As crianças menores de um ano de idade apresentaram maior incidência e mortalidade de Síndrome Respiratória Aguda Grave (SRAG) por Covid-19 em 2022 e 2023, quando comparados aos demais anos pandêmicos. Por sua vez, é observada uma redução na incidência e na mortalidade de SRAG por Covid-19 entre adultos jovens (20 a 59 anos).
Durante este ano (2023), os casos de SRAG por Covid-19 foram mais frequentes entre idosos com 60 anos ou mais, seguidos de crianças menores de um ano de idade. Além disso, os óbitos por Covid-19 foram mais frequentes entre os idosos com 60 anos ou mais e entre crianças menores de um ano de idade.
Até novembro de 2023, foram registrados 5.310 casos de SRAG por Covid-19 e 135 óbitos de SRAG por Covid-19 entre crianças menores de 5 anos – cerca de metade delas entre as crianças previamente saudáveis, sem nenhum fator de risco. Muitas dessas hospitalizações e mortes poderiam ter sido evitadas. Ressalta-se que a incidência e a mortalidade de SRAG por Covid-19 em crianças menores de 5 anos de idade vem aumentando, principalmente a partir de 2022, tendo como destaque o ano epidemiológico de 2023.
A Síndrome Inflamatória Multissistêmica Pediátrica (SIM-P) é uma manifestação rara e grave associada à Covid-19, mais frequente em crianças e adolescentes. No Brasil, 6,7% das crianças que desenvolvem essa síndrome evoluem para óbito. Desde o início da pandemia até o final de novembro de 2023, foram registrados 2.115 casos de SIM-P no Brasil, com 142 óbitos entre crianças e adolescentes. Em 2023, foram 62 casos com registro de um óbito entre crianças. Estudos recentes sugerem que as vacinas contra a Covid-19 impactaram para a diminuição dos casos de SIM-P, pois foi evidenciado que a incidência da doença foi menor em crianças vacinadas.
Até novembro de 2023 no Brasil, cerca de 6,2 milhões de doses foram administradas na população pediátrica, incluindo crianças entre 6 meses e 5 anos de idade, possibilitando a avaliação sobre a segurança e os benefícios da vacinação contra a Covid-19.
Desde o início da vacinação contra a Covid-19 no Brasil, foram registradas 21,7 notificações de casos suspeitos de eventos supostamente atribuíveis à vacinação e imunização (ESAVI) a cada 100 mil doses administradas nessa população. Do total de casos notificados, 91,6% foram reações leves e esperadas, apresentando evolução favorável. Foi notificado 0,2 caso suspeito de ESAVI grave a cada 100 mil doses administradas, sendo essa frequência considerada muito rara pela Organização Mundial de Saúde (OMS). A partir da avaliação de causalidade entre a vacina e o ESAVI notificado, não foram identificados eventos fatais associados com as vacinas pediátricas contra a Covid-19.
Considerando a incidência e a mortalidade por Covid-19 em crianças; a incidência e a mortalidade por SIM-P; e que as vacinas contra a Covid-19 são seguras e efetivas em crianças de 6 meses a 5 anos de idade; e considerando ainda que as vacinas contra a Covid-19 para crianças estão licenciadas no Brasil e incorporadas ao Sistema Único de Saúde (SUS), o Programa Nacional de Imunizações (PNI) incluiu a vacinação contra a Covid-19 no Calendário Nacional de Vacinação para crianças entre 6 meses e 4 anos, 11 meses e 29 dias de idade.
Em 2023, o PNI completou 50 anos, com inúmeras conquistas no controle, eliminação e erradicação de diversas doenças na população pediátrica, com oferta de vacinas gratuitas para toda a população brasileira, sendo considerado um exemplo mundial de programa de imunização. É, sem dúvida, o maior programa de inclusão social do País.
Foi por meio de extensos programas de vacinação que erradicamos a varíola, eliminamos a pólio, o sarampo, a rubéola e o tétano neonatal e controlamos diversas doenças como a coqueluche, a difteria, as meningites e as pneumonias, entre outras.
Todo esse sucesso é fruto de constantes ações estruturantes, com capacitação de profissionais de Saúde lotados nas mais de 35 mil salas de vacinas; da instalação e manutenção de rigorosa rede de frio; da produção nacional de vários imunobiológicos; da constante assessoria de uma Câmara Técnica que se basea em evidências científicas; e, principalmente, da confiança da população nas vacinas e na vacinação.
A Associação Paulista de Medicina abraça o PNI e a vacina contra a Covid-19 incluída para crianças de seis meses a 5 anos de idade, posto que mandatória em função das evidências científicas atuais.
Clóvis Francisco Constantino (CRM-SP 18.221 | RQE-SP 13.820), diretor adjunto de Previdência e Mutualismo da APM, presidente da Sociedade Brasileira de Pediatria e professor de Ética Médica e Bioética da Universidade Santo Amaro
Renato Kfouri (CRM-SP 59.492 | RQE-SP 44.535 / 44.535-1), presidente do Departamento Científico de Imunizações da Sociedade Brasileira de Pediatria