As Regionais da Associação Paulista de Medicina participaram em peso do IV Encontro de Líderes da entidade, realizado entre os dias 23 e 25 de setembro, na cidade de São Pedro (SP). Na sexta, o evento teve início com uma breve abertura conduzida pelo presidente da APM, José Luiz Gomes do Amaral.
“Essa é uma confraternização que estamos esperando há muito tempo. Em função da pandemia, fomos obrigados a manter um afastamento físico muito penoso nos últimos dois anos. Agora, a cada reencontro é uma sensação de felicidade, como se fôssemos sobreviventes de uma tormenta, um naufrágio, que nos encontramos na praia, cansados, mas sobreviventes. Todos ainda perdemos pessoas muito queridas nessa tempestade, portanto, sempre é momento de reverenciarmos aqueles que partiram e que gostaríamos que estivessem aqui conosco. Por nós e por eles continuamos levando adiante o nosso vínculo de amizade e respeito, e os objetivos comuns para construir uma Saúde melhor para as pessoas”, declarou Amaral.
A programação do sábado começou com palestra de José de Jesus Camargo Peixoto, pioneiro em transplante de pulmão no Brasil e na América Latina, responsável por metade dos procedimentos feitos até hoje no País. Membro titular e atual vice-presidente da Academia Nacional de Medicina, ele falou sobre ‘A Medicina na era da Tecnologia’.
“A Medicina avançou no meu tempo de vida mais do que em toda a história da humanidade. Em algumas áreas, esse avanço é tão frequente e intenso que é possível se desatualizar em dois ou três anos. O projeto genoma, que se completou muito recentemente, nos permitirá com certeza, em um futuro muito próximo, não só tratar, mas prevenir as doenças geneticamente envolvidas”, relembrou.
Medicina humanizada
Apesar de todas as conquistas, Camargo enfatizou ser difícil explicar sem constrangimento porque os pacientes idosos, com tanta frequência, falam com nostalgia dos médicos de antigamente. De acordo com ele, em algum lugar os colegas perderam a conexão, basicamente quando não percebem que os sentimentos dos pacientes não se modificaram, são os mesmos há séculos e séculos, as mesmas fantasias de morte e o mesmo medo do desconhecido.
“Nunca tivemos tantas queixas, denúncias e demandas judiciais. O deslumbramento médico com a tecnologia explica em grande parte o distanciamento que já vinha se processando entre eles e os pacientes. O afeto está nos detalhes, acho isso uma coisa óbvia, mas a maioria dos colegas parece não perceber. A incapacidade de ouvir é uma praga da Medicina moderna. Existem várias pesquisas que dizem que menos de 15 segundos é o tempo decorrido entre o início do depoimento do paciente e a primeira interrupção do médico. Isso explica porque, às vezes, é preciso três ou quatro consultas para que finalmente se entenda o que o paciente considera causa de seu sofrimento”, destacou o palestrante.
Conforme o titular da ANM, contabilizar as manifestações de gratidão é uma maneira de monitorar a qualidade do trabalho: “Trabalhando como médico, uma semana sem nenhum ‘muito obrigado, doutor’ significa luz amarela. Duas semanas, você precisa de terapia, porque a Medicina é a maior usina de gratidão que alguém pode experimentar. A falta de gratidão indica que tem alguma coisa muito séria com o médico”.
Em resumo, o especialista declarou ser impossível ensinar alguém que não gosta de gente a ser médico e atuar diretamente com os pacientes. “Essa é uma condição tão básica que é melhor nem tentar. Se não gostar de gente, não está proibido de ser médico, mas está proibido de ficar na linha de frente e se expor a pessoas. Ninguém merece um médico que deixa transparecer no primeiro contato que não tem empatia nenhuma. Por conta disso, as melhores escolas médicas estão incluindo no currículo disciplinas de humanidades.”
Serviços APM
Na sequência, foram apresentados de forma resumida os serviços e benefícios oferecidos aos associados, pelo superintendente de Estratégia e Marketing da APM, Jorge Assumpção. O gerente da Unicred, André Gonçalves dos Santos, detalhou a parceria com a Associação no segmento financeiro, e o coordenador da empresa Lado Ah Lado, Daniel Nascimento, falou sobre a comercialização, conciergeria e apoio regulatório dos planos de saúde oferecidos aos médicos.
O diretor de Defesa Profissional da Associação Paulista de Medicina, Marun David Cury, destacou as ações desenvolvidas nos últimos dois anos em prol da classe médica – a exemplo das conquistas em relação ao ICMS no estado de São Paulo e ao ISS na capital paulista, além da manutenção de comissão permanente de negociação com os planos de saúde e de diversas reuniões com os representantes da APM em todo o estado, por meio das 14 diretorias Distritais.
A transformação do clube de campo da APM em Hotel Fazenda foi apresentada pelo diretor Social da entidade, Alfredo de Freitas Santos Filho. Ele lembrou o estudo de viabilidade hoteleira realizado, para curto e longo prazos, a ampliação do atendimento, a revisão das normas e procedimentos internos, a reestruturação dos sistemas e da área administrativa, além das melhorias em muitos espaços do local.
O diretor Administrativo da Associação, Florisval Meinão, apresentou em seguida o projeto do Resort APM – que será construído no atual espaço do camping do Hotel Fazenda. Meinão contou um pouco sobre as reuniões com autoridades do Turismo para viabilizar a proposta e sobre o modelo de multipropriedade que será proposto para o negócio, além de ter mostrado os conceitos arquitetônicos para as unidades habitacionais e centro de convenções.
Encerrando o bloco da manhã, o presidente da APM falou sobre o Instituto de Ensino Superior da instituição: “O IESAPM é voltado à Saúde, mas não é uma escola médica. Temos tantas escolas médicas no País que não faria sentido acrescentar mais uma a esse espaço. Porém, na área da Saúde, há muitíssimo o que se fazer. O edifício e a estrutura da nossa Associação foram adaptados para cumprir as exigências do MEC e já estamos com a primeira turma do curso superior de Tecnologia em Gestão Hospitalar. Temos ainda vários cursos de extensão, alguns deles voltados aos colegas, como os modulares de Telemedicina e de teleconsulta para as especialidades”.
Palestras e espaço das Regionais
Ainda no sábado, as atividades da tarde tiveram início com palestra de Haino Burmester – médico especialista em Administração em Saúde e um dos criadores do Programa Compromisso com a Qualidade Hospitalar – sobre liderança. Entre outros pontos, ele abordou temas relativos à governança corporativa, gestão de riscos, negociação, comunicação, poder, cultura organizacional, competências dos líderes e modelos mentais.
Depois, foi a vez dos representantes das Regionais da APM contarem um pouco de suas experiências nos últimos anos e projetos bem-sucedidos. O espaço, conduzido pelo secretário geral da Associação, Paulo Cezar Mariani, teve a participação de 16 Regionais: Americana (Renato Monteiro), Araraquara (Sidney Antonio Mazzi), Botucatu (Pedro Tadheu Galvão Vianna), Campinas (Fátima Ferreira Bastos), Catanduva (Renato Eugênio Macchione), Franca (Renato Tadeu Barufi), Guarujá (Edemilson Cavalheiro), Jales (Leonardo Pereira Ramiro), Piracicaba (Maria Inês Onuchic Schultz), Presidente Prudente (Juliana Kuhn Medina), Ribeirão Preto (Fabio Gonçalves da Luz), Santos (Antônio Joaquim Ferreira Leal), São Bernardo do Campo (Thereza Christina Machado de Godoy), São José dos Campos (Othon Mercadante Becker), Sorocaba (Eduardo Luis Cruells Vieira) e Taubaté (Luciana da Cruz Noia), além do diretor da 7ª Distrital, Marcos Cabello dos Santos.
No domingo, os participantes do IV Encontro de Líderes da APM puderam assistir à palestra interativa de Fernando Arbache, consultor independente de Educação pelo MIT e professor de grandes instituições brasileiras. Como o mercado está, incertezas e dúvidas a respeito do futuro, como olhar o mercado da Saúde e por que devemos nos unir foram os tópicos principais da conversa com os representantes da Associação.
O especialista mencionou como as big techs estão se tornando maiores que países, as correlações com a Saúde, inovação digital e competências chaves para o sucesso de um time, entre outros pontos. E deixou reflexões importantes aos médicos, por exemplo ao citar afirmação de Alvin Toffler no livro O choque do futuro: “O analfabeto do século XXI não será aquele que não consegue ler e escrever, mas aquele que não consegue aprender, desaprender e reaprender”.
Por fim, José Luiz Gomes do Amaral agradeceu a presença de todos. “O sucesso deste evento depende da presença e da participação de cada um de vocês, portanto, muitíssimo obrigado a todos, por tudo que vêm fazendo em prol do associativismo e por tudo que contribuíram nesta reunião. Deste momento para a frente, a Associação Paulista de Medicina vai buscar as transformações necessárias, e nós temos aqui a motivação para fazê-lo.”
Texto e fotos: Giovanna Rodrigues