Especialistas debatem cuidados com a Covid-19 para gestantes e bebês em webinar da APM

A Associação Paulista de Medicina realizou, na última quarta-feira, 27 de maio, seu segundo webinar, desta vez com o tema “Assistência às gestantes, ao parto e aos recém-nascidos em tempos de Covid-19”.

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A Associação Paulista de Medicina realizou, na última quarta-feira, 27 de maio, seu segundo webinar, desta vez com o tema “Assistência às gestantes, ao parto e aos recém-nascidos em tempos de Covid-19”. Durante o encontro, que contou com centenas de espectadores, especialistas abordaram todo o processo de gravidez e discutiram, entre diversos temas, acerca do planejamento familiar durante a pandemia.

O material pode ser visto na íntegra no vídeo abaixo:

César Eduardo Fernandes, diretor Científico da Federação Brasileira das Associações de Ginecologia e Obstetrícia (Febrasgo), mediador do encontro, foi o responsável por introduzir a conversa: “Fomos convidados pela APM para que montássemos um tema de interesse tanto de ginecologistas, obstetras e pediatras, quanto de colegas de outras especialidades. É muito pertinente discutir cuidados com grávidas e com os recém-nascidos”.

Rosiane Mattar, diretora Científica da Associação de Obstetrícia e Ginecologia do Estado de São Paulo (Sogesp), começou a sua fala trazendo dados. Conforme apresentou, um estudo de Nova Iorque (Estados Unidos) mostrava que cerca de 15% das gestantes apresentaram presença do novo coronavírus, sendo 13,5% delas assintomáticas. Por outro lado, um estudo de Connecticut (EUA) apresentou que a incidência em grávidas era de 3%.

“Qual o índice real? Isso dependerá, lógico. Connecticut é diferente de Nova Iorque. No Brasil, temos visto regiões com frequência de Covid-19 muito maior, inclusive de mortalidade. Mas em uma grande metrópole como São Paulo, a tendência é que a frequência seja parecida com Nova Iorque”, argumentou. A especialista alertou que, muitas vezes, as grávidas também podem ter sintomas atípicos, como diarreia, em vez de tosse ou falta de ar.

Luciana Rodrigues da Silva, presidente da Sociedade Brasileira de Pediatria (SBP), ressaltou na sequência que é muito importante reforçar os cuidados em relação aos recém-nascidos, porém fez um alerta: “Tudo que tem sido relacionado à Covid-19 é um conhecimento em construção. É uma doença nova. Algumas perguntas ainda não têm respostas. Em algumas situações, temos acumulado orientações, mas que vêm sendo modificadas por conta da experiência adquirida. A SBP vem, de maneira sistemática, produzindo documentos relacionados à neonatologia, amamentação etc.”.

A especialista reforçou, ainda, que até o momento as diretrizes indicam que recém-nascidos de mães possivelmente contaminadas pelo novo coronavírus, ou com casos confirmados, devem receber aleitamento materno, tendo em vista todas as suas propriedades positivas. “A mãe, no entanto, tem de ser criteriosamente orientada em relação à higiene das mãos e à utilização de máscara durante a amamentação. Nos demais momentos, ela tem de manter distância de 1,8m ou 2m. E o recém-nascido de mãe positiva deve ter coletada a prova diagnóstica da sua nasofaringe nas primeiras 24 horas. E depois, a cada 48 horas, até sair do hospital. Caso esteja instável, deve ir a uma área isolada na Unidade de Terapia Intensiva (UTI).”

O presidente da APM, José Luiz Gomes do Amaral, que também realizou a mediação do evento, classificou como benéfica a possibilidade de percebermos as múltiplas possibilidades de interação entre especialistas. “A Covid-19 nos mostrou que as barreiras que separam as especialidades são artificiais e se rompem rapidamente quanto todos voltamos nossos olhares ao tratamento das pessoas.”

Planejamento familiar
Rossana Pulcinelli Vieira Francisco, presidente da Sogesp, lembrou que durante essa situação que vivemos, a anticoncepção não foi considerada como essencial no sistema de saúde, embora devesse ser. Ela entende que gravidez indesejada neste momento é mais um complicador, sobretudo no que se refere às mortes maternas, o que já existe indícios de que estejam aumentando.

“Talvez o estado de São Paulo seja o único a inserir mortes maternas em seu boletim acerca do coronavírus. Cerca de 0,4% do total de mortes que ocorreram com fator de risco eram mortes maternas, totalizando 20 casos. Se considerarmos que temos 300 ao ano, aumentar 20 agora é significativo. Então, a gravidez indesejada aumenta a morte materna e gostaria que o planejamento familiar, neste momento, fosse uma atividade essencial.”

Rosiane, por sua vez, lembrou que ainda não sabemos se o número de gestantes aumentará ou diminuirá. Embora tenhamos o isolamento social, há a possibilidade do aumento de atividade sexual entre parceiros que estão no mesmo local. De qualquer forma, a especialista afirma que a recomendação, por ora, é evitar a gravidez. Em caso de alguém que queira engravidar, que já teve perdas anteriores ou tenha idade avançada, a diretora da Sogesp recomenda muito cuidado e que não haja exposição a riscos.

Cesar Fernandes lembrou também que é importante não suspender os métodos anticoncepcionais. Segundo o diretor Científico da Febrasgo, circulam mensagens que indicam risco de trombose ao associar pílulas à suspeita de Covid-19. Ele, porém, ressalta que o risco de trombose inexiste após um ano de uso do método e lembra que quem tiver dispositivo intrauterino que precise ser trocado pode aguardar até alguns meses sem prejuízo da eficácia.

Conclusões
A presidente da SBP relembrou ainda que o pediatra é um profissional indispensável para acompanhar a gestante antes do parto, para estar presente neste momento, e para acompanhar a criança até o final da adolescência de maneira sistemática. “Neste momento, quero também parabenizar todos os profissionais de Saúde que têm lutado nesta pandemia. Desejo que todos possam atravessar este período com serenidade, informação e educação continuada”, concluiu Luciana.

Rossana ressaltou que a responsabilidade dos ginecologistas e obstetras é garantir atenção a gestantes e puérperas, seja baixo ou alto o risco de terem Covid-19. Segundo a especialista, o melhor investimento para a proteção das grávidas e da equipe de Saúde é uma triagem bem feita e o isolamento da gestante que tem suspeita.

“Se alguém dissesse que eu ganhei muito dinheiro para investir [nos cuidados] em Covid-19, eu investiria na triagem, mais do que em equipamentos de proteção individual (EPI). Com uma boa triagem, você faz melhor uso dos equipamentos. É interessante que, todos os dias, quem vem trabalhar em um hospital seja triado com questionário de sintomas e temperatura, protegendo equipe e pacientes”, indica a presidente da Sogesp.

Rosiane argumentou que, independente do momento, os médicos devem estar junto das pacientes, realizando Telemedicina quando for possível, mas também orientando e avaliando os riscos que as grávidas têm, sem deixar de fazer planejamento de todo o cuidado pré-natal. “Temos algumas coisas nos introjetando neste momento que vamos levar em nossa vida. Uma delas é: sempre seguir o protocolo. E o cuidado bilateral com gestante e profissional de Saúde.”

José Luiz Gomes do Amaral encerrou o encontro lembrando que, face à gravidade dessa pandemia, as únicas alternativas que temos são o isolamento social e as medidas de higiene. “Além disso, também estamos em um momento de solidariedade. Temos de entender que o nosso futuro depende de isolamento social, medidas de higiene e solidariedade. Se não praticarmos em igual relevâncias essas medidas, não conseguiremos ultrapassar esse momento”, concluiu o presidente da APM.

No dia 20 de maio, o primeiro Webinar da Associação teve como tema “Telemedicina: da introdução à prática”, também com grandes expoentes. Relembre a discussão revendo o vídeo abaixo: