A Associação Paulista de Medicina realizou, na última quarta-feira (1), mais uma edição de seus webinars, sobre Segurança do Paciente. O diretor de Economia Médica e Saúde Baseada em Evidências da entidade, Álvaro Nagib Atallah, foi o apresentador do evento, destacando a importância de se discutir a segurança do paciente no contexto da Saúde no Brasil. E o diretor adjunto da área, Paulo De Conti, foi o moderador.
Lucas Santos Zambon, diretor Científico do Instituto Brasileiro para Segurança do Paciente (IBSP), iniciou as apresentações, falando sobre “Segurança do Paciente nas Organizações de Saúde/Novas formas de pensar e agir”. Conforme ressaltou, a segurança do paciente é um assunto que ganhou muita força nas últimas duas décadas no setor de Saúde, passando por reformulações a respeito da sua definição e sendo classificada pela Organização Mundial da Saúde (OMS) como uma estrutura de atividade, ou seja, facilitando o envolvimento e a criação de cultura organizacional, além de direcionar os procedimentos, comportamentos das pessoas, desenvolvimento de tecnologias e ambientes de cuidado em Saúde.
“Tudo isso foi pensado para a redução de riscos de forma consistente e sustentável, buscando também reduzir aquilo que a gente chama de eventos adversos. Nada mais são do que danos potencialmente evitáveis e que acontecem, não por maleficência, mas porque existe uma série de fatores dentro do sistema de Saúde que acaba favorecendo para que aconteçam. Resumindo, a segurança do paciente significa uma gestão de risco”, explicou.
Contexto histórico
Zambon elucidou sobre alguns pontos fundamentais da História da Medicina, relembrando que as abordagens que acercam a segurança dos pacientes existem, aproximadamente, desde a era de Hipócrates, ganhando força a partir da amplificação da capacidade de intervenção do médico. Além disso, outro ponto de partida substancialmente importante ocorreu após a metade da década de 1940, no contexto de pós-guerra, com o descobrimento de novos medicamentos e o desenvolvimento de procedimentos e tecnologias dentro da área médica.
O palestrante indicou que a virada do século XX para o século XXI foi crucial para a questão da segurança do paciente, de modo que o assunto passou a ganhar muito mais força no âmbito da Saúde. Não obstante, também houve a ascensão da tecnologia, fato que “é uma vantagem, ao mesmo tempo que se identifica como uma desvantagem para a Medicina, visto que ela está sendo apenas incorporada, e não pensada em método para aposentar práticas antigas – que, em determinados momentos, podem ser desnecessariamente arriscadas para os pacientes”.
“A OMS lançou um grande plano de ação voltado para as instituições de Saúde no intuito de alcançar um nível mais consistente de proteção ao paciente. Esse plano é extenso e tem sete grandes objetivos estratégicos. A segurança do paciente vem conseguindo instalar ações, melhorias e inovações, uma delas é que a própria tecnologia avançou também no sentido de melhorar o tema que estamos tratando. Por exemplo, procedimentos que eram feitos com o paciente aberto e hoje conseguem ser feitos com o paciente fechado, indicando menos riscos”, esclareceu o especialista.
Conforme o diretor do IBSP, o que torna um ambiente suscetível a acidentes não é a complexidade da atividade, e sim o sistema altamente acoplado, em que uma parte depende muito da outra. “Um paciente complexo em uma UTI depende da atividade do médico, do enfermeiro, do fisioterapeuta, do farmacêutico, do técnico de enfermagem, da gestão hospitalar, da limpeza, do técnico de radiologia etc.”, exemplificou, ressaltando que, eventualmente, há erros que podem acontecer neste processo, sendo necessário entendê-los, em de culpabilizar alguém em específico.
Pensando em maneiras de transformar a Medicina e a Saúde em setores de alta confiabilidade, o palestrante discorreu sobre o que é preciso fazer para que isso aconteça. “A primeira coisa é esse reconhecimento e preocupação com as falhas, porque é uma atividade de alto risco. É preciso entender que o que a gente promove é profundamente arriscado. Cuidar de um paciente é algo muito complexo e repleto de riscos que podem acontecer, não porque a gente quer, mas porque estão ali no nosso entorno.”
A importância da comunicação
Em seguida, a pediatra Laura Maria Cesar Schiesari abordou “Eventos Adversos de Comunicação em Serviços de Saúde”, destacando a importância de se comunicar com o paciente de maneira clara e honesta. De acordo com ela, a comunicação é um setor que vem sendo banalizado nos últimos tempos, mas é essencial para todos os setores.
A médica ainda enfatizou que algumas instituições têm dificuldades em lidar com o que é proposto pela OMS em termos de segurança do paciente. “São as famosas Metas Internacionais de Segurança do Paciente, conhecidas por boa parte dos profissionais de Saúde. Pelo menos a metade delas tem a ver com comunicação. Assim que isso chegou no Brasil, passou a ser uma realidade nos ambientes hospitalares, ficando muito focada na ideia da ordem verbal telefônica, da prescrição de um medicamento, do médico estando a distância. Somente nos últimos anos passou a ser visto de uma forma mais abrangente. A identificação correta do paciente envolve a comunicação, então a gente tem que conversar com ele, buscar entendê-lo e respeitá-lo”, indicou.
A especialista demonstrou que a OMS traz uma série de soluções que englobam os efeitos adversos relacionados ao cuidado, dando ênfase na comunicação, além da resposta ao reconhecimento da relevância dos eventos adversos. Nesse sentido, houve o lançamento da Classificação Internacional Para a Segurança do Paciente, identificando a necessidade de se conhecer melhor estes eventos para saber de que maneira lidar quando surgirem.
“O trabalho em equipe, talvez, seja o aspecto mais importante para a gente desenvolver nas nossas organizações se quisermos ter um cuidado seguro. É importante transmitir os casos entre serviços e organizações, por exemplo, o prontuário é o nosso meio de comunicação, é por meio da prescrição que o profissional médico está se manifestando e é isso o que chega para a enfermagem e para a equipe multidisciplinar, para ser feito um trabalho junto ao paciente”, evidenciou.
A apresentação de Laura Schiesari contribuiu também para observar que atualmente há um grande conhecimento a respeito de como informar e estar em contato com o paciente. Isso colabora para que o profissional de Saúde entenda o que será falado e como a informação será apresentada, de que maneira irá afetar o receptor da mensagem, relembrando que tal elo não se restringe apenas ao paciente, mas também às equipes que vão estar relacionadas a ele.
“Tem coisas que a gente usa muito na segurança dos pacientes. Por exemplo, na ocorrência de um evento adverso, é muito importante que a equipe responsável por aquele caso sente com o paciente e com a família e explique o que aconteceu, mostrando que algo tem sido feito, de modo que o paciente e a família possam apurar essa discussão e também tenham direito a acessar as informações, confiando nos profissionais”, indicou.
Segundo a profissional, umas das maneiras de acompanhar a evolução da cultura de segurança nas organizações é através de pesquisas. Ela encerrou a apresentação acentuando a importância da comunicação entre médico e paciente. “Se a gente não tem confiança para trabalhar em uma determinada organização, as chances de prestar um cuidado menos seguro é grande. É muito importante a conduta médica ser compartilhada, para que o cuidado seja efetivo. A gente precisa antecipar métodos e problemas. A comunicação é uma habilidade que deve ser desenvolvida ao longo da formação do profissional.” Perdeu algum dos nossos webinars passados? Acesse a playlist completa aqui