Antônio José Gonçalves fala sobre o Mais Médicos em audiência do Senado

A qualidade da formação, o número exponencial de profissionais no Brasil e a criação desenfreada de escolas médicas vêm sendo foco de atenção e de muita preocupação entre os médicos brasileiros

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A qualidade da formação, o número exponencial de profissionais no Brasil e a criação desenfreada de escolas médicas vêm sendo foco de atenção e de muita preocupação entre os médicos brasileiros. No intuito de pontuar as iniciativas que devem ser tomadas diante desta grave situação, o vice-presidente da Associação Paulista de Medicina e secretário geral da Associação Médica Brasileira, Antônio José Gonçalves, participou de uma audiência pública da Comissão Mista da Medida Provisória 1.165/23, do Mais Médicos, na última terça-feira, 16 de maio, realizada no Senado Federal.

Durante a apresentação, Gonçalves relembrou que esteve recentemente com o Ministério da Educação debatendo o assunto e reforçando dois objetivos fundamentais das Associações, de defender a dignidade e os interesses do médico e resguardar que a população tenha uma assistência de Saúde com qualidade.

“Nós temos nos preocupado, na AMB, com a questão geral do médico. Temos feito uma série de eventos no sentido de melhorar a formação. O total de médicos é por volta de 600 mil, e a nossa população é de 210 milhões. As capitais têm um índice de médicos completamente elevado, enquanto o interior sofre com o problema de que os médicos não se fixam ali, mesmo com as escolas instaladas na região, eles se formam e vão para os grandes centros”, explicou.

Dentre os presentes na audiência, esteve o presidente da Comissão Mista e deputado federal Dorinaldo Malafaia; a relatora e senadora Zenaide Maia; o secretário de Atenção Primária à Saúde do Ministério da Saúde, Nezio Fernandes; o coordenador geral de Expansão e Gestão da Educação e Saúde do Ministério da Educação, Pedro Luíz Rosalém; e o presidente da Federação Nacional dos Médicos, Gutemberg Fialho, entre outros.  

Distribuição

O vice-presidente da APM relembrou que, de 2012 para 2022, houve um aumento de mais de 84% de médicos formados no Brasil, passando de 260 mil para 495 mil, por conta das políticas públicas implementadas. “A abertura indiscriminada de escolas forma médicos com uma qualidade muito ruim. Isso se repete na residência. Porque eles não se formam bem, entram na residência com um alicerce que não está bom, vão tentar se especializar e isso faz a qualidade dos residentes também cair. Tanto que, recentemente, na residência de Cirurgia, tivemos que aumentar o tempo de dois para três anos, já que a formação que o residente recebia não era suficiente para poder sair operando”, relembrou.

Ele ainda destacou que, para implementar o Mais Médicos, o programa deve contar com uma boa estrutura de ensino e fornecer preceptoria e os mecanismos necessários àqueles que irão para regiões mais afastadas. “Ninguém pode ser contra oferecer Saúde para a nossa população, mas é qualidade que querermos. Queremos expandir e melhorar a desigualdade, mas queremos também manter a qualidade e estamos colocando as sociedades de especialidade e as nossas Federadas para ajudar nisto e fazer, então, um programa que seja realmente efetivo.”

O tempo de formação também foi um dos tópicos abordados pelo especialista, fomentando o esforço necessário para se colocar profissionais de relevância no mercado. “A formação médica depende de uma qualificação do professor, e não se formam professores de Medicina do dia para a noite. É preciso ter seis anos de graduação, entre dois e cinco de residência, dois de mestrado e mais quatro de doutorado. É uma formação longa, trabalhosa e extremamente importante. É isso o que não podemos abrir mão. Existe a necessidade de um cirurgião fazer 30 ou 40 cirurgias por ano de uma determinada doença para que ele se mantenha ativo e competente. Não precisamos formar mais médicos e cirurgiões, precisamos que eles sejam mais bem treinados.”

Futuro 

Atualmente, os estados com maior densidade médica são Distrito Federal, Rio de Janeiro, São Paulo e Santa Catarina, enquanto as regiões Norte e Nordeste apresentam os menores índices. Se a tendência na abertura de escolas médicas continuar, até 2035, é esperado que o Brasil tenha mais de 1 milhão de médicos, levando à falta de oferta de emprego para todos esses profissionais e à desvalorização da profissão.

“Nós temos hoje 2,6 médicos a cada 1.000 habitantes. Serão profissionais mais jovens e há uma forte ascensão feminina no mercado, o que é bom porque humaniza a Medicina, porém, será uma distribuição desigual. Temos que ter uma política muito séria para que isso não seja perpetuado. Precisamos melhorar a qualidade, a preceptoria, ter hospitais adequados e equipamentos. Não adianta colocar o estetoscópio no pescoço e deixar o médico lá, precisa ter toda uma infraestrutura junto”, comentou.

Para Gonçalves, o exame de revalidação de diplomas médicos expedidos no exterior – popularmente conhecido como Revalida – e o exame de proficiência para os médicos formados no Brasil devem ser realizados por todos os profissionais que queiram trabalhar no Brasil. Além disso, o médico destacou que as normas do Ministério da Educação e da Associação Médica Brasileira são fundamentais para formar especialistas com capacitação.

“Nós não somos contrários ao programa Mais Médicos, mas precisamos aperfeiçoá-lo. Não adianta fazer como ele foi feito no passado e depois deixá-lo morrer, isso é muito ruim. Precisamos de melhores médicos, e iniciativas como o Revalida, Exame de Proficiência e Prova de Título são fundamentais para isso. A competência precisa ser comprovada e conferida, não pode ser presumida”, concluiu.

Atuação importante

Em março deste ano, Antônio José Gonçalves participou de uma reunião com Camilo Santana, atual ministro da Educação, para debater os rumos da educação médica no País, colocando a AMB e demais entidades à disposição para ajudar a lidar com este problema e, assim, contribuir para a reestruturação e melhoria necessária para o setor.

Em abril, o especialista e outros representantes da classe se encontraram com o vice-presidente da República, Geraldo Alckmin, para uma reunião a fim de apresentar as demandas e preocupações dos profissionais em relação ao Mais Médicos e à abertura de novas faculdades.

Fotos: Divulgação