Graduada em Medicina pela Korea University College of Medicine, Kyung é mestre em Ciências Médicas e doutora em Medicina pela University Kiel “Doktor der Medizin”, na Alemanha. No discurso de posse para o triênio 2013-2016 na MWIA, declarou o tema “Luta contra a violência” especialmente relacionado ao gênero feminino. A MWIA, fundada em 1916, é uma organização que representa as mulheres médicas de 90 países dos seis continentes. A sede jurídica da associação fica em Genebra, na Suíça. Já a sede administrativa está presente, no momento, em Vancouver, Canadá, onde são coordenadas as atividades. Brígida é cirurgiã e obstetra pela Universidade de Guadalajara, especialista em Medicina Familiar pelo Instituto Mexicano de Seguro Social e em Bioética pelo Instituto Tecnológico de Estudos Superiores, onde é professora em tempo integral. A PAMWA foi fundada em 1946 por destacadas doutoras de 21 países. Um ano depois, na Cidade do México, surge o I Congresso. A Aliança objetiva ampliar os conhecimentos, integrar e fortalecer laços de mulheres na América Latina e Caribe. A cada dois anos, é realizado um congresso para troca de experiências científicas. A delegação fica em Venustiano Carranza, distrito federal do México.
Ivone Minhoto: O que motiva as mulheres a participarem das Associações de Mulheres Médicas, se já existem outras entidades da profissão? Por que a necessidade de instituições envolvendo vários países?
Kyung: É para que nos conheçamos e compartilhemos o nosso conhecimento. A cada três anos, temos um congresso internacional com grande sessão científica, então aprendemos com cada país e compartilhamos o nosso conhecimento, e isso favorece nossas habilidades. Assim, podemos cooperar e fazer amigos, o que é muito importante. Vivemos um período de globalização, o que significa que devemos ter essa rede mundial. Você pode fazer uma pergunta para uma médica na África do Sul, eu posso fazer um questionamento para uma profissional no Brasil. Podemos mandar e-mails para todo mundo. Isso é muito importante.
Brígida: Temos a oportunidade de poder atuar em outras partes do mundo e ver o que pensam os países. Há mulheres médicas de diferentes profissões e especialidades, por exemplo, Pediatria, Ginecologia, Medicina de Família e também acompanhantes, que participam da Associação. A formação de uma Aliança é importante para que todas possam falar a mesma língua, pois observamos que os problemas nos países da América Latina e Caribe são os mesmos.
“Temos muitos projetos, sobre a violência de gênero, liderança e recentemente tratamos da osteoporose, HPV e câncer cervical” Kyung Ah Park
“A Aliança é importante para que todas possam falar a mesma língua, pois os problemas nos países da América Latina são os mesmos” Brígida Alvarez
Marilene Melo: Quais são as principais bandeiras das entidades?
Kyung: Temos muitos projetos. Um deles é a ação contra a violência de gênero. A liderança também é muito importante. Além disso, recentemente tratamos da osteoporose, o que é algo muito relevante para as mulheres, do HPV e do câncer cervical. Isso também faz parte do nosso projeto. Temos algumas outras propostas, como um kit de parto para garantir segurança à parturiente. As mortalidades neonatal e materna ainda são muito elevadas em países subdesenvolvidos. Assim, fizemos este kit de parto, que consiste de gaze limpa, barbante, tesouras e coisas assim. É um pequeno kit, mas uma ferramenta muito eficiente para o parto em países subdesenvolvidos. Acabamos de entregar esses kits na Índia, no Nepal e em países africanos.
Brígida: Atualmente, a Alianza Panamericana de Mulheres Médicas atua principalmente na atualização médica contínua, produção de artigos e inovações técnicas, por exemplo, na área ginecológica.
Ivone Minhoto: E em relação às principais dificuldades das mulheres médicas hoje em dia?
Kyung: Temos a questão da importância da liderança, pois quando lideramos outras mulheres, a sociedade pode melhorar. Assim, nós médicas somos líderes da sociedade.
Brígida: Falando do México, meu país, é a chance de exercer a profissão nos hospitais. Antes, tínhamos a mesma oportunidade. Hoje, a saúde mexicana está sendo privatizada e isso afeta a competição pelo esforço, porque algumas companheiras têm filhos, e isso não as permite trabalhar por oito horas, por exemplo.
Marilene Melo: Quais são as estratégias de crescimento das Associações?
Kyung: O meu sonho é ajudar as mulheres médicas de todos os países associados e suas respectivas entidades nacionais a crescerem, dentro do que é discutido pela MWIA.
Brígida: As estratégias são sempre conectar as médicas latino- americanas em seu dia a dia, por chat e telefone, por exemplo, além dos habituais eventos para, dessa forma, não atuarmos mais apenas como colegas ou irmãs dentro da associação. Assim, sabemos o que acontece em diferentes países.
“Não acredito que deveriam existir políticas distintas por gênero. Deveriam sim ser desenvolvidas oportunidades igualitárias de trabalho, por exemplo, mas não distinções por sexo”
“Meu sonho é ajudar as médicas de todos os países associados e suas entidades nacionais a crescerem, dentro do que é discutido pela MWIA”
Ivone Minhoto: Como as entidades estão inseridas em organizações como a OMS e qual seu contato com os governos?
Kyung: Seria importante que os congressos já realizados pela MWIA fossem incluídos nas pautas dessas organizações.
Brígida: Atualmente, a Organização Mundial de Saúde tem seus próprios regimes e ainda não há inserções da Alianza Panamericana de Mulheres Médicas nela.
Marilene Melo: Existem ou deveriam existir políticas específicas para as mulheres médicas?
Brígida: Não acredito que deveriam existir políticas distintas por sexo ou gênero. Deveriam sim ser desenvolvidas oportunidades igualitárias de trabalho, por exemplo, mas não distinções por ser homem ou mulher.
Ivone Minhoto: Como veem o crescimento da quantidade de mulheres médicas pelo mundo?
Brígida: Acredito que estamos em uma média de 60% de mulheres formadas em Medicina, contra 40% da formação de homens, ou até mais. Alguns hospitais têm preferência por profissionais mulheres, por considerarem que elas trabalham mais, são mais responsáveis e têm mais preparo para assumir lideranças.
Entrevista publicada na Revista APM – edição 672 – novembro 2015