Levantamento da Associação Paulista de Medicina registra como está o acesso aos EPIs, as dificuldades para o adequado exercício profissional e os problemas enfrentados em hospitais e unidades de saúde
Problemas como a falta de álcool em gel, de aventais, luvas, máscaras cirúrgicas, óculos e outros equipamentos básicos são apontados pelos médicos brasileiros da linha de frente do combate à COVID-19, conforme atesta pesquisa realizada pela Associação Paulista de Medicina (APM), de 9 a 17 de abril. A amostragem tem a participação de 2.312 profissionais de todo o País, que responderam espontaneamente questionário estruturado on-line, via plataforma Survey Monkey.
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Os números, assim como a realidade, são impactantes. Mesmo lidando com situações perigosas à saúde diariamente, 90,5% desses médicos não se submeteram a qualquer teste para detectar a COVID-19 até o momento. Isso com o agravante de que 34,8% dos pesquisados pertencem ao grupo de risco, sofrendo de males como insuficiência renal, doença cardiovascular, obesidade, doença respiratória, hipertensão e/ou diabetes.
A falta de testagem entre os profissionais de Medicina pode ser uma evidência de que realmente há carências importantes para um atendimento seguro e para uma prestação de assistência adequada. Tanto é que somente 14% dizem que os locais em que atendem têm testes suficientes para todos os pacientes com sintomas de COVID-19.
A conjunção de carências e dificuldades explica o clima que parece reinar atualmente nos hospitais. A percepção de 86,6% dos médicos consultados pela Associação Paulista de Medicina é a de que seus colegas estão apreensivos, deprimidos, pessimistas, insatisfeitos e revoltados. Só 13,4% registram sentir tranquilidade ou otimismo.
Conjunturalmente, o enfrentamento é com um inimigo novo, desconhecido e que ainda não mostrou todas as suas armas. Isso talvez explique o motivo de apenas 15,5% registrarem que estão capacitados para atender casos suspeitos e confirmados de COVID-19 em qualquer fase da doença, inclusive quando graves, sob tratamento intensivo.
Quando do levantamento da APM, de 9 a 17 de abril, 65% trabalhavam em hospitais e prontos-socorros que recebem pacientes com COVID-19; enquanto 59% haviam atendido alguém desse grupo. Já 34% afirmaram haver assistido pessoas com confirmação da doença. E 13% relatam que acompanharam enfermo que veio a falecer.
Os médicos da linha de frente que responderam à pesquisa relatam que não há área dedicada especialmente a pacientes com COVID-19 em 30% de seus locais de ação.
A pandemia, com a consequente exposição ao contato com pacientes acometidos de COVID-19, vem mudando a rotina pessoal e profissional dos médicos do Brasil. O levantamento da APM mostra que 18,5% estão afastados de familiares, para não os expor a riscos. Na prática diária, 51% apontam usar a Telemedicina, fazendo teleconsulta, teleorientação, telemonitoramento etc.
A pesquisa da APM foi realizada na gestão de Luiz Henrique Mandetta no Ministério da Saúde. A avaliação do ex-titular da pasta entre os participantes tem 72% de ótimo e bom.
Vale destaque também que 61,8% dos médicos se opõem à Medida Provisória 934/2020, que possibilita, neste ano, a abreviação do curso para os alunos de Medicina que já tenham cumprido ao menos 75% da carga horária do internato.
Sobre isolamento, há opiniões distintas, mas apenas 0,2% são contrários a qualquer tipo.
Por fim, a pesquisa não mostra uma luz estável no fim do túnel. 74,5% acham também que faltarão médicos para o combate à COVID-19 e assistência aos brasileiros.
Foto: BBustos Fotografia