Com a proposta de atualizar médicos e outros profissionais da Saúde sobre as mais recentes descobertas em termos de pesquisas e diretrizes no tratamento de doenças, a Sociedade Paulista de Medicina do Sono promoveu o 16º Congresso Paulista de Medicina do Sono, nos dias 4 e 5 de maio, com organização da Associação Paulista de Medicina.
Cerca de 300 pessoas participaram do evento, realizado no Milenium Centro de Convenções, em São Paulo. “Inicialmente, era um encontro de especialistas que atuavam na área do sono. Hoje, o Congresso é uma referência, que consegue reunir pessoas do Brasil inteiro”, comemora a coordenadora Sônia Togeiro de Moura, também presidente do Comitê Científico de Sono da APM.
Avanços em pesquisas de doenças como narcolepsia, melhorias nos mecanismos de transtornos do sono com projeções medicamentosas, tratamentos de distúrbios respiratórios do sono em crianças e adultos, além dos desafios em recursos terapêuticos para problemas de ritmo circadiano, são alguns pontos do Congresso que merecem destaque, segundo Sônia.
“Trouxemos renomados palestrantes, com suas respectivas experiências clínicas, para ajudar os participantes no diagnóstico clínico e no tratamento de pacientes. Enfim, é um Congresso bem eclético, englobando todas as principais doenças que têm importância na área de Medicina do Sono”, afirma.
Resumo científico
O pneumologista Pedro Genta deu início aos trabalhos, descrevendo os quatro principais fenótipos fisiopatológicos da apneia obstrutiva do sono: comprometimento da anatomia da via aérea superior, resposta neuromuscular (angulação da curva EMG/pressão faríngea), loop gain (relação entre distúrbio respiratório e resposta) e limiar de despertar (pressão faríngea antes do despertar).
Para compreender a apneia obstrutiva do sono sob perspectiva do período fisiológico após a última menstruação espontânea da mulher, o médico clínico e pneumologista Bruno Rocha de Macedo reforçou que a menopausa explica o comportamento epidemiológico da doença na população feminina.
Como especialistas descrevem, a apneia obstrutiva do sono é uma fisiopatologia multifatorial. “O nariz seria a pontinha de todos os fatores de risco em relação à via aérea. E apesar de estar lá na ponta, não quer dizer que seja pouco importante. Afinal, todo mundo merece respirar bem pelo nariz”, brincou a otorrinolaringologista Fernanda Haddad.
A especialista reiterou que pacientes com mais benefícios no tratamento são jovens com a doença leve. “Por isso, é importante que a prevenção ocorra na infância e na adolescência, com maior conscientização do pediatra e do dentista, antes do paciente desenvolver todas as alterações esqueléticas faciais e funcionais da respiração”, alerta.
As alterações craniofaciais, obesidade e sexo masculino são considerados os principais fatores de risco relacionados à apneia obstrutiva do sono. No entanto, as variantes genéticas também influenciam nesse quadro. “O principal gene associado a AOS foi o IHH, atuando em moléculas de sinalizações essenciais que regulam diversos processos de desenvolvimento, especificamente, na diferenciação óssea que pode ter complicação em fisiopatologias fundamentais”, disse a biomédica Priscila Tempaku.
Já o cardiologista Luciano Drager assinalou os progressos com o uso de biomarcadores para o entendimento da fisiopatologia da apneia. “Caminhamos bastante. Esses equipamentos podem ajudar pacientes que tenham maior risco de complicações, efetivamente na prática e nas prescrições terapêuticas, o que está evoluindo em outras áreas também. Mas há ainda vários desafios para que os biomarcadores possam ser utilizados em diagnósticos úteis”, conclui.
À mesa 2 – Insônia, foram debatidos os temas “Fenótipos de insônia”, com Guilherme Gallinaro; “Insônia Refratária: existe? Como tratar?”, com Rosa Hasan; “O papel da meditação mindfulness na insônia”, com Marcelo Csermak; “Insônia e menopausa: como tratar?”, com Álvaro Pentagna; e “Dor e Sono”, com Suely Roizenblat.
Na sequência, a mesa 3 – Atualização no diagnóstico e tratamento da apneia obstrutiva do sono em pediatria, tratou de “Morbidades”, com Beatriz Barbisan; “Sistemas ambulatoriais”, com Cristiane Fumo; “Tratamento cirúrgico”, com Silke Weber; “Tratamento ortodôntico”, com Maria Ligia Juliano; e “Tratamento com pressão positiva em vias aéreas superiores”, com Gustavo Moreira.
Por fim, ainda na sexta-feira, a mesa 4 – Sonolência Excessiva/Distúrbios Ritmo Circadiano, teve as temáticas “Narcolepsia e autoimunidade”, com Guilherme Marques; “Potencial terapêutico para a narcolepsia: agonista TAAR1”, com Fernando Morgadinho; “Como abordar a privação de sono: diagnóstico e tratamento”, com Andrea Cecilia Toscanini; “Desafios no tratamento dos distúrbios do ritmo cicardiano”, com Luciana Palombini; “Distúrbios do sono em Alzheimer”, com Tania Marchiori.
Segundo dia
Já no sábado (5), o primeiro tema foi a Atualização no tratamento da Apneia Obstrutiva do Sono, a partir dos temas “Titulação do CPAP no laboratório versus uso do CPAP automático domiciliar”, com Nayana Souza; “A escolha da interface do CPAP”, com Juliana Araújo; “Terapia miofuncional: onde estamos?”, com Esther Bianchini; AOS leve: tratar ou não tratar?, com Sonia Maria Togeiro; e “Neuroestimulação da via aérea superior”, com Eric Thuler.
Em Atualização em Parassonias, as aulas foram organizadas em “Parassoniais e implicações forenses”, com Alexandre Pinto Azevedo; “Sono e trauma”, com Daniel Suzuki Borges; “Fenótipos de transtorno comportamental do sono REM”, com Alan Eckeli; e “Diferenciando parassonias de epilepsia”, com Stella Tavares.
À mesa 3 – Sono insuficiente ou insônia? Aspectos na infância e adolescência, foram abordados “Insônia comportamental no lactente”, com Marcia Pradella Halinan; “Insônia no adolescente”, com Rosana Alves; “Efeitos da privação do sono no adolescente”, com Clarissa Bueno; e “Distúrbios do sono e aprendizado”, com Cecília Lopes.
Por fim, o debate de casos clínicos fechou o XVI Congresso Paulista de Medicina do Sono, com “Sonolência excessiva”, com Isis Shibasaki; “Insônia”, Maíra Medeiros; e “Distúrbio respiratório do sono”, com Adriana Hora.
Fotos: Marina Bustos