No dia de encerramento da 4ª edição do Global Summit Telemedicine & Digital Health, uma das palestras de destaque foi sobre o tema “Como superar as barreiras da Saúde Digital para todos” – moderada por Álvaro Atallah, diretor de Economia Médica e Saúde Baseada em Evidências da Associação Paulista de Medicina, e ministrada por Micaela Seemann Monteiro, chefe médica de Transformação Digital da CUF Saúde de Lisboa, Portugal.
“Não posso deixar de agradecer a atenção dos organizadores e presença de todos que estão aqui hoje, pois vamos ter a honra de receber palestra de uma especialista que nos deixa seguros ao falar e fazer Saúde Digital. Micaela é alguém que conhece profundamente as dificuldades e os desafios da área e compartilha seu conhecimento com a Organização Mundial da Saúde (OMS), não há ninguém melhor para tratar deste assunto. Estamos em uma nova era, e esta edição do GS está nos ajudando a entender diferentes vertentes da área”, introduziu Atallah.
A especialista iniciou sua apresentação enfatizando que a pandemia de Covid-19 deixou claro que há uma grande desigualdade digital no mundo, o que não afetou somente a Saúde, mas também o trabalho e outras partes importantes da vida de diversas pessoas. “É fato que ainda existem muitos desafios voltados para a Saúde Digital e, em determinado momento, nos preocupamos com a falta de acesso a dispositivos para todos. Em outros, lembramos que nem todos entendem como utilizar serviços de Saúde Digital.”
Micaela destacou que este é um problema global, na Europa, por exemplo: apenas 38% da população entre 55 e 74 anos têm experiência e conhecimento nesta área e domínio da internet. Comentando sobre Portugal, a palestrante relembrou que é um país com população muito inferior à do Brasil, o que torna mais fácil a implementação de grandes atividades em prol da Saúde Digital.
Acesso
Um dos principais projetos desenvolvidos e voltados para a população de Portugal em relação ao tema é o programa de Serviços Partilhados do Ministério da Saúde (SPMS), principalmente no setor de compras, logística, sistemas e tecnologias de informação, comunicação e demais atividades complementares e subsidiárias do setor. “Dentro do Serviço, desde 2016 temos um Centro Nacional voltado para Telessaúde e Saúde Digital, que gera serviços de checagem de exames, receitas, prescrições digitais, resultados de exames e atividades mais complexas, como o compartilhamento de dados biométricos, medidas invasivas e emissão de atestados médicos”, explicou.
A especialista também acrescentou que há inúmeros serviços disponibilizados através do acesso à internet e muitas vantagens em relação a plataformas, soluções e evolução. “Quando percebemos que o mundo já está integrado quase por completo no âmbito digital, é importante vermos que isso não se torna um problema exponencial para os jovens, mas sim para os mais velhos, já que não estão habituados com as tecnologias recentes e, na maioria das vezes, são os que mais precisam de auxílio na Saúde.”
Entre as opções para implementar a Saúde Digital para todos, ela salientou que é necessário resolver simples questões, entre elas ter uma liderança que reconheça possíveis problemas no setor, ágeis estratégias, planejamento e medidas tangíveis para que seja possível levar acesso a todos.
Em continuidade à apresentação, pontuou que um dos desafios da área é a acessibilidade, salientando ser essencial olhar para as medidas tangíveis, não só para questões de acesso, o que resulta em impacto na educação, trabalho e gestão financeira. “A pandemia deixou claro que nem todas as pessoas possuem acesso a essas vertentes. Desta forma, o governo de Portugal aprovou uma lei que força as operadoras de telecomunicações a oferecerem uma tarifa social para a prática, o que também se tornou uma necessidade básica.”
Micaela ainda ressaltou que existe um programa de alfabetização digital, que na Europa será monitorada até o ano de 2030, no intuito de fazer com que todos tenham habilidades e sejam capazes de usar a internet para serviços de Saúde. Outro ponto importante citado foi o disparo de informações de Saúde, que precisam ser realizados de maneira básica, para que o mais novo ao mais velho possam ter facilidade e agilidade quando precisam da Telemedicina.
“Quero reforçar que algumas outras barreiras ainda precisam ser resolvidas, como as deficiências físicas, que podem ser uma barreira para serviços digitais. Não é só ter dinheiro ou ideias para evolução, precisamos ter a percepção de certas condições dos pacientes, o que pode dificultar seu acesso e aceitação nos meios digitais. Enquanto médica, essa foi uma experiência enriquecedora, digo que o acesso para pessoas deficientes ou que não têm habilidade com a internet é essencial, pois são ações que estão ligadas à educação e qualidade de vida. Assim, precisamos de um modelo de assistência médica e metas que proponham acessibilidade para todos”, concluiu.
Debate
Questionada sobre as estratégias de Portugal para o compartilhamento de informações primárias e secundárias, a palestrante respondeu que há uma agência digital compartilhada com o Ministério da Saúde do país, a qual fornece sistemas de dados para o público, hospitais e órgãos de atenção primária.
“Esses dados são mantidos nas respectivas unidades e podemos ter acesso à informação do sistema como um todo. Por exemplo, quando olhamos para os resultados laboratoriais, temos que dizer que é algo feito com milhares de laboratórios e é preciso ter interoperabilidade dos sistemas. A partir daí, usamos equipamentos para manter essa conexão, nos envolvemos com outros projetos europeus, e acredito que isso traz informações do presente e passado para que haja ampla conexão entre as iniciativas, o que nos possibilita permanecer dentro do espaço de saúde europeu, podendo também ser uma forma de auxílio no âmbito secundário”, complementou.
Respondendo sobre quais as estratégias utilizadas para biossensores na Telessaúde, a especialista explicou que dentro do sistema público, na maioria das vezes o aplicativo já está integrado com dados biométricos, e a ideia é que seja integrado também com funções de smartphone e smartwatch. “Essa é uma das grandes estratégias da área, posso dizer que o que está acontecendo é a mediação e monitoramento de dispositivos médicos móveis, também voltados para o trabalho de registros de dados de pacientes.”
Fotos: Marina Bustos