Palavra do Presidente – Esquivar-se de discutir todas as alternativas é a pior decisão

A velocidade de disseminação é o principal determinante de medidas mais restritivas

Artigos

José Luiz Gomes do Amaral
Presidente da APM
Suzana M. Ajeje Lobo
Presidente da AMIB

Publicado na edição 726 – mai/jun de 2021 da Revista da APM
Fotos: Laílson Santos e Divulgação

Quando 90% dos leitos de tratamento intensivo estão ocupados por pacientes com Covid-19, o sistema de Saúde entrou em colapso há muito. É tarde demais.

Deixou-se que o contágio chegasse a patamares inaceitáveis, nos quais, por mais e melhor que se faça, mortes e sequelas gravíssimas não deixarão de acontecer. Pois mesmo nas Unidades de Tratamento Intensivo (UTIs) mais organizadas, cerca de 38% dos pacientes acometidos por Covid-19 irão morrer, segundo dados do Registro Nacional Covid-19 da Associação Brasileira de Medicina Intensiva (AMIB), e 20% a 30% daqueles que saírem das UTIs terão o mesmo destino nos meses subsequentes.

Significa ainda que milhares de outros acometidos por doenças diferentes desta, mas também em condições graves e que poderiam ter se beneficiado de tratamento intensivo, não terão acesso a ele, visto as UTIs estarem direcionadas para a pandemia. Esgotaram-se os recursos e leitos destinados ao tratamento da Covid-19, mas também aqueles necessários ao cuidado das demais condições mórbidas.

É ainda difícil estimar as consequências do adiamento (por vários meses) daquelas intervenções que não se caracterizam urgências. Tudo isso acontece muito antes de alcançado este patamar trágico de 90% de ocupação dos leitos de UTI e persiste longo tempo depois disso.

Ações enérgicas são essenciais para evitar o contágio. Distanciamento social (1,5 m), evitar toda aglomeração, máscaras (efetivas) e álcool em gel ajudam, e muitíssimo; isolar contaminados – sintomáticos e assintomáticos -, acompanhar os que tiveram contato com eles e testá-los é fundamental.

A velocidade de disseminação tem de ser monitorizada continuamente e será ela o principal determinante de medidas mais restritivas.

Face ao impacto direto e imediato na Economia, evita-se discutir lockdown. A decisão é difícil, dolorosa, porém, procrastiná-la tem consequências gravíssimas. Nota-se que muitos evitam até usar a expressão ou falar sobre o assunto, mas tem-se de tê-lo em mente e planejá-lo, sorte a poder aplicá-lo corretamente e a tempo, de forma a obter o esperado benefício, bem como mitigar o impacto sobre a estrutura social e a Economia.

Afinal, lockdown, como, quando e até quando?