Presidente da APM fala ao Jornal da Record News sobre aumento do número de médicos

Qualidade do ensino e má distribuição dos profissionais pelo Brasil foram tópicos abordados

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Entre 2019 e 2023, o Brasil registrou um aumento de 23,6% no número de médicos formados no País, conforme demonstra o levantamento síntese dos indicadores sociais do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). A pesquisa também aponta que há uma má distribuição desses profissionais, que se concentram nas regiões Sudeste, Sul e Centro-Oeste e que, para que todas as regiões tivessem o índice adequado de médicos por habitantes, seria necessário redistribuir por volta de 64 mil profissionais.

Para falar sobre a problemática, o presidente da Associação Paulista de Medicina, Antonio José Gonçalves, foi entrevistado pelo Jornal da Record News na noite da última quarta-feira, 4 de dezembro. Segundo o médico, o problema que o Brasil enfrenta não é a insuficiência de profissionais, mas sim, má qualidade da formação.

“Nós estamos brigando para que ocorra uma melhora na qualidade e por um exame de proficiência, nos mesmos moldes que é feito com os advogados, e para dar uma carreira de Estado ao médico. Nós estamos vivendo esse crescimento desordenado de escolas médicas, não há tempo de formar docentes para isso, a carreira médica é bastante complexa, em termos de ensinamento, nós precisamos de hospitais e de supervisão contínua dos docentes para os alunos e isso nós não temos na maior parte das faculdades que foram abertas recentemente”, relembrou.

Durante a entrevista, o presidente da APM também salientou a incongruência de haver tantas escolas de Medicina abertas no País. “O número de faculdades de Medicina, de 2012 para cá, mais que dobrou. Hoje, nós temos no nosso país por volta de 400 delas, enquanto nos Estados Unidos há somente 148 – e eles têm o dobro da nossa população. Então, nesses últimos 12 anos, a qualidade caiu de uma maneira muito significativa.”

Sobre o exame de proficiência e a carreira de Estado para os médicos, Gonçalves pontuou que, atualmente, existem dois projetos em tramitação no Senado, um de autoria do senador astronauta Marcos Pontes (PL) e o outro de autoria do senador Randolfe Rodrigues (PT).

Políticas públicas

Para Antonio Gonçalves, é fundamental o desenvolvimento de programas responsáveis que descentralizem o médico e que forneçam infraestrutura e um local adequado para que possam atender nas regiões mais remotas. “Se você pegar médicos que se formam no Acre, por exemplo, mais da metade deles acaba voltando para os grandes centros depois de terminar a faculdade.”

O médico destacou que a Associação Paulista de Medicina e a Associação Médica Brasileira podem auxiliar no desenvolvimento de iniciativas que visem a interiorização do médico e, consequentemente, auxiliem a cessar a má distribuição de profissionais, contribuindo para que haja assistência de qualidade para toda a população.

“A distribuição é totalmente absurda e precisa ser corrigida de alguma maneira, mas não com programas populistas, como o Mais Médicos, em que, muitas vezes, não há revalidação do diploma. Este é outro ponto, tem que haver o Revalida, para que possamos ter a nossa população assistida por médicos minimamente competentes e que tenham passado no nosso exame de revalidação do diploma – prova que tem o índice de aprovação por volta de 3% a 5%. Esses são problemas que temos denunciado por meio de nossas entidades de classe e que temos que corrigir sob a pena de gerar um prejuízo muito grande na Saúde da população”, disse.

Gonçalves concluiu que, se continuar nesse ritmo, a projeção para o número de médicos em atividade no Brasil até 2035 será de 1 milhão. “Isso é exagerado, vamos ter médicos sem ter o que fazer. Essa é a nossa briga atual junto ao Ministério da Saúde, o Ministério da Educação e os órgãos governamentais.”

Foto: Reprodução Record News