Jurandir Ribas – Exigimos transparência na AMB e a valorização dos médicos já

Candidato à presidência da Associação Médica Brasileira, o atual vice presidente da Regional Centro-Sul e memb ro da Comissão de Assuntos Políticos da instituição também já foi encarregado da Comissão Nacional de Defesa do Ato Médico da AMB – acompanhando desde a criação da lei até a sua promulgação

Entrevistas

Jurandir Marcondes Ribas Filho atua no movimento médico desde 1983, quando se tornou o conselheiro mais jovem da história do Conselho Regional de Medicina do Estado do Paraná (CRM-PR). Presidiu a Associação Médica do Paraná de 1999 até 2002 e, paralelamente, foi convidado para assumir a diretoria acadêmica da AMB, estando presente na entidade desde então. Antes de trilhar este caminho de sucesso na defesa da classe, o médico graduado pela Faculdade Evangélica do Paraná ainda fez dois mestrados pela Universidade Federal do Paraná, um em Morfologia e outro em Clínica Cirúrgica, além de um doutorado nesta especialidade, também pela UFPR. Atualmente, é Professor Titular da Faculdade Evangélica do Paraná. Nesta entrevista, explica como avalia a saúde brasileira, tanto no setor público quanto no privado, a importância do associativismo e o futuro da Associação Médica Brasileira. Defende contas abertas para a garantia da transparência fiscal e a integração da AMB, federadas, sociedades de especialidade e regionais, em prol da valorização da remuneração e do trabalho médico.

Qual futuro imagina para a Associação Médica Brasileira?

Temos que atuar para melhorar a remuneração e a condição de trabalho do médico, esse é um ponto que entendemos ser prioridade absoluta na nossa gestão. Uma Defesa Profissional voltada ao médico, sem esquecer da qualidade de assistência à população. As nossas lutas serão muito intensas em relação a isso. Outra preocupação é de termos uma participação cada vez mais efetiva no Congresso Nacional. Eu, como membro da Comissão de Assuntos Políticos da AMB, sei a importância de atuar no mapeamento de projetos que tramitam na Câmara e no Senado e que interessem aos médicos e à população.

São vários os projetos, desde a defesa profissional, passando pela formação, até o trabalho junto aos parlamentares. Precisamos, principalmente, criar uma integração maior com as sociedades de especialidades, federadas e suas regionais. Essa aproximação fará com que haja mais discussões com o objetivo evidente de unir cada vez mais a classe médica.

Outra coisa que se faz necessária é a criação de estratégias para coibir a proliferação irresponsável das vagas nos cursos de Medicina. É importante salientar que não houve apenas abertura de faculdades, mas também uma ampliação significativa de vagas nas já existentes. Escolas que tinham 60 alunos por classe, hoje têm 180. A maioria das escolas que já existiam, nos últimos 15 anos, aumentaram o número de vagas de uma forma absolutamente incompatível com uma boa qualidade de formação.

“As sociedades de especialidades são a essência da AMB, então, esse modelo de contribuição introduzido recentemente precisa ser revisado”

Ainda em relação à AMB, como vê a obrigatoriedade de contribuição das sociedades de especialidade de R$ 24 anuais por sócio?

Essa é uma questão que vamos rever. Evidentemente que as federadas e sociedades de especialidades são a essência da AMB, então, temos que ter uma relação harmônica, de decisões conjuntas. Temos algo em torno de 40 mil sócios da AMB e cerca de 160 mil nas sociedades, então a colaboração tem de ser mútua. A classe médica é, na verdade, uma só. Então, esse modelo de contribuição que foi introduzido, em minha concepção, precisa ser revisado.

Que papel enxerga para a Associação Paulista de Medicina no associativismo médico?

O trabalho feito na APM – que é a maior federada da AMB – tem sido extraordinário. Basta ver o novo prédio que está nascendo atrás da sede na cidade de São Paulo, uma obra que irá beneficiar muito a classe médica do estado. É importante dizer que, apesar da APM congregar a maior quantidade de médicos da AMB, ela não é importante apenas do ponto de vista quantitativo, mas também qualitativo; até pela qualidade da Medicina que se pratica no estado. Portanto, a Associação Paulista de Medicina é importantíssima no contexto da saúde brasileira e terá, de nossa parte, apoio integral. Tenho um relacionamento muito estreito com a entidade e irei cultivar isso, entendendo que é uma federada fundamental, um dos alicerces do associativismo nacional.

Qual diagnóstico dá à Saúde brasileira?

Infelizmente, está absolutamente depauperada. Obviamente que há problemas da ordem de gestão, mas o principal é a questão do subfinanciamento. Os hospitais que atendem o Sistema Único de Saúde estão deteriorados e não há reajustes na Tabela SUS há mais de 10 anos. As filantrópicas e santas casas, que são as principais responsáveis pelo atendimento da população mais carente, estão em condições de falência. De maneira que a Saúde, mesmo a suplementar, está comprometida. O que eu poderia sintetizar é que a Saúde hoje está pessimamente orientada por parte da área governamental. O problema é que temos no Brasil, além da corrupção endêmica, muitos políticos e gestores que fingem trabalhar em prol da Saúde.

Como professor, de que maneira avalia a atual formação dos médicos?

É outro aspecto altamente comprometido. Nós temos a proliferação de escolas de Medicina – hoje já são quase 280 e mais 30 autorizadas. Além disso, há o problema da má formação do profissional e, evidentemente, isso leva ao prejuízo não somente da classe médica, mas sobretudo da população. O médico mal formado é um profissional que não vai atender de uma forma correta o que a população necessita. Uma das essências do associativismo é procurar auxiliar a formação de qualidade do profissional médico. Nós lutamos grandes batalhas por isso. Infelizmente, é importante dizer que a graduação hoje ocorre em algumas escolas que não têm as mínimas condições de infraestrutura, assim como docentes qualificados.

Como foi sua experiência como diretor de um grande hospital?

Fui diretor geral do Hospital Evangélico, que é uma unidade universitária e, na época, era o maior em leitos ativos do Paraná. Por ser um hospital filantrópico, lá é atendida a população fundamentalmente carente, sendo mais de 90% usuários SUS. Obviamente, o hospital vive com grandes dificuldades, à semelhança de todas as filantrópicas do Brasil, pois depende substancialmente dos recursos do Ministério da Saúde. Infelizmente, sua sobrevivência ocorre com muitas dificuldades. Eu, como diretor geral, me dediquei demais nos dois anos em que ocupei a posição, mas vivendo muito angustiado pelos recursos cada vez menores, repasses abaixo do esperado, glosas etc. Dificuldades que estão espalhadas em todo o Brasil, basta ver por exemplo a Santa Casa de São Paulo, uma das mais importantes instituições de saúde da América Latina, que também passou por uma crise sem precedentes.

Qual o papel do associativismo nesse cenário da Saúde nacional?

Claro que a AMB e suas federadas são entidades de representação e defesa do médico, além dos aspectos da formação do profissional e de sua atualização científica – através das 53 sociedades de especialidades que fazem parte da entidade –, mas jamais podemos esquecer da defesa de uma boa saúde para a população. O associativismo não pode se distanciar da sociedade, de maneira que temos que reivindicar melhores honorários e condições de trabalho aos médicos, infraestrutura adequada em unidades e hospitais, assim como também atendimento de qualidade ao cidadão brasileiro.

E por fim, como enxerga o momento da saúde suplementar?

O setor hoje representa não mais do que 25% do total e está passando por um problema grande, na medida em que diminuiu a população com acesso aos planos. Grande parte dos usuários estava no modelo por ser funcionário de empresas, e como hoje o desemprego é um dos problemas mais graves do Brasil, a população possui muita dificuldade de ter um plano de saúde. A quase totalidade das operadoras, no intuito de cortar todas as suas gorduras, está remunerando muito mal a classe médica, o que, aliás, não é de agora. A saúde suplementar sofre um processo de deterioração; os reajustes de honorários para os médicos historicamente não acompanham aqueles que os planos recebem dos seus segurados. Ao longo do tempo, essa situação está inviabilizando a atuação médica. Grande parte deles acaba deixando os planos por conta das pressões, falta de condições de exercer bem a Medicina e remunerações irrisórias, quase aviltantes. Essa é mais uma questão pela qual temos que lutar. Precisamos da Defesa Profissional atuando cada vez mais em relação a isso, pois é ruim para o médico e ruim para a população.

Entrevista publicada na Revista da APM – edição 691 – agosto 2017