Alicerces da cirurgia paulista e nacional

No o início de fevereiro, o Colégio Brasileiro de Cirurgiões – Capítulo São Paulo homenageou os cirurgiões Adnan Neser e Nilton Roberto Martines, por meio do Prêmio Eurico Branco Ribeiro, e concedeu o Prêmio Benedicto Montenegro a Antônio Pedro Mirra.

Entrevistas

As contribuições dos três profissionais foram e continuam sendo fundamentais para a Medicina e para a Cirurgia, em áreas assistenciais, de pesquisa, ensino, gestão, cultural, social e associativa.

Entre muitos outros feitos, Adnan Neser ocupou a direção Clínica da Casa de Saúde Santa Marcelina, contribuindo para a criação do Curso de Medicina do hospital, é membro emérito da Academia de Medicina de São Paulo e participa ativamente da Comissão Nacional de Residência Médica. Já Antônio Pedro Mirra foi chefe do Serviço de Cirurgia Torácica do Hospital A. C. Camargo e Professor Titular de Bioestatística e de Medicina Preventiva na Faculdade de Medicina de Taubaté, além de docente voluntário de Epidemiologia na Faculdade de Saúde Pública da Universidade de São Paulo. Além de membro emérito do CBC, Nilton Roberto Martines é preceptor de Cirurgia para alunos da Faculdade de Medicina UNILAGO (União dos Grandes Lagos), de São José do Rio Preto, e diretor técnico e clínico da Santa Casa de Misericórdia de Olímpia.

REVISTA DA APM: De que forma a Cirurgia brasileira contribui para as diversas especialidades e para o mundo?
ADNAN NESER:  A cirurgia brasileira tem avançado muito nos últimos anos e colaborado em todos os aspectos com várias situações no mundo, por meio de trabalhos de pesquisa, do desenvolvimento de técnicas e, principalmente, do ensino da própria Cirurgia Geral e das demais especialidades cirúrgicas. Essa contribuição é marcante, com reconhecimento internacional, tendo a premiação de vários cirurgiões brasileiros como exemplo.

ANTÔNIO MIRRA: Nós nos desenvolvemos de tal maneira que estamos praticamente em competição com os demais países. Realmente o avanço tecnológico da nossa cirurgia sobrepõe inclusive muitos outros países.

NILTON MARTINES: A cirurgia brasileira é referência no mundo. Nosso profissional se destaca pela sua grande habilidade, um diferencial entre os grandes cirurgiões de outros países. A capacidade de resolução, alinhada à boa técnica com poucos recursos – principalmente quando se trata de cirurgiões do interior – é absolutamente invejável no mundo todo. A capacidade técnica do cirurgião brasileiro é extremamente destacada.

Em quais áreas cirúrgicas o País ainda precisa se aprimorar?
ADNAN NESER: O Brasil vem se apri – morando sistematicamente. Estamos em um período de grande revolução tecnológica; temos a cirurgia robótica que está em pleno desenvolvimento, além da própria laparoscópica. Com todos esses avanços, os cirurgiões têm se dedicado e se aprimorado, inclusive com a procura crescente de médicos jovens por essas atualizações.

ANTÔNIO MIRRA: Praticamente em todos os setores, temos nos desen – volvido de maneira geral. Acredito que fica difícil avaliar quais as áreas apresentam desafios importantes porque chegamos a um nível signi – ficativo de atuação, contemplando todas as especialidades cirúrgicas.

NILTON MARTINES: O Brasil precisa ampliar a formação de cirurgiões gerais, que conseguem resolver no seu local de trabalho pelo menos 80% de todas as patologias. Ou seja, precisamos de profissionais para atuar em todas as áreas, porque os hospitais do Brasil hoje estão lotados e não tem sentido mandar cirurgias de médio porte para hospitais universitários. O Brasil caminha errado na segmentação das especialidades, porque precisamos é de bons clínicos e cirurgiões gerais.

Em que o estado paulista tem contribuído neste sentido?
ADNAN NESER: São Paulo é um grande motor do País. É o estado com mais cirurgiões famosos, maior representatividade e atuação no grande desenvolvimento da cirurgia, além de ter o maior número de hospitais cirúrgicos e o maior número de procedimentos, em todos os sentidos. Logicamente que não há nenhum demérito aos demais estados, pois também há vários profissionais de grande referência em outras localidades.

ANTÔNIO MIRRA: São Paulo é um ponto de destaque em avanço cirúr – gico, inclusive levando qualificação e atualização técnico-científica a todos os cirurgiões brasileiros, por meio de suas instituições e fundações.

NILTON MARTINES: O estado de São Paulo é a locomotiva do País em todos os sentidos. Na área médica, tecnológica e financeira, desponta-se no mundo. 

Quais são as principais discussões atuais sobre o desenvolvimento da Cirurgia brasileira?
ADNAN NESER: Estamos vivendo uma época de experiência no ensino da Ci – rurgia. Depois de muito tempo, até em razão das batalhas do Colégio Brasileiro de Cirurgiões, a Comissão Nacional de Residência Médica acatou o aumento do tempo de formação, e a residên – cia em Cirurgia Geral passou para três anos. Mais do que isso, as nove especialidades cirúrgicas mantiveram a necessidade de formação básica em Cirurgia com duração de dois anos para residentes. As duas maneiras de formação estão sendo acompanhadas pela Comissão Nacional de Residência Médica, que decidirá definitivamente ao final do primeiro ciclo de três anos. O CBC também tem feito vários cursos de educação continuada, em todos os níveis e em todos os estados, uma representação grande para o desenvol – vimento da Cirurgia.

ANTÔNIO MIRRA: Temos como refe – rência a própria contribuição do CBC, que desenvolve métodos de ensino e leva, por meio de cursos, simpósios, seminários e palestras, atividades de conhecimento e atualização em Cirur – gia por todo o Brasil.

NILTON MARTINES: A grande discussão que se tem hoje no Brasil é a má qualificação dos médicos, com um exagero enorme na abertura de faculdades sem infraestrutura adequada para formar futuros médicos e cirurgiões. Muitos deles também não têm residência adequada, de maneira que a nossa grande preocupação é com o paciente, que sofre lá na ponta.

O que esse reconhecimento do CBC-SP significa para a sua carreira?
ADNAN NESER: O reconhecimento pro – fissional, por meio do Prêmio Eurico Branco Ribeiro, é muito representativo para a minha carreira porque expõe os meus 52 anos de dedicação à profissão, a minha contribuição ao desenvolvi – mento da própria Cirurgia e de tudo que realizei pelo ensino, tanto em Cirurgia Geral quanto em Vascular.

ANTÔNIO MIRRA: Realmente foi uma surpresa essa homenagem e levoume a recordar da minha contribuição histórica. Minha iniciação em Cirurgia ocorreu no Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo, tendo como chefe e professor o próprio Benedicto Montenegro, consideradoum dos maiores cirurgiões da época. A experiência foi um marco de aprendizado e desenvolvimento em Cirurgia Geral, depois passando para especialidades no A. C. Camargo.

NILTON MARTINES: É o reconhecimento de toda a minha carreira profissional, sobretudo, por ser um cirurgião do interior que se propõe a trabalhar para e pela sua comunidade. Ser reconhecido pelo CBC-SP é realmente escrever a mi – nha história. Por isso, para mim e para a minha cidade, Olímpia, é um orgulho.

Raio X – Adnan Nasser
Formação: Escola Paulista de Medicina da Universidade Federal de São Paulo
Especialidade: Cirurgia Geral e Vascular
Carreira: Foi diretor clínico da Casa de Saúde Santa Marcelina

Raio X – Antônio Pedro Mirra
Formação: 
Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo
Especialidade: Cirurgia Oncológica
Carreira: Foi docente da Unitau e da USP e chefe de Cirurgia Torácica do Hospital A. C. Camargo

Raio X – Nilton Roberto Martines 
Formação: 
Faculdade de Medicina de Vassouras (RJ)
Especialidade: 
Cirurgia Geral, Digestiva, do Trauma e Oncológica
Carreira:
 Diretor técnico e clínico da Santa Casa de Misericórdia de Olímpia