Nos dias 12 e 13 de maio, a Associação Paulista de Medicina (APM) e a Sociedade Paulista de Medicina do Sono realizaram o XV Congresso Paulista de Medicina do Sono, no Maksoud Plaza. Maurício Bagnato, presidente do Congresso, abriu os trabalhos explicando que o evento é um espaço para os especialistas se atualizarem e conhecerem as práticas mais recentes na área.
“Gostaria de agradecer a presença dos médicos de todo o País que aqui estão, inclusive os acadêmicos e pós-graduandos, que estão sendo estimulados a participarem mais ativamente do campo da Medicina do Sono. Este congresso pretende difundir conhecimento e servir como um norteador relativo às tendências atuais da área”, afirmou Bagnato – que também ministrou uma palestra sobre o polêmico e importante assunto do uso de opióides.
A primeira mesa do dia, sobre “Doenças respiratórias do sono no adulto: overview”, reuniu os debatedores Sonia Togeiro, Luciana Palombini, George Pinheiro, Lia Bittencourt, Geraldo Lorenzi Filho, Emerson de Sousa e Castro e Luiz Eduardo Nery. Foram abordados, entre outros, assuntos como os distúrbios respiratórios do sono em doenças clínicas e a apneia central e respiração de Cheyne Stokes.
Na sequência, foram abordadas as “doenças respiratórias do sono no adulto”. Paulo Marcchiori, Sonia Togeiro, Maurício Bagnato, Luciano Drager e Fátima Cintra falaram sobre SAOS, miastenia gravis, hipoventilação-obesidade, doenças e arritmias cardíacas, opióides e apneias centrais e obstrutivas.
Ainda na sexta, o Congresso seguiu com a programação “Sono na Criança Obesa”, que tratou de temas como a influência do tempo de sono na obesidade e sonolência excessiva, por exemplo. Por fim, o encerramento do dia aconteceu com a mesa “Como eu faço diagnóstico e tratamento: opinião pessoal dos experts”. Neste espaço, Fernando Morgadinho Coelho, Gilmar Prado e Stella Tavares puderam transmitir um pouco de suas experiências profissionais aos presentes.
Medicina do Sono na residência
Alan Luiz Eckeli foi o responsável por conduzir a conferência especial “Panorama atual das residências em Medicina do Sono no Brasil”, que ocorreu durante o primeiro dia do evento. A apresentação do professor de Neurologia do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto (USP) foi dividida em quatro etapas: um breve histórico do treinamento na área; o momento atual e uma análise crítica; o futuro; e uma conclusão.
Para começar, Eckeli explicou que durante a década de 1980, os treinamentos em Medicina do Sono aconteciam somente no exterior. Na década seguinte, quando esses médicos que tiveram a oportunidade de ter contato com a área de atuação voltaram ao Brasil, passaram a replicar esse conhecimento. Sobretudo na segunda metade dos anos 1990. A partir de 2000, consolidaram-se os cursos de especialização nacionais e, em 2012, o Conselho Federal de Medicina reconheceu a Medicina do Sono como uma área de atuação, dando início à fase das residências.
O especialista prosseguiu com uma provocação: o Brasil tem médicos de sono em número suficiente? Hoje, só oferecem o programa de residência a Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), a Universidade Federal de Pernambuco (UFPE), a Universidade de São Paulo (USP) – tanto em seu campus paulistano quanto em Ribeirão Preto -, a Universidade Federal de São Paulo e o Hospital do Servidor Público Estadual (Iamspe). Todos os locais, somados, oferecem 20 vagas anuais.
“Considero o número de profissionais baixo. Quase 33% da população tem apneia obstrutiva, 10% insônia crônica e 6,4% doença de Willis-Ekbom. Em números brutos, são 67 milhões de pessoas com apneia obstrutiva, para se ter noção. E a nossa pirâmide está se invertendo. Considerando que a prevalência das patologias aumenta conforme a idade avança, precisaremos de ainda mais especialistas”, avaliou.
Eckeli, no entanto, mostrou que o Brasil já está enfrentando um problema pelo qual os Estados Unidos passaram: o não preenchimento total de vagas. Em sua avaliação, o conhecimento reduzido sobre a área e a expectativa de baixos ganhos financeiros são dois aspectos importantes nesta avaliação. “Os alunos tanto na graduação, quanto na especialização, são muito pouco expostos à Medicina do Sono.”
“Para o futuro, precisamos inserir a área durante a graduação, criar disciplinas, estimular as ligas universitárias sobre o tema e até mesmo oferecer cursos on-line para que os médicos a conheçam. Também podemos inserir os tópicos da Medicina do Sono no ensino das outras especialidades que são pré-requisitos para a graduação na nossa área. Precisamos pensar em como estimular o interesse dos jovens nesta área, com intercâmbios, estágios etc.”, exemplifica o professor.
De qualquer forma, Eckeli acredita que ainda estão sendo colhidos hoje os frutos da semente plantada em 2012. Ele afirma já ter percebido que os profissionais que passam mais de um ano expostos à Medicina do Sono, seja porque continuam no treinamento ou porque engatam um mestrado no tema, se tornam especialistas mais completos. “Observando isso, prevejo que o caminho natural de nossa área de atuação seja virar uma especialidade, tendo uma Residência Médica com duração de dois anos.”
Novidades
No sábado (13), O Congresso seguiu com as mesas “Temas controversos na insônia” – com os especialistas Luciano Ribeiro Pinto Junior, Alexandre Azevedo, Rosa Hasan, Israel Pompeu Brasil e Leonardo Ierardi Goulart; “Sono no paciente grave”, com Álvaro Pentagna, Carlos Maurício, Fernando Morgadinho S. Coelho, e Leila Azevedo; e “Ciurgias e SAOS”, com Fernanda Haddad, Luiz Carlos Ishida, Rodrigo Tangerina e Edilson Zancanella.
Houve, também, o ciclo de conferências “Sono na mulher”, que discutiu temas como a Neurofisiologia do sono ao longo da vida e a apneia na mulher, além da insônia, da menopausa e do tratamento dos transtornos do sono na gestação. Participaram os especialistas Soubhi Kahhale, Álvaro Pentagna, Franco Chies Martins, Helena Hachul e João Guilherme Gallinaro.
O XV Congresso Paulista de Medicina do Sono teve o patrocínio das empresas NewMed, Vivisol, Audibel, Cpap&terapia, Drive, EMS, Fisher&Paykel, iCelera, Lumiar, Meditron, Moriya, Mundialtec, Neurotec, Neurovirtual e Respirox.
Fotos: Marina Bustos/Osmar Bustos