TELEMEDICINA. TELEDIAGNÓSTICO. Teleorientação (médica?). Teletriagem. Teleinterconsulta ou teleconferência médica. Tele-etecetera… Algumas das “teles”, vamos encontrá-las nos dicionários. Outras não estão lá ainda. Suspeito que, nas próximas horas, nascerão muitas mais.
São novidades disruptivas. Fazem-nos medo. Teriam as “teles” o condão de destruir a Medicina? Fazerem namenor? Diminuí-la? Deformá-la (considerando a conotação negativa do termo)? Transformá-la (considerando a incerteza que a expressão encerra)?
Essas novas tecnologias facilitariam a integração dos profissionais que compõem a linha de cuidados ao paciente? Trariam elas irrelevância ao papel do médico ou o elevariam a outro patamar de significância? Reduziriam o padrão de assistência à saúde ou contribuiriam para sua melhor qualificação?
Seriam elas uma alternativa barata, voltada para as vastas camadas desfavorecidas da sociedade, hoje alijada da Medicina tradicional? Ou ampliariam o acesso à Medicina e aos médicos, otimizando a utilização dos parcos recursos ora disponíveis? São oportunidades a serem bem aproveitadas ou ameaças a serem combatidas?
Que lição tiramos do passado? Telescópios distanciaram-nos das estrelas? Telégrafos, telegramas e telefones afastaram as pessoas?
Diante de tamanha incerteza, somente arriscaria tomar como certo que as “teles” não fazem parte do futuro inevitável. São o presente a ser trabalhado por quem o vive. Podem ser um presente valioso, da genialidade do homem para a humanidade, ou então contribuir para nossa degradação.
Urge conhecer as potencialidades das “teles” e tecnologias correlatas.Tirar delas máximo proveito e coibir abusos que certamente virão. Urge usar da razão e do equilíbrio para afugentar os fantasmas que povoam as trevas da ignorância e iluminar o caminho que se tem adiante. Pois perigos não são poucos nem pequenos, mas os benefícios podem ser imensos.
Afinal, cabe lembrar que somos médicos e escolhemos nossa profissão por amor ao próximo. Os que amamos, desejamos tê-los próximos, ao alcance do nosso contato. Queremos deles o olhar direto, sentir o calor de suas mãos nas nossas, ouvir-lhes a respiração e os batimentos do coração. Nada como a proximidade física.
Mas a distância não me impede de enviar um fraterno, longo e apertado (tele) abraço aos tantos amigos e colegas que me leem aqui. Assim o faço na expectativa de que os “bits” que traduzem esta manifestação virtual de carinho transmitam o apreço que lhes dedico. Até que muito em breve, bem espero, possamos nosabraçar presencialmente.
José Luiz Gomes do Amaral – Presidente da APM
Publicado na edição 708 da Revista da APM – março/2019