Os dirigentes da Associação Paulista de Medicina compareceram em peso à solenidade de posse da nova Diretoria e Conselho Fiscal da Associação Médica Brasileira e de suas Federadas, realizada na última sexta-feira, 19 de janeiro, no Palácio Tangará, na capital paulista. Os presidentes da AMB, César Eduardo Fernandes, e da APM, Antonio José Gonçalves, recepcionaram os ilustres convidados.
Entre as autoridades que prestigiaram o evento e compuseram a mesa solene estavam o secretário de Saúde do Estado de São Paulo, Eleuses Vieira de Paiva, representando o governador Tarcísio de Freitas; o secretário de Atenção Primária à Saúde do Ministério da Saúde, Felipe Proenço de Oliveira, representando a ministra Nísia Trindade; o conselheiro Carlos Magno Pretti Dalapicola, representando a Presidência do Conselho Federal de Medicina; a presidente da Academia Nacional de Medicina, Eliete Bouskela; o presidente do Conselho Regional de Medicina do Estado de São Paulo, Ângelo Vattimo; e a presidente da Ordem dos Advogados do Brasil – Secção São Paulo, Patrícia Vanzolini.
Antonio Gonçalves abriu os discursos lembrando seu início na Diretoria da APM, em 1995, com Eleuses Paiva. “É uma imensa satisfação estar representando todas as federadas, esta é uma reunião histórica, porque nós precisamos de união, que vai ser o segredo do sucesso. Tivemos debates eleitorais, mas isso não nos impede de trabalhar juntos. Temos muitas lutas e pautas em comum, como a abertura indiscriminada de escolas médicas. A união é que vai dar a força para o nosso movimento. Podemos ter algumas ideias divergentes, mas isso não pode prevalecer sobre as nossas justas reivindicações. A união é a palavra que eu queria deixar.”
Além de agradecer a presença e parceria de todos os presentes, César Fernandes enfatizou que a AMB sempre teve em sua essência duas responsabilidades: valorizar o exercício da profissão médica e zelar pela boa assistência da sociedade e dos pacientes. “Isso nos obriga a interagir cotidianamente com os três poderes: legislativo, executivo e judiciário, sempre levando as nossas convicções. Quero registrar ainda que sempre estaremos abertos ao diálogo e que não tomaremos decisões baseadas em ideologias e partidarismos.”
Ângelo Vattimo reforçou o pedido de união de Gonçalves, e lembrou que as gestões não serão fáceis: “Não administrativamente, mas sim porque a Medicina no Brasil vai mal, está sendo atacada por todos os lados. Temos uma abertura indiscriminada de escolas médicas, lançando no mercado profissionais mal qualificados, além de calotes, glosas lineares e administrativas por parte de convênios. Sem falar em má remuneração, que já acontece desde a década de 1970, tentativas de extinção do Revalida e retorno do Mais Médicos, só que mais camuflado. Conclamo a todos para se unirem a esta luta, antes que seja tarde”.
Preocupações da classe
O representante do CFM, por sua vez, destacou que o Conselho e a AMB são coirmãos, com atuação conjunta visando defender os interesses da classe e garantindo uma boa assistência de Saúde à população. “Estamos juntos no combate ao desrespeito das outras categorias profissionais à lei do ato médico e críticos quanto às falhas da estrutura de atendimento que devem ser solucionadas em respeito aos médicos e demais cidadãos. Continuaremos a manter uma relação caracterizada pelo respeito, harmonia e independência na condução de temas sensíveis e de interesse da Medicina”, complementou.
Já Patrícia Vanzolini transmitiu a admiração e o apreço da comunidade jurídica por toda a comunidade médica paulista e brasileira e se disse profundamente irmanada à profissão. Ainda deixou público o apoio da OAB-SP a todas às importantes pautas destacadas, de valorização da classe médica em geral e, sobretudo, do ensino e da qualificação dos médicos que serão colocados no mercado de trabalho, que é a mesma preocupação dos juristas.
“Temos uma série de pontos em comum a desenvolver, a exemplo da importância da evidência científica ao orientar as ações, decisões e políticas públicas que são desenvolvidas. E também temos uma série de grupos de trabalho e iniciativas junto à Associação Médica Brasileira, às federadas e sociedades de especialidades, que ajudam muito na formação dessas políticas públicas”, enalteceu o representante do Ministério da Saúde.
Ainda no tom de união, a presidente da ANM afirmou considerar extremamente importante que todas as associações médicas se unam para melhorar a situação da Saúde, começando com a qualidade das escolas. “Acho que isso é um ponto nevrálgico, que a gente não pode de maneira nenhuma deixar passar. Porque não adianta termos excelentes hospitais se o médico não é um profissional bem treinado e que realmente conhece a situação.”
Gestão da Saúde
Presente à cerimônia, Eleuses Paiva – que já presidiu a APM e a AMB – relembrou já ter trabalhado com a maioria dos presentes nas entidades de classe, o que considera uma corrida de revezamento, “porque toda vez que a gente termina o mandato, a gente sabe que fez muito, mas sabe que tem muito mais para fazer do que foi feito”.
Aproveitou ainda a ocasião para falar um pouco da experiência atual na gestão de Saúde do estado de São Paulo. “Elenco quatro temas extremamente importantes para o momento que estamos vivendo no País. O primeiro deles é deixar claro que Saúde e política não combinam, até pelo que as experiências recentes deixaram. A Saúde só tem um lado, e é esse lado que eu defendo. É o lado da seriedade, da competência, do respeito e da boa assistência à Saúde.”
Mencionou também o desfinanciamento da Saúde pública no País: “Temos que melhorar a gestão? Sem dúvida nenhuma, mas faltam recursos neste País para garantir a Saúde. Aqui no estado de São Paulo, que não é diferente do restante do Brasil e do mundo, nós estávamos colapsando. Começamos investindo em mutirões e em ampliar o acesso, oferta maior de serviços. Investimos R$ 2 bilhões, e tiramos mais de um milhão de pessoas da fila de cirurgia eletiva. Resolvemos todos os problemas? Claro que não, mas tiramos um milhão da fila. Outra avaliação foi a de leitos fechados, mais de 10 mil, tanto no serviço próprio como nas santas casas de misericórdia. E por isso investimos na Tabela SUS Paulista, mais R$ 4,8 bilhões em novos recursos”.
Em terceiro, ele abordou a qualidade do profissional que estamos formando neste País. “Agora nós estamos vendo mais 80 ou 90 novas escolas sem critério nenhum. Quando estava no Parlamento, tentei no final de mandato aprovar um projeto de lei. A primeira coisa colocada pela Procuradoria é que não podíamos impedir a abertura de escolas, mas que a regulamentação do exercício profissional feita pelos nossos conselhos era o caminho. Essa é a pauta que temos que levar para dentro do Congresso Nacional, e não é pauta corporativa, é pauta em defesa da sociedade”, disse.
Por último, discussão mencionada pelo secretário da Saúde foi a área de saúde suplementar: “Na época que eu estava na AMB, nós evoluímos bem, com a Lei 9.656/98 e a criação da ANS. Hoje, se você perguntar para o usuário do plano de saúde, ele está insatisfeito. Se falar do médico, é um absurdo o que estamos vendo, e as próprias empresas reclamam, que também vendem um produto e são obrigadas a entregar outro. Portanto, temos urgência em pautar novamente a readequação da lei.”
Diretores da APM que também estão na Diretoria da AMB:
Fotos: Laílson Santos