Na última quarta-feira, 13 de setembro, ocorreu mais um webinar da Associação Paulista de Medicina, com o tema “Dor: você sabe realmente o que é?”. João Sobreira de Moura Neto, vice-presidente da APM, abriu o encontro, apresentando os demais participantes e o palestrante.
“Teremos como moderadores a doutora Telma Zakka, médica com área de atuação em Dor, doutora em Ciências pelo departamento de Neurologia da USP e presidente do Comitê Científico de Dor da APM; e o doutor Hélio Papler, professor associado e livre docente do departamento de Cirurgia da Escola Paulista de Medicina da Unifesp. Como palestrante, temos o doutor Rogério Adas, diretor Científico do Comitê Científico de Dor da APM”, iniciou Sobreira.
O encontro também serviu de aquecimento para o III Congresso Paulista de Dor, que ocorre nos próximos dias 28 e 29 de setembro, e para o qual ainda é possível se inscrever neste link.
A dor e o indivíduo
De acordo com Rogério Adas, dores são complexas e difíceis de mensurar, visto que variam em cada indivíduo, sendo determinadas por fatores protetores biológicos. Ele refutou que esse argumento está bem caracterizado nas conceituações das sociedades internacionais e apresenta estudos que apontam aspectos cognitivos, emocionais, fatores genéticos e até o ambiente no qual a pessoa está inserida como fatores determinantes nas escalas de sofrimento; o sistema nervoso, no caso, seria como um protagonista, o regente desse processo.
“O fenômeno pelo qual a dor sinaliza o problema nos tecidos – que traduz um sistema agressivo, seja térmico, químico ou mecânico – se chama nocicepção, funciona como um sistema de alerta. Esse processo envolve mecanismos inflamatórios e de reparo nos tecidos. Em condições normais, a agressão do sistema imunológico diminui, a inflamação passa, o reparo dos tecidos acontece e a dor vai embora. Mas, existem várias situações em que esse processo se perpetua e nós temos a patologia crônica, que é definida como aquela que permanece por mais de três meses”, explicou o profissional.
Nos esclarecimentos fornecidos, o palestrante salientou que as dores agudas, quando retirados os estímulos que as causam, passam; já em relação às crônicas, foram destacadas três variações: crônicas nociceptivas, aquelas que fazem com que o alarme fique acionado por muito tempo, no caso da artrite de joelho; doenças que afetam os nervos periféricos ou centrais, que são as neuropáticas; e as nociplásticas, em que não se apresenta inflamação, nem lesão no sistema nervoso estrutural, mas há uma desorganização das vias que interpretam a dor, como a cefaleia primária e a fibromialgia.
Tocando no ponto chamado de contrairritação – que é a ação de causar uma dor no corpo a fim de reduzir outra maior -, o palestrante afirmou que é eficaz. O que está por trás disso são as redes moduladoras e ascendentes, sistemas capazes de modular esses processos de acordo com aspectos cognitivos e ambientais.
“Toda dor crônica um dia foi aguda. A dor crônica não é simplesmente uma dor aguda que dura por mais tempo. É um processo patológico com mecanismos distintos. Compreender os mecanismos da dor pode ajudar a determinar o tratamento ideal. É importante identificar as causas, tendo em vista que a dor desorganiza a vida do indivíduo de uma forma muito abrangente, ela pode trazer alterações de sono, dificuldades de concentração, queda da capacidade laborativa, alterações de humor e interfere na vida familiar”, alertou.
Panorama dos casos, diagnóstico e tratamento
Em estudos realizados e apresentados no webinar, é perceptível que as condições dolorosas crônicas, como as dores na coluna vertebral e a cefaleia, correspondem a mais da metade do percentual global, ou seja, atingem uma parcela abrangente da população mundial. Em países que se encontram em desenvolvimento, o número de casos é maior, com predominância na população feminina – fatores hormonais, sociais e culturais explicam tal diferença.
O especialista ainda apresentou dados e indicou possíveis problemas que as patologias podem trazer para a Saúde. “Pesquisas norte-americanas mostram que cerca de 20% da população tem alguma forma de dor crônica, e mais de 5% dores de autoimpacto. As principais condições dolorosas, como já apontadas, são as dores na coluna lombar, no joelho e a cefaleia. Em São Paulo, aproximadamente 29% da população tem alguma condição de dor crônica, o que afeta diretamente os sistemas de Saúde, tanto público quanto privado. A dor é o principal motivo das visitas (de 70% a 80%), necessitando dos cuidados das mais diversas especialidades.”
Ainda segundo Adas, no caso das dores crônicas, muitas vezes, os mecanismos não estão bem estabelecidos, dificultando o diagnóstico, com sintomas flutuantes e sorrateiros, que se manifestam de uma forma não estereotipada. “Isso significa que os sintomas e mecanismos são comumente transculturais; se pacientes com uma neuropatia dolorosa podem ter mecanismos de dor e expressões sintomáticas completamente diferentes, precisarão de tratamentos individualizados”, exemplificou.
Finalizando, ele mencionou métodos utilizados para diagnosticar os problemas crônicos, como a anamnese, a análise de limitações funcionais, as alterações psicocomportamentais, os exames físicos e comportamentais.
Texto: Ryan Felix (sob supervisão de Giovanna Rodrigues)
Fotos: Reprodução Webinar APM