Desde 1987, em 31 de maio é celebrado o Dia Mundial sem Tabaco. Por conta disso, a Associação Paulista de Medicina promoveu um webinar na última quarta-feira para debater o tema. O encontro foi apresentado pelo diretor Científico da APM, Paulo Pêgo, com moderação do professor de Pneumologia da Escola Paulista de Medicina/Unifesp, José Roberto Jardim.
O presidente da Associação, José Luiz Gomes do Amaral, fez uma breve participação no encontro, que reuniu grandes expoentes do tema: “O tabaco é a causa de óbito evitável mais relevante da atualidade, responsável pela morte de mais de 8 milhões de pessoas todos os anos. Ainda que o tabagismo tenha diminuído consideravelmente em muitos países, principalmente no Brasil, este é um problema que precisa ser duramente combatido, sobretudo pelo crescimento recente de dispositivos eletrônicos para fumar. Portanto, conclamo todos para participarem dessa luta contra o tabagismo”.
Os apresentadores do evento, Pêgo e Jardim, introduziram os temas que seriam abordados pelos palestrantes da noite: Vera Luiza Costa e Silva, pneumologista, falou sobre a epidemiologia de tabaco nacional e global; Ricardo Meirelles, pneumologista e coordenador da Comissão do Combate ao Tabagismo da AMB, destacou pontos importantes sobre o tratamento do INCA; e Jaqueline Scholz, professora da USP e diretora do Programa de Tratamento do Tabagismo no InCor, palestrou sobre cigarros eletrônicos.
Panorama global do tabagismo
Vera Luiza considera o tabagismo como um problema grave de saúde pública. De acordo com estudos internacionais apresentados por ela, é reconhecido como uma doença crônica causada pela dependência da nicotina, integrando o grupo de transtornos mentais, comportamentais e do neurodesenvolvimento.
Reforçou ainda que este é um problema que pode ser evitado, dando ênfase à fala do presidente da APM. “É necessário lembrar que a sociedade, de alguma maneira, mantém esse produto no mercado, seja através da oferta e da demanda ou do trabalho ardiloso da indústria, fazendo com que novos consumidores surjam a cada ano, infelizmente captando até crianças e adolescentes.”
Segundo dados apresentados pela especialista, a prevalência do uso do tabaco no mundo está caindo, por conta das políticas de controle que vêm sendo adotadas globalmente. Nos anos 2000, 50% da população sulista do continente asiático era fumante, e em 2025 a estimativa é que este percentual fique em pouco menos de 30%. Já no continente americano, o quadro que era de aproximadamente 28%, atualmente encontra-se com pouco menos de 20%.
“No Brasil, a situação é diferente se comparado com o índice mundial, pois tivemos uma queda no percentual de fumantes a partir do desenvolvimento da política nacional de controle do tabagismo, de 35% em 1989 para 13% em 2019”, salientou Vera Luiza.
Em seguida, mostrou o cenário de mortalidade no País: “Apesar de as políticas do Brasil se mostrarem como uma das mais eficientes do mundo, o número de mortes ainda é muito alto. Por ano, são cerca de 156 mil pessoas, o que equivale a 4,2 milhões de anos de vida perdidos anualmente”, finalizou.
Tratamentos
Na sequência, Ricardo Meirelles explicou como a nicotina age no organismo humano e como a droga, nos anos 1960 e 1970, era considerada um estilo de vida e passou a ser vista como uma doença nas décadas seguintes.
O pneumologista ressalta que os principais componentes da dependência ao tabaco são os fatores fisiológicos e psicológicos, sendo essa uma das drogas que mais induzem ao vício: “A nicotina tem uma capacidade muito grande de gerar dependência. Depois de uma tragada no cigarro, o componente irá chegar no cérebro em mais ou menos 15 segundos, liberando substâncias químicas que provocam uma sensação de prazer e bem-estar”, esclareceu.
Conforme Meirelles, o foco principal para o tratamento contra o tabagismo é a detecção de riscos que levam o indivíduo a fumar e, a partir disso, fornecer a ajuda necessária para que o fumante encare a prática como algo negativo, que dá uma falsa sensação de prazer e apenas o prejudica. Para ele, a mudança de hábitos é a maior aliada para o tratamento e combate ao vício, ou seja, ocupar a mente com outras atividades nos momentos em que surge o desejo de usar a substância é a recomendação.
“Utilizar um adesivo de nicotina com uma liberação lenta, podendo aumentar a dose a depender do número de cigarros por dia, associado à goma/pastilha para inibir a vontade de fumar, são métodos eficazes para o tratamento. Este também é o procedimento utilizado pelo Instituto Nacional de Câncer e pelo SUS atualmente”, pontuou o médico.
Cigarro eletrônico
Em paralelo aos demais palestrantes, Jaqueline Scholz frisou o alto risco que o tabaco apresenta para a população, sendo o causador de inúmeras doenças respiratórias e câncer. Em especial o cigarro eletrônico, que para a professora é uma das maiores preocupações atualmente.
“Chamo a atenção para este produto, porque estudos apontam que o soro coletado de pacientes que eram usuários de cigarros eletrônicos das marcas mais famosas dos Estados Unidos indicava oxidação e alta inflamação no sangue”, alertou.
Os dispositivos eletrônicos para fumar trouxeram novos acometimentos para a comunidade que o utiliza, por exemplo câncer de pele e problemas na tireoide, não relacionados ao tabagismo convencional. Segundo ela, estes aparelhos trouxeram muitos desafios para a Medicina e precisam ser combatidos: “Ouço e vivo tratando de fumantes, e todos que param se dizem muito felizes em abandonar o hábito”.
Imagens: Reprodução Webinar APM