A Associação Paulista de Medicina, em parceria com a Associação Médica Brasileira (AMB), realizou, na última quarta-feira (8), mais uma edição de seus tradicionais webinars. O tema abordado foi “Qual será o futuro da residência médica e dos mais de 500.000 generalistas na próxima década?”.
O evento teve como palestrante convidada a secretária-executiva da Comissão Nacional de Residência Médica (CNRM), Viviane Peterle e contou com a moderação da diretora Científica da APM, Marianne Yumi Nakai, e apresentação do presidente da entidade, Antonio José Gonçalves.
Contexto
Gonçalves abriu o evento lembrando que este é um assunto que vem sendo muito debatido nas últimas semanas por causa da publicação do decreto que modifica a composição da CNRM. Em seguida, Marianne alertou para a importância do assunto em questão.
De acordo com Gonçalves, o Brasil forma mais de 50 mil médicos por ano, o que é considerado preocupante para a Medicina do País, principalmente por conta da falta de vagas para residência médica. “Isso irá causar um impacto muito grande, pois a residência é um passo muito importante na formação médica. Faz com que o profissional adquira responsabilidade e cresça”, alerta.
O presidente da APM ainda acrescentou que, de certa maneira, há algumas tentativas governamentais de aumentar o número de residências médicas, no entanto, persistem preocupações em torno da qualidade necessária para isso. “Não adianta abrirem vagas em residência médica como abriram as escolas médicas, de maneira absolutamente equivocada”, pontuou.
Cenário
Conforme dados apresentados por Viviane Peterle, nem todos os concluintes da graduação optam por realizar imediatamente a residência médica. “Nos últimos dez anos, a proporção média de ingressantes de R1 foi de 74,5% do total de egressos dos cursos de Medicina”, destacou.
Proporções de 2019 apresentadas pela palestrante mostram que o Distrito Federal é onde há mais médicos se especializando. Naquele ano, havia 20,24 médicos residentes por 100 mil habitantes, seguido por São Paulo (16,74), Rio Grande do Sul (15,32) e Rio de Janeiro (14,66).
“É interessante olharmos atentamente para a política de abertura de escolas médicas, principalmente a partir da intencionalidade governamental feita pelo Ministério da Educação, que objetiva atingir ou formar profissionais para o atendimento à população. Então, começamos a ver um processo maior no campo da esfera privada, visto que cursar Medicina em nosso País não é acessível”, explicou.
A profissional salienta que, caso as esferas públicas levem adiante os argumentos de acesso ao Ensino Superior e à formação profissional, é necessária a expansão da rede pública de ensino e das políticas de acesso, em vez da permissão da abertura exacerbada de cursos em instituições privadas.
Analisando dados do Ministério da Saúde, a especialista destacou o aumento da procura por vagas na área médica, mas também a persistente ociosidade em alguns cursos de Medicina. A alta concorrência nos vestibulares para Medicina contrasta com a expansão recente de vagas, sinalizando um cenário complexo.
Segundo a secretária-executiva da CNRM, a influência da mídia na percepção da profissão médica é um dos fatores que tem aumentado desde o início do século. A especialista aponta para o impacto dos programas televisivos na idealização da carreira médica, muitas vezes romantizada e empolgante na tela.
Seguindo essa linha de raciocínio, Viviane alertou que “com o tempo, o profissional verá que aquela carreira idealizada que ele viu nos seriados de televisão tem um custo elevadíssimo, então é algo que nós também temos que debater.”
Fotos: Reprodução Webinar APM