Por Edgard Steffen
Lembro-me perfeitamente de quando o vi pela vez primeira vez, no anfiteatro A, após aula inaugural ministrada pelo saudoso Prof. Dr. Odorico Machado de Souza.
Retirados os professores e as autoridades, Dr. João Câncio Azevedo Sampaio, secretário-geral da Faculdade de Medicina de Sorocaba, sugeriu que os 51 aprovados no primeiro vestibular se apresentassem aos colegas e se preparassem para a organização de um Centro Acadêmico.
O secretário chamou-nos pela classificação no vestibular. De cara, conhecemos aquele moço alto e carismático que fora o primeiro colocado. Com voz forte e em palavras simples, apresentou-se.
Viera de São Carlos (SP). Alguns dias após, era eleito presidente da comissão organizadora do Centro Acadêmico que receberia o nome de Vital Brasil (com “s”, como grafei na ata).
Elaboramos o estatuto numa adaptação do vigente no Centro Acadêmico Oswaldo Cruz, da FMUSP. Nas múltiplas reuniões e assembleias, Prigenzi costumava referir-se ao CAOC da Faculdade do Araxá e nós, interioranos recém-saídos do curso científico, nos referíamos ao nosso projeto de entidade acadêmica pelo nome de Grêmio. Esta denominação o irritava sobremaneira. Não deu outra. Os humoristas de plantão passaram a identificá-lo pelo nome de guerra “Pai do Grêmio”.
Fundado o CAVB, Luiz Sebastião Prigenzi foi eleito presidente. Sob sua diretoria, foram criados os símbolos do CAVB, a “Festa da Amizade” (de saudosa memória) e os times de futebol, basquete e vôlei que disputaram o campeonato estudantil local e a olimpíada da PUCSP.
Passados 66 anos, restavam 10 daquele grupo. Cinco exerceram a profissão na própria cidade que os formou. Aposentado, Prigenzi voltou para a terra de sua esposa. Na última vez em que o vi, almoçava com Nancy e as filhas Maria Laura e Maria Luisa num restaurante da cidade. Após muitos anos de gravata e avental em centros de pesquisa e/ou ensino, podia agora ser visto, de bermuda e tênis, em compras para abastecimento doméstico.
Sua morte quase passou despercebida. Entre notas do obituário, o sobrenome apareceu com falta de uma consoante. Conhecendo as implicações e complicações da doença que o afligia, não aceitou nem quimioterapia nem intervenções cirúrgicas. Apagou para esta vida, no recesso do lar, cercado pela família que formara. Apagou sem lamentos ou temores. Como quem adormece.
Os sobreviventes da 1ª turma não esquecerão aquele 1º presidente do CAVB, que faturou o 1º lugar no 1º vestibular da 1ª Faculdade de Medicina a funcionar em cidade do interior do Brasil.
Às vezes, imagino sua chegada onde estão os que partiram antes. Ao abraçá-lo, dirão em coro “Bem-vindo, pai do Grêmio!”. Só para ouvir a resposta “Não é Grêmio. É Centro Acadêmico, gente!”
Luiz Sebastião Prigenzi (20/01/1929 – 04/01/2017)
Resquiacat in pace
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Sob o título “Patologia Clínica da Unicamp perde o Professor Luiz Sebastião Prigenzi”, a revista daquela universidade anunciou o falecimento do fundador do Departamento de Patologia Clínica da Faculdade de Ciências Médicas da Unicamp. Textualmente, identificou-o como “marcado pelo seu pensamento questionador à frente de seu tempo”.
Formado pela Faculdade de Medicina de Sorocaba (1956), Prigenzi atuou no Campus Sorocaba da PUC-SP como assistente de Clínica Médica (1957 a 1965), chefe de Clínica (1962 a 1963), assistente de Química Biológica e chefe do Laboratório Central (1957 a 1970).
Ingressou na Unicamp em 1970, como professor do curso de pós-graduação em Imunologia e professor-assistente da disciplina de Imunologia Clínica. Doutorou-se com a tese “Contribuição ao estudo da agamaglobulinemia primária adquirida (1976)”. Estagiou em centros de pesquisa da Espanha, Alemanha e Inglaterra.
Foi diretor-geral do Instituto Adolfo Lutz (1987), presidente-executivo do Centro de Controle de Doenças da SES (Secretaria de Estado da Saúde, 1987), membro da Sociedade Brasileira de Imunologia e consultor da União Internacional das sociedades de imunologia clínica.