pesquisadores do mundo inteiro debatem há anos é se alimentos ultraprocessados podem ser viciantes. Estudos já comprovam que para uma dieta saudável, afim de evitar riscos de doenças como diabetes ou cardiovasculares, eles são um dos principais inimigos. Entretanto, uma nova análise feita pela Universidade de Michigan e da Virginia Tech mostrou que eles podem ser viciantes, tanto quanto o vício que as pessoas tem no tabaco.
Os cientistas se basearam em critérios usados há mais de três décadas que estabeleceu como o tabaco era viciante e aplicou nos alimentos. Segundo eles, batatas fritas, biscoitos, refrigerantes e salgadinhos, atendem aos mesmos critérios usados para identificar o cigarro como substância viciante.
Ou seja, eles desencadeiam o uso compulsivo nas pessoas, onde elas são incapazes de parar ou reduzir o consumo, mesmo diante de doenças com risco de vida; eles podem mudar a maneira como nos sentimos e causar alterações no cérebro de magnitude semelhante à da nicotina nos produtos do tabaco; são altamente reforçados e desencadeiam desejos intensos em nós e no nosso organismo.
“Identificar que os produtos do tabaco eram viciantes realmente se resumia a esses quatro critérios, (que) resistiram a décadas de avaliação científica. Quando percebemos que os produtos de tabaco eram viciantes, percebemos que fumar não era apenas uma escolha adulta, mas que as pessoas estavam ficando viciadas e não conseguiam parar mesmo quando realmente queriam. A mesma coisa parece estar acontecendo com pessoas altamente alimentos processados e isso é particularmente preocupante porque as crianças são um dos principais alvos da publicidade desses produtos”, explica Ashley Gearhardt, professor associado de psicologia da Universidade de Michigan e principal autor do estudo.
Dietas pobres dominadas por alimentos altamente processados agora contribuem para mortes evitáveis no mesmo nível dos cigarros. Semelhante aos produtos do tabaco, a indústria de alimentos projeta seus alimentos altamente processados para serem intensamente recompensadores e difíceis de resistir.
A capacidade dos alimentos altamente processados de fornecer rapidamente altas doses não naturais de carboidratos refinados e gordura, segundo os pesquisadores, pode ser a chave para seu potencial viciante.
“É hora de parar de pensar em alimentos altamente processados apenas como alimentos, mas como substâncias altamente refinadas que podem ser viciantes”, disse Alexandra DiFeliceantonio, professora assistente do Fralin Biomedical Research Institute na Virginia Tech.
Mortes prematuras
Recentemente um estudo brasileiro feito por pesquisadores da USP (Universidade de São Paulo), da Fiocruz (Fundação Oswaldo Cruz), da Unifesp (Universidade Federal de São Paulo) e da Universidade de Santiago de Chile mostrou que a morte prematura de pessoas entre 30 e 69 anos estão associadas ao consumo excessivo de alimentos ultraprocessados.
Segundo a análise, são mais de 57 mil óbitos por ano relacionados a este motivo. O número supera o de mortes por homícidio (45,5 mil óbitos em 2019, segundo o Atlas da Violência).
Fonte: O Globo