Webinar da APM tem como tema a dependência de álcool e outras drogas

Para ministrar as palestras, foram convidados os psiquiatras André Malbergier e Arthur Guerra

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A Associação Paulista de Medicina realizou, na última quarta-feira, 22 de novembro, mais uma edição dos seus tradicionais webinars, tendo como tema abordado a dependência de álcool e outras drogas. O presidente da APM, José Luiz Gomes do Amaral, foi o responsável pela apresentação do encontro, contando com o auxílio do diretor Científico da APM, Paulo Pêgo, como moderador. Para ministrar as palestras, foram convidados os psiquiatras André Malbergier e Arthur Guerra.

“Gostaria de acrescentar que, se nós, nos próximos 10 anos, dedicássemos mais atenção à saúde mental, certamente não deixaríamos a mesma lacuna dos anos passados. A saúde mental, hoje reconhecida, foi negligenciada durante muito tempo. Agora, estamos acordando e começando a entender este fenômeno como uma prioridade na atenção à Saúde. Dentro deste campo, o uso de álcool e outras drogas tem sido relevante. Por isso, acho importante essa série de debates sobre o tema que a APM vem trazendo”, iniciou Amaral.

Consumo de drogas na população idosa

André Malbergier considera que abordar o tópico consumo de drogas correlacionado especificamente à população idosa é algo importante, pois, cada vez mais, a população envelhece. Segundo ele, as populações idosas, hoje, são majoritariamente compostas por baby boomers, pessoas nascidas logo depois da Segunda Guerra Mundial, hipsters e adeptos à contracultura, que consumiam drogas de forma excessiva, e alguns até continuaram consumindo ao longo da vida.

“Um artigo de 2019, publicado no Jornal Brasileiro de Psiquiatria, mostrou que houve uma certa estabilidade nas internações devido ao consumo de álcool, mas um aumento nas internações pelo uso de outras drogas. E entre essas pessoas que foram internadas, há um destaque para os idosos – que começam a ser frequentemente internados por motivos de uso de drogas. Mas, no Brasil, há poucos dados que investiguem isso afundo”, explicou o especialista.

Pesquisas realizadas nos Estados Unidos, expostas por ele durante a palestra, mostraram que, embora o uso de drogas diminua após a idade adulta jovem, quase 1 milhão de adultos com 65 anos ou mais vivem com pelo menos um transtorno de uso de substâncias. O estudo afirma ainda que apesar de o número de internações por uso de substâncias em instalações de tratamento tenham se mantido estáveis entre 2000 e 2012, a proporção de adultos mais velhos aumentou de 3,4% para 7% durante o mesmo período.

“Outra coisa que acho importante é que, se olharmos os dados com relação ao tabagismo nos Estados Unidos, é possível notar que houve uma diminuição importante dos fumantes na população mais jovem, e a população mais velha se manteve estável em relação ao consumo de tabaco. A droga que tem chamado mais atenção para estas pessoas, entre as ilícitas, é a cannabis; o consumo entre os indivíduos com mais de 50 anos aumentou significativamente, ultrapassando algumas projeções”, acrescentou Malbergier.

Para o psiquiatra, o uso de substâncias desencadeia grandes riscos, como a diminuição da capacidade de processamento da droga pelo fígado e aumento da permeabilidade da barreira hematoencefálica e da sensibilidade dos receptores neurais, gerando impacto nas atividades instrumentais de vida diária, além de aumento da taxa de comorbidades médicas e condições psiquiátricas.

André Malbergier

Prevenções e cuidados

Em um cenário geral, Arthur Guerra apontou possíveis intervenções viáveis para o combate à utilização do álcool e de outras drogas. Segundo ele, o tratamento farmacológico é sempre visto como uma esperança na diminuição de vícios. No entanto, uma revisão sistemática (que analisou 118 ensaios clínicos, totalizando 20.900 pacientes) apresentada chegou à conclusão de que apenas dois medicamentos são apoiados para finalidade terapêutica. O estudo também divulga a importância de intervenções psicossociais.

“Nós temos um modelo chamado de ‘Psiquiatria de estilo de vida’ que tem como principais metas a abstinência ou redução no uso das substâncias, redução na frequência e gravidades das recaídas, melhoria no funcionamento psicológico e social, criação de habilidade para prevenção de recaídas e a motivação para novos hábitos”, destacou o psiquiatra.

De acordo com ele, este método tem como principal objetivo a prevenção de possíveis doenças antes que elas cheguem em um quadro mais grave. Prevenir os transtornos por uso de álcool ainda é um grande desafio, por isso, cabe aos profissionais responsáveis pelos tratamentos dos indivíduos manterem os pacientes ligados ao tratamento, promovendo a ideia de um estilo de vida antagônico ao consumo de substâncias nocivas e, desta forma, tentando identificar a melhor intervenção individualizada e otimizada.

“Atualmente, nós possuímos inúmeras possibilidades e oportunidades de sucesso nos tratamentos, principalmente por causa das novas tecnologias. A inteligência artificial, por exemplo, consegue identificar preditores de recuperação ou recaída em grandes ganchos de dados, assim como a realidade virtual também pode auxiliar na terapia de exposição em ambientes controlados, como em hospitais, com a qual simulamos uma situação em que a pessoa seja induzida a beber para avaliar a reação”, concluiu o palestrante.

Arthur Guerra

Fotos: Reprodução Webinar