Eitan Naaman Berezin – Imunização é uma importante arma

Graduado em Medicina pela Universidade de Santo Amaro, mestre e doutor em Pediatria e Ciências Aplicadas à Pediatria pela Universidade Federal de São Paulo, Eitan Naaman Berezin afirma que o movimento antivacinas no mundo pode aumentar o risco de infecções e causar o retorno de doenças erradicadas ou controladas, como sarampo e poliomielite.

Entrevistas

Confira a seguir entrevista com ele, que é professor Titular de Pediatria e chefe do setor de Infectologia Pediátrica da  Faculdade de Ciências Médicas da Santa Casa de São Paulo, além de servidor público do Hospital Emílio Ribas.

Revista da APMHá um movimento antivacinação no mundo e, segundo a OMS, isso trará riscos à saúde global. Quais são os vírus que podem surgir ou ressurgir com a resistência à imunização?

Eitan Naaman Berezin: O maior risco em relação ao grupo antivacina seria o ressurgimento de infecções que julgamos, senão erradicadas, no mínimo controladas. Um exemplo disso é o caso do sarampo, tendo um forte ressurgimento nos países desenvolvidos, como da Europa e nos Estados Unidos. A poliomielite é outra infecção viral de risco, caso não se mantenha altas taxas de coberturas vacinais. Ao mesmo tempo que temos o movimento antivacina, há uma diminuição da imunização e queda nas coberturas vacinais em países que vivenciam crises econômicas, como é o caso da Venezuela.

Quais os principais motivos que levam as pessoas a optarem por não vacinar?
Primeiro, há crenças de que ter hábitos saudáveis seria suficiente para evitar doenças, o que é uma inverdade. A prevenção delas faz parte da melhor qualidade de vida, e a imunização é a forma mais segura para esse cuidado, mas não são exclusivos. Em segundo ponto, riscos de eventos adversos associados a vacinas podem ser supervalorizados. Como imunização é uma ação de saúde pública e atinge grandes populações, os efeitos colaterais podem ocorrer em números maiores. Por fim, alguns falsos experts com dados irreais, mas frequentemente convincentes, disseminam inverdades em relação à imunização.

Qual a importância da imunização?
É uma importante arma preventiva e atinge toda a população. Além de evitar o adoecimento no indivíduo protegido, também previne a disseminação de doenças, contemplando ainda os não imunizados. A vacinação protege especialmente as crianças no período de desenvolvimento, quando são mais suscetíveis às infecções.

Qual o papel do médico em incentivar a sociedade a se vacinar?
A população confia no médico e nas suas recomendações, portanto, ele é a figura central no sistema de saúde e tem grande influência sobre os pacientes. É importante que todos os especialistas reservem um tempo em suas consultas de rotina para orientar sobre a imunização.

O que os órgãos públicos devem fazer nesse sentido?
O calendário nacional de imunização do Brasil é um dos mais completos do mundo e o acesso é garantido a toda população. Os órgãos públicos devem tornar a imunização mais acessível, inclusive aumentando os horários de vacinação no período noturnos e fins de semana.

Pesquisadores da UFRJ e da Fiocruz descobriram que a vacina contra febre amarela pode proteger contra o vírus zika. Quais são os agentes químicos determinantes para isso?
O vírus da zika e da febre amarela são flavivírus e apresentam algumas semelhanças. A imunização é possível por meio de um processo chamado “proteção cruzada”. Nesse mecanismo, um agente infeccioso presente na vacina leva ao desenvolvimento de resposta imune contra outro patógeno. Ambos pertencem ao mesmo grupo e suas estruturas biológicas são muito similares, no entanto, não há evidência real dessa proteção cruzada. A redução dos casos de zika tem poucas chances de estar relacionada com a vacinação para febre amarela.

Quais são as reações adversas mais graves causadas pela vacina contra febre amarela? Usada desde a década de 1930, essa imunização é comprovadamente segura?
A vacina contra febre amarela apresenta reações adversas semelhantes a de outras imunizações, inclusive em população que não apresenta nenhuma doença imunossupressora. Entretanto, no grupo que apresenta alguma doença imunossupressora, as reações podem ser de maior gravidade, mimetizando a própria enfermidade. Isso ocorre por ser uma vacina de vírus vivo. Fora da população imunossuprimida, é bastante segura. O Brasil é um dos maiores fabricantes mundiais desta vacina, que já foi utilizada em diversos países do mundo, particularmente em alguns da África, mostrando bons resultados no controle de epidemias.

De acordo com o Ministério da Saúde, em boletim divulgado no dia 8 de maio, 99 pessoas morreram no País vítimas do Influenza e houve a infecção de 896 em todo o País. Neste caso a vacina é realmente eficaz?
A vacina de Influenza é composta de vírus inativados de três linhagens: uma cepa de vírus A H3N2, uma cepa de vírus A H1N1 e uma cepa B. As imunizações mais recentes disponíveis na rede privada apresentam duas cepas da linhagem B e, portanto, são vacinas quadrivalentes. Ela apresenta uma proteção de cerca de 60%, que se inicia 15 dias após a aplicação e apresenta duração de seis meses a um ano. Como o vírus Influenza é sazonal e tem pico de incidência nos meses frios do ano, a imunização deve ser repetida anualmente. Importante também atingir níveis altos de cobertura. Como a campanha de vacinação para Influenza no hemisfério Sul se inicia em abril, podem ocorrer casos antes do início da vacinação, principalmente no Norte do País, que pode se comportar, em termos de período da circulação do vírus, como um país do hemisfério Norte.

Raio-X
Eitan Naaman Berezin
Formação
Universidade de Santo Amaro
Especialidade
Pediatria
Carreira
Professor Titular de Pediatria e chefe do setor de Infectologia Pediátrica da Santa Casa de São Paulo

Entrevista publicada na edição 711 da Revista da APM – Junho/2019