Consumo de bebidas funcionais cresce no Brasil. Fazem bem para a saúde? Especialistas comentam

Movimento é mais forte do setor de bebidas. Especialistas concordam que os benefícios existem, desde que não haja exageros

O que diz a mídia

Num momento em que o conceito de saudabilidade se torna mais complexo, consumidores querem produtos que sejam gostosos, mas com cada vez mais nutrientes e vitaminas. Isso acontece também porque muitos brasileiros não têm certeza se estão consumindo todos os nutrientes necessários, então recorrem aos alimentos funcionais como uma forma de “turbinar” a dieta.

Segundo Manuela Dolinsky, professora associada da Faculdade de Nutrição e coordenadora do ambulatório de Dietética e Alimentos Funcionais da Universidade Federal Fluminense (UFF), alimentos funcionais são aqueles que, além de oferecerem os nutrientes essenciais, contêm compostos bioativos que promovem benefícios adicionais à saúde.

Em sua maioria, esses compostos estão presentes em alimentos de origem vegetal e têm sido associados à prevenção e ao controle de doenças crônicas não transmissíveis (DCNT), como doenças cardiovasculares e câncer.

Pesquisas indicam, segundo a especialista, que os brasileiros ainda consomem compostos bioativos abaixo do recomendado. Lara Natacci, vice-presidente da Sociedade Brasileira de Nutrição (SBAN), diz que, nesse sentido, os alimentos funcionais podem ser aliados, sobretudo quando há alguma necessidade nutricional em particular.

Além disso, alguns produtos podem ajudar na saúde intestinal e na imunidade, mas é errado imaginar que apenas consumir esses alimentos resolve todos os problemas:

— As pessoas não podem achar que apenas consumir esses produtos vai trazer uma alimentação equilibrada. Há também uma sensação falsa de que só porque o produto é saudável só porque tem um nutriente extra, e nem sempre é assim. O produto pode ser rico em açúcar, sódio, ou até em gordura saturada.

Manuela acrescente que o brasileiro deve ter uma dieta equilibrada para aumentar o efeito dos alimentos funcionais contra as DNCT:

— Para maximizar os efeitos protetores contra as DCNT, é essencial adotar uma dieta equilibrada e diversificada, incorporando alimentos funcionais ricos em compostos bioativos.

Embora estudos mostrem que o consumo regular de compostos encontrados em alimentos funcionais pode ajudar a modular a microbiota intestinal, reduzir o risco cardiovascular, fortalecer o sistema imunológico e prevenir doenças crônicas, o consumo excessivo pode causar efeitos adversos ou até toxicidade, dependendo da substância, da dose e das características individuais de cada pessoa.

Por exemplo, prebióticos e fibras fermentáveis, quando consumidos em grandes quantidades, podem causar flatulência intensa, distensão abdominal, cólicas e diarreia.

Comer não é mais ‘encher barriga’

Para Cristina Souza, CEO da Gouveia Foodservice, empresa do Gouveia Ecosystem, a tendência dos alimentos e bebidas funcionais deve crescer ainda mais, já que, para os consumidores, “comer não é mais apenas encher a barriga:

— Como as pessoas não têm certeza se comeram a quantidade de alimentos correta para terem todos os nutrientes, procuram soluções com benefícios à saúde — diz Cristina.

Segundo Cristina Souza, o setor de bebidas carbonatadas está em declínio, e os consumidores não consideram mais néctares e sucos tão saudáveis. Ela explica que o conceito de “saudável” se fragmentou: algumas pessoas associam à redução de ultraprocessados, outras à alimentação orgânica ou à diminuição do consumo de carne. Já os alimentos funcionais, ao trazerem ingredientes que promovem benefícios extra, criam um gatilho emocional que impulsiona o consumo.

Dentro do universo dos alimentos funcionais, um segmento em particular tem ganhado mais destaque: as bebidas “turbinadas”. Especialistas apontam que esse crescimento ocorre porque a categoria de bebidas permite ajustes nas fórmulas com mais facilidade e menor custo. Leonardo Cyreno, Diretor de Growth e Eficiência Comercial na AGR Consultores, vê esse movimento como um avanço na tendência de consumir produtos mais saudáveis, sem exigir mudanças radicais nos hábitos alimentares.

— A onda está em produtos naturais? Sim, mas a funcionalidade atrai o consumidor. Você pensa no imediatismo, no consumo prático de um alimento complementar, está em linha com o funcionamento da vida hoje. Eu posso não trazer isso para o meu almoço, mas faz sentido ter funcionalidade no snack e na bebida.

Em 2025, a Coca-Cola Company lançou a Simply Pop, enquanto a PepsiCo adquiriu a Poppi, ambas marcas de bebidas prebióticas — que estimulam as bactérias “boas” do organismo. No ano passado, a Natural One trouxe ao mercado uma linha funcional à base de yacon, tubérculo conhecido por auxiliar a digestão, enquanto a Minalba iniciou a distribuição no Brasil do isotônico Sorox, da Genomma Lab.

Bernardo Abrantes, diretor de marketing da Genomma Lab Brasil, explica que o Sorox foi desenvolvido para que o consumidor que quer se hidratar, mas ter um produto gostoso, com concentração ideal de sais minerais, sem adição de açúcar e com baixo teor calórico.

— As bebidas são, sem dúvida, um dos segmentos onde a demanda por produtos funcionais tem crescido e continua a ganhar força — diz.

Fonte: O Globo – confira aqui