9 em 10 médicos aprovam uso de tecnologias digitais na Saúde

90% dos médicos acreditam que as novas tecnologias digitais, que possuam alto padrão de segurança e ética, podem ajudar a melhorar a assistência em saúde à população.

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90% dos médicos acreditam que as novas tecnologias digitais, que possuam alto padrão de segurança e ética, podem ajudar a melhorar a assistência em saúde à população. A constatação é da pesquisa “Conectividade e Saúde Digital na vida do médico brasileiro”, realizada pela Associação Paulista de Medicina em fevereiro de 2020 e apresentada em coletiva à imprensa na quarta-feira (10), em São Paulo (SP).

A mesma quantidade de profissionais (90%) também entende que o sistema público de Saúde poderia ser beneficiado com novas ferramentas tecnológicas digitais capazes de diminuir as filas de espera por um atendimento especializado.

Participaram do levantamento 2.258 médicos brasileiros, das 55 especialidades, sendo 60,54% de sexo masculino e 39,46% feminino. A base de dados utilizada contemplou os médicos associados da APM e de associações médicas parceiras de vários pontos do Brasil. O questionário foi aplicado por meio da ferramenta Survey Monkey.

Antonio Carlos Endrigo, diretor de Tecnologia da Informação da APM, relembrou que essa é a terceira pesquisa realizada pela Associação sobre o tema desde 2018. “O intuito é entender qual é a receptividade dos médicos no uso das tecnologias digitais na Saúde.”

Endrigo também chamou a atenção para o perfil das pessoas que responderam. A maior parte foi de profissionais de 31 a 40 anos (30,22%). Também participaram médicos das faixas de até 30 anos (8,99%), de 41 a 50 (22,63%), de 51 a 60 (18,47%), de 61 a 70 (15,32%) e de 71 anos ou mais (4,38%).

“Há uma estimativa de que os médicos se formam quando têm em torno de 27, 28 anos. Dessa forma, os de 30 anos, provavelmente, ainda estão na especialização. Se considerarmos médicos que estão abaixo dos 50 anos, estamos falando de 61% dos participantes da pesquisa. Enquanto os idosos – acima dos 60 – são aproximadamente 20%. Isso tem relevância por conta do engajamento em tecnologia de cada faixa”, explica o diretor da APM, que é também presidente do Comitê Organizador do Global Summit Telemedicine & Digital Health.

Destaques
Os dados mostram que os médicos têm endossado muito mais a interação com os pacientes por meio de tecnologias. 65,19% deles utilizam o WhatsApp (e aplicativos similares) para interagir com o paciente e/ou familiares fora do atendimento na clínica ou no hospital. Outros 16,83% mantêm interação por telefone, enquanto 5,67% optam pelo e-mail. Apenas 11,51% dos médicos não utilizam nenhum meio de comunicação fora das consultas.

Dessa maneira, somando os porcentuais relativos às formas de diálogo entre médicos e pacientes via aplicativos de mensagens, e-mail ou chamadas de voz por telefone, 88,49% dos participantes acompanham seus pacientes além do atendimento presencial. Para 58,50% dos pesquisados, o uso de ferramentas de comunicação com pacientes é diário, enquanto 24,84% utilizam algumas vezes na semana.

Por outro lado, as horas dispensadas pelos médicos no contato extra consulta (independente da forma) ainda deixam 99% dos profissionais sem saber como seria o estabelecimento de remuneração ou se haverá a consolidação do entendimento de que o custo está embutido na consulta presencial.

Em termos de Telemedicina, a Telerradiologia foi apontada como a forma mais conhecida entre os médicos (76,75%), seguida pela Telecardiologia (45,53%). Entre os diversos tipos de atuação citados, 30,7% dos pesquisados afirmaram que já utilizam alguma forma de Telemedicina.

Questionados sobre a utilização das tecnologias da Telemedicina, que permitam a segurança dos dados e a privacidade entre médico e paciente, 70% dizem acreditar que é possível ampliar o atendimento além do consultório. Outros 21% afirmaram que talvez seja possível, e apenas 9% não acreditam na Telemedicina.

O medo de a Medicina ser banalizada por meio da Telemedicina aparece em 31,31% dos respondentes e outros 20,42% acreditam que o atendimento médico deva ser exclusivamente de forma presencial.

Já 44,15% dos médicos entendem que a tecnologia faz parte de várias áreas da nossa vida e que a tendência é estarem cada vez mais conectados, enxergando a Telemedicina como uma oportunidade às carreiras. 24,71% concordam que, a longo prazo, a Telemedicina pode ser uma alvissareira para a carreira médica e 15,99% não têm opinião formada sobre o assunto. 8,28% dos entrevistados acreditam que a Telemedicina é uma ameaça para a profissão de forma imediata ou que, em um curto prazo de tempo, se transformará em ameaça (6,86%).

Ainda de acordo com o levantamento, 60,98% dos médicos utilizam tecnologia em seus consultórios e/ou hospitais para o armazenamento de informações do paciente e 39,02% afirmam não usar nenhum tipo de tecnologia. A ferramenta tecnológica mais utilizada no cotidiano das clínicas e hospitais ainda é o prontuário eletrônico, com 48,10%; softwares de gestão de consultórios para agendamento de consultas vêm em seguida, com 18,4%; e armazenamento de dados em HD ou nuvem soma 17,5%.

Regulamentação
A falta de regulamentação é, para 43,76% dos entrevistados, a grande barreira na utilização de ferramentas de comunicação on-line para assistir ao paciente. Outros 32,11% entendem que não existem barreiras e dizem que utilizariam as ferramentas. 28,81% dos médicos não estão acompanhando a discussão com relação à revogação da Resolução 2.227/18; 22,5% não têm opinião formada sobre a questão; 15,7% não conhecem o teor da resolução; e 10,27% não concordam com a decisão da revogação. Apenas 10,45% dos entrevistados acompanham o tema e outros 18,64% concordam com a decisão do órgão regulador.

64,39% dos médicos querem uma regulamentação que permita a ampliação de serviços e atendimentos à população brasileira, incluindo a teleconsulta (médico direto com o paciente). 63,06% utilizariam a Telemedicina como uma ferramenta complementar ao atendimento da clínica/hospital, a partir do momento em que houver uma regulamentação oficial do CFM e com os recursos tecnológicos necessários para segurança e ética da Medicina. 25,16% talvez utilizariam, sem se opor, e apenas 11,78% não utilizariam.

“Lembrando que está vigente, atualmente, uma resolução de 2002 sobre o tema. Uma época sem Facebook, Instagram, iPhone etc. Esse é o tamanho do gap entre a resolução do CFM e as novas tecnologias. Se considerarmos esses dados, vemos que 66,6% dos médicos – somando quem não acompanha, quem não tem opinião formada e quem não conhece o teor da resolução – não estão a par da questão normativa de forma alguma. Isso nos preocupa, pois é um tema que tem grande impacto no que tange à relação médico-paciente”, argumentou Endrigo.

O diretor da APM recorda que a instituição realizou, inclusive, três encontros presenciais em fevereiro de 2019 com diretores, associados, membros de sociedades de especialidade, entre outros, para debater o tema. Após uma leitura detalhada de todos os artigos, a Associação enviou contribuições ao Conselho Federal de Medicina, que ainda está estudando uma nova normativa sobre o tema.

Inteligência Artificial
Durante a coletiva, o cardiologista alemão Andreas Keck, sócio da Strategy Institute for Digital Health (SYTE), fez uma breve apresentação sobre a importância da inteligência artificial (IA) na Medicina, mais especificamente em sua especialidade. Ele iniciou mostrando um pouco do funcionamento do The Framingham Risk Score, um algoritmo que, com alguns dados sobre o paciente, estima o risco cardiovascular de um indivíduo pelos próximos 10 anos.

O especialista, entretanto, pontuou a limitação do modelo, mostrando que o score não leva em conta, por exemplo, o local onde o indivíduo mora – residir em uma esquina movimentada ou em uma floresta tem uma grande diferença nesse caso – ou a etnia, por exemplo. Além disso, Keck explicou que há diversas variáveis para o cálculo do risco cardiovascular, como a sensibilidade ao sal, o colesterol, a pressão sanguínea, entre outras.

“Assim, a IA ajuda a indústria a ver o caso individual dos pacientes a partir de suas características”, detalhou. Além disso, o alemão – que será palestrante do Global Summit Telemedicine & Digital Health 2020 – mostrou que a IA pode ser determinante na predição de paradas cardíacas súbitas, por exemplo, posto que acontecem por determinação genética.

“A inteligência artificial irá ajudar a economizar recursos, enquanto aumenta a qualidade do cuidado, trazendo um impacto positivo no atendimento”, aponta o sócio da SYTE. Antes de finalizar, ele indicou que em sua especialidade – a Cardiologia – a IA já está presente em todos os aspectos: na pesquisa, nos remédios, na estratificação, na definição de prioridades, nos hospitais, entre outros.

Para Jefferson Fernandes, presidente do Conselho Curador do Global Summit, a intervenção de Keck deixou claro que a com a IA é possível realizar, de maneira mais pragmática, o que se chama de Medicina de precisão ou Medicina personalizada. “São tantas as variáveis que podem influenciar na evolução de uma pessoa que é difícil para o médico juntar todas e encaminhar uma decisão baseada nelas. Esse é um dos grandes benefícios que a inteligência artificial traz.”

LGPD
A apresentação aos jornalistas também discutiu brevemente a Lei Geral de Proteção de Dados 13.709 (LGPD), que entra em vigor em agosto deste ano. A legislação tornará único o ordenamento jurídico brasileiro no que se refere a segurança, proteção e privacidade dos dados dos cidadãos.

Endrigo argumenta que o tema é parte importante da programação do Global Summit Telemedicine & Digital Health 2020, tendo sido, inclusive, o mote de um warm up realizado em São Paulo, em fevereiro último. “Nós observamos com preocupação, nessas discussões, que de maneira o setor de Saúde não está preparado para a lei – tanto os médicos, quanto os estabelecimentos. Poucos mergulharam no tema e se preparam para a LGPD.”

Nesse sentido, Keck disse que o Regulamento Geral sobre a Proteção de Dados (GDPR, na sigla em inglês) – correspondente europeu da LGPD brasileira – chocou o sistema de Saúde no bloco. “Inclusive pelo dinheiro necessário para se adaptar. Em cerca de seis meses, entretanto, surgiram serviços que auxiliavam empresas de Saúde a se adequarem à legislação. O que resta na Europa, por outro lado, é um conflito na análise de big data. Discute-se muito a proteção e as melhores formas de se adaptar