No dia 18 de agosto de 1960, foi lançado o contraceptivo oral Enovid-10, nos Estados Unidos. Aquela descoberta ressignificou o conceito de sexualidade para a mulher. Mas não foi só a liberdade sexual em detrimento da reprodução a principal mudança significativa. Maior participação no espaço público, no mercado de trabalho e nas decisões de planejamento familiar fizeram uma verdadeira revolução na autonomia feminina.
Aprovadas para comercialização nos Estados Unidos, as pílulas anticoncepcionais rapidamente se difundiram pelo mundo, chegando às farmácias brasileiras em 1962, a princípio como regulador menstrual. Everaldo Porto Cunha, diretor de Comunicações da Associação Paulista de Medicina, aponta: “A pílula merece destaque porque possibilitou à mulher mudança sob ponto de vista sociocultural. Talvez seja um dos fármacos mais importantes da história da Medicina”.
“No nosso estado participativo atual, em termos de conquistas igualitárias, temos de entender que ainda há muito a ser feito com relação às conquistas públicas e justas para as mulheres. No entanto, a descoberta da pílula permitiu um maior protagonismo feminino sentido até os dias atuais. Graças a pílula, a mulher pôde então usufruir de liberdade sexual e acabou ganhando um forte aliado rumo à conquista de mais espaço na esfera pública, no mercado de trabalho e na igualdade com os homens”, completa o ginecologista e obstetra.
“Sua utilização acabou provocando avanços nos direitos reprodutivos e sexuais das mulheres, ampliando as possibilidades de realização de um efetivo planejamento familiar e, talvez o mais importante, conferindo total autonomia da mulher na condução desse processo: a pílula é o único anticoncepcional que pode ser utilizado sem a participação do médico e a colaboração ou consentimento do parceiro”, destaca Maria Andrea Loyola, em artigo Cinquenta anos de aticoncepção hormonal: a mulher e a pílula, publicado em 2010, na revista ComCiência, da Universidade Estadual de Campinas – Labjor.
A evolução das dosagens hormonais
Nos anos 1970, imaginava-se que a questão contraceptiva já estivesse resolvida. Ocorre que alguns efeitos colaterais dessas pílulas foram identificados, em particular a respeito de formação aguda de trombos.
“Os cientistas passaram a se debruçar novamente sobre esse assunto e começaram a desenvolver novos hormônios, principalmente, reduzindo essas dosagens. Para termos ideia, o comprimido passou a ter dose hormonal até dez vezes menor do que quando foi lançado. Ou seja, nessa segunda fase os pesquisadores focaram na correção desse elemento para a segurança da usuária”, explica o diretor da APM.
Entre anos 1980 e 1990, terceira fase, novos estudos basearam-se nos chamados benefícios não contraceptivos, como informa Cunha: “A mulher tem que tomar a medicação por muito tempo, sem estar doente, com a proposta de evitar a gravidez. Por que não acrescentar nela alguns benefícios ditos não contraceptivos, como evitar tensão pré-menstrual, diminuir a quantidade de sangramento, reduzir cólica, melhorar a oleosidade e a queda de cabelo?”.
Nos dias atuais, segundo o ginecologista e obstetra, novos hormônios estão sendo pesquisados com a perspectiva de reduzir ainda mais os efeitos colaterais da pílula, conservando toda a sua eficácia contraceptiva. Em razão do atual momento de crise pandêmica, as novidades certamente serão anunciadas em 2021.
“Óbvio que o assunto contracepção continuará sendo estudado e diversificado. A pílula anticoncepcional faz parte da rotina de muitas mulheres e permanecerá por muito tempo. Já é uma senhora, mas cada dia mais jovem, diante da sua evolução histórica”, conclui Cunha.