José Henrique Germann Ferreira – Temos de batalhar por uma assistência eficiente

O novo secretário de Estado da Saúde de São Paulo, José Henrique Germann Ferreira, aponta os principais anseios da área, o diálogo com o Governo Federal e a contribuição médica para otimização dos recursos.

Entrevistas

Graduado pela Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo, mestre em Administração Hospitalar e Sistemas de Saúde pela Fundação Getúlio Vargas e doutor em Administração Hospitalar e Saúde pela Faculdade de Saúde Pública da USP, José Henrique Germann Ferreira assumiu a Secretaria de Estado da Saúde de São Paulo em 1o de janeiro deste ano. No currículo, soma experiências em cargos diretores e de superintendência em instituições importantes de São Paulo, além de ter coordenado programas de qualidade e gerenciamento de corpo clínico em 15 cidades brasileiras. Para o governo estadual, afirma que os objetivos serão pautados em diagnóstico e tratamento adequados, eliminação de desperdícios e satisfação do assistido. Com o Ministério da Saúde, nesta primeira etapa, a prioridade será regularizar os medicamentos de alto custo. Confira a seguir entrevista exclusiva para a Revista da APM.

Revista da APMQuais são suas prioridades na Secretaria Estadual de Saúde de SP?

José H.G.Ferreira
: Na verdade, focamos em três objetivos: primeiro, diagnóstico e tratamento adequados com segurança para o paciente, em todo o processo assistencial. O segundo seria melhorar a eficiência, eliminando o desperdício. Quando falo em otimização dos recursos, não estou me referindo sobre a necessidade de economizar no cafezinho, e sim sobre o desperdício assistencial. Por exemplo, uma análise e um diagnóstico corretos evitam o retrabalho de se fazer atendimentos a mais e repetições de procedimentos. Se isso ocorre é porque há falhas em algumas supervisões e outros aspectos.Por isso, temos de batalhar sempre por uma assistência regrada e eficaz. Por fim, o terceiro objetivo está relacionado à qualidade, buscando a satisfação do paciente. Para chegar nisso, temos de começar com gestão de pessoas e inovação digital. Esse são os nossos propósitos.

No diálogo com o Governo Federal, quais as principais demandas?
Temos feito um trabalho com o Ministério da Saúde, em conjunto com outros estados brasileiros, por meio do Conselho Nacional de Secretários de Saúde (Conass), para que se possa regularizar a questão dos medicamentos de alto custo. Hoje, essa é a nossa prioridade máxima. Obviamente há muitos problemas, outros vão aparecer, serão colocados em foco e atacados. No entanto, o ministro da Saúde, Luiz Henrique Mandetta, é bastante acessível e tem trabalhado muito neste sentido, além de nos mostrar também as demandas e dificuldades da Pasta.

Em 30 anos de SUS, o que considera como avanço e o que ainda é desafio?
O governo estadual de São Paulo conseguiu nos últimos 15 anos ser o órgão de implantação das políticas nacionais do Sistema Único de Saúde, cabendo aos municípios a assistência e a efetividade na prestação de atenção à saúde, por serem os grandes detentores das atividades. Tornamse responsabilidade do estado dois aspectos fundamentais: primeiro, a questão tática de dar suporte e ajudar na implantação da municipalização da Saúde; segundo, a ocupação de espaços que os municípios não conseguem atingir. Então, o estado precisa suprir essas necessidades para que a população não fique desprovida de recursos para atendimento.

Como reequilibrar os recursos para alta, média e baixa complexidade?
Dividindo o que é de responsabilidade do estado e dos munícipios. As cidades são responsáveis pela média e baixa complexidades. E o estado tem de suprir o município de questões vinculadas à alta complexidade. Com essa divisão, em outras palavras, quero dizer que o estado possui mais recursos para cuidar de pacientes em estado grave que, por sua vez, necessitam de uma atenção maior.

De que forma os médicos podem contribuir com o uso racional dos recursos da área pública?
Fazendo a prevenção, o diagnóstico e o tratamento adequados desde o início. Há um número de exames alto, obviamente relacionado à atenção médica. Se seguíssemos corretamente os protocolos, seguramente não teríamos este número de análises represadas e as ofertas seriam condizentes com as demandas. Mas hoje a oferta não consegue atender todas as solicitações.

Como enxerga o sistema suplementar de saúde, especialmente em São Paulo?
Nos Estados Unidos, a saúde é um negócio. Em países da Europa, um direito. Aqui, coexistimos com os dois sistemas: interesse público e privado. Se o SUS fosse suficientemente bom, ninguém pagaria por um plano de saúde. Mas é importante apontarmos um desequilíbrio sistêmico nas contas. Levantamento de 2017 informa que a estimativa do custo total da Saúde no Brasil é de R$ 590,2 bilhões por ano. A população usuária do sistema público é de 209,2 milhões, com gastos somados das três esferas (federal, estadual e municipal) de R$ 265,6 bilhões, com per capita anual de R$ 1.270,80. Já na saúde suplementar, temos 43,7 milhões de beneficiários, com receita anual de R$ 179,3 bilhões, com R$ 3.790,00 por usuário.

Por fim, qual sua avaliação sobre o uso de novas tecnologias para o atendimento, a exemplo da Telemedicina?
A Telemedicina é irreversível e vai se transformar ainda mais. Entendo que se hoje nos relacionamos dessa maneira, então vamos acompanhar as tendências. Se forem regulamentadas novas regras para sua utilização, teremos de nos adequar. Na Teledermatologia, por exemplo, a relação a distância ocorre entre médicos. O clínico da UBS de Catanduva, por exemplo, dialoga com o dermatologista da capital paulista que, por sua vez, devolve o laudo. Esse conjunto de tecnologias e aplicações digitais veio para ficar.

“Nos Estados Unidos, a saúde é um negócio. Em países da Europa, um direito. Aqui, coexistimos com dois sistemas”

Experiência
O novo secretário é doutor em Administração Hospitalar e Saúde e atuou em grandes instituições.

Raio X
José Henrique Germann Ferreira

Formação
Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo

Especialidades
Cirurgia Geral e Administração Hospitalar

Carreira
Foi diretor dos hospitais Albert Einstein e Sírio Libanês e é o atual secretário estadual da Saúde de SP

Texto: Keli Rocha
Fotos: BBustos Fotografia