Nesta sexta-feira, 6 de dezembro, o jornal Estado de São Paulo (Estadão) publicou artigo assinado pelo presidente da Associação Paulista de Medicina, Antonio José Gonçalves, e pelo diretor adjunto de Defesa Profissional da instituição, Marun David Cury.
Confira o texto na íntegra a seguir ou acesse diretamente no site do jornal.
Governo joga mais de R$ 60 milhões em vacinas na lata do lixo
Responsabilidade governamental não se limita à aquisição e distribuição das vacinas, mas também à garantia de que a população esteja informada sobre a importância da imunização.
O aumento de 22% no número de imunizantes vencidos durante o atual governo, conforme divulgado em diversas mídias, é alarmante. Em tempos em que a vacinação é crucial não apenas para controlar pandemias, mas também para prevenir surtos de doenças já erradicadas em muitos países, perder vacinas por má administração é algo inaceitável. Isso reflete uma falha administrativa significativa, que necessita de correções urgentes.
A incineração de vacinas representa um prejuízo econômico considerável. O desperdício de recursos públicos, que poderiam ser utilizados para outras necessidades sociais, destaca a falta de planejamento e previsibilidade na gestão pública. Além disso, a perda desses imunizantes coloca em risco a saúde da população, especialmente dos grupos mais vulneráveis que dependem das campanhas de vacinação para proteção contra doenças.
A logística de distribuição e armazenamento de vacinas é um desafio conhecido e que requer atenção constante. A falha em prever o vencimento dos lotes e em ajustar a distribuição conforme a demanda local é um claro indicativo de falta de planejamento. Governos precisam adotar sistemas inteligentes de monitoramento e distribuição para evitar situações como essa.
A desinformação em torno das vacinas é um problema crítico e exacerbado por incidentes como a perda de imunizantes por vencimento. Quando vacinas são desperdiçadas, a percepção pública pode ser de que a vacinação não é uma prioridade ou que não é segura, levando a um aumento na desconfiança e na hesitação em se vacinar. Esse ciclo alimenta narrativas desinformadas que questionam a eficácia ou necessidade das imunizações.
É crucial que o governo e as autoridades de saúde implementem campanhas de informação eficazes, que não apenas incentivem a vacinação, mas também combatam ativamente a desinformação. Isso envolve educar a população sobre a importância da imunização, os riscos associados a não se vacinar e esclarecer quaisquer dúvidas relacionadas à segurança e eficácia das vacinas.
Com menos pessoas se vacinando, o risco de surtos de doenças aumenta, colocando em perigo a saúde pública, especialmente entre aqueles que não podem ser vacinados por razões médicas. Isso também contribui para um círculo vicioso no qual a aparente falta de urgência em vacinar, demonstrada pelo desperdício, reforça a ideia de que a vacinação pode ser opcional. Vacinação é um pacto social!
A polarização em torno da gestão vacinal entre grupos políticos agrava a situação, desviando o foco do problema principal: a saúde pública. A questão deveria ser tratada com seriedade e foco na correção de falhas, em vez de ser usada como ferramenta de disputa política. Mais uma vez, temos que desvincular a saúde de qualquer questão político-partidária.
O cenário atual de desperdício de vacinas é uma chamada urgente à ação para o governo e suas instituições de saúde. Medidas corretivas precisam ser implementadas para garantir que recursos não sejam desperdiçados e que a população receba a proteção necessária.
Reavaliar os processos logísticos, melhorar a transparência e a previsibilidade na distribuição e armazenamento de vacinas, além de garantir uma comunicação clara e precisa com a população, são passos essenciais para restaurar a confiança pública e garantir um sistema de saúde eficiente e eficaz.
A responsabilidade governamental não se limita à aquisição e distribuição das vacinas, mas também à garantia de que a população esteja adequadamente informada sobre a importância da imunização.
Antonio José Gonçalves é presidente da Associação Paulista de Medicina,
Marun David Cury é diretor adjunto de Defesa Profissional da APM.