Entre as alternativas para combater incêndios tem-se o resfriamento, sendo geralmente utilizado água para abaixar a temperatura e apagar o fogo. É também possível produzir “aceiros”, faixas livres de substâncias inflamáveis, isolando assim a área afetada de outras em risco, de modo a evitar a propagação do fogo. Segue-se o “rescaldo”, quando se busca localizar focos residuais, eliminá-los e evitar que a situação volte a se complicar.
Ao lado de milhares de mortes e prejuízos materiais incalculáveis, a pandemia de Covid-19 tem causado também em nosso País grande desgaste nas relações interpessoais, algo comparável a um incêndio devastador. A todo momento, surgem focos de calor capazes de fazer renascerem as chamas que não logramos extinguir completamente ou isolar.
Ao longo desta tragédia, no desejo de curar e encontrar soluções, procurou-se em todas as possibilidades ao alcance solução que trouxesse cura aos enfermos. Não foram poucos os que acreditaram em intervenções milagrosas. Uma após outra, todas foram demonstradas ineficazes.
Nas incontáveis e intermináveis discussões constantes nas redes sociais, a temperatura elevou-se com a esperança e com a desilusão. Houve desmedido apego a verdades efêmeras, tão comuns na Medicina. Alguns defenderam-nas com tal zelo que, depois, em profunda decepção, viram-se incapazes de reencontrar o caminho da razão.
Muitos mantiveram-se aquecidos, recusaram-se a abdicar das convicções iniciais, desconsiderando a transitoriedade da Ciência médica. Este comportamento desencadeia reações igualmente inapropriadas, caracterizando a instabilidade térmica dos tempos em que vivemos.
É imperioso recrutar voluntários responsáveis que possam, com serenidade e equilíbrio, trabalhar neste “rescaldo”. É essencial que haja sensibilidade e que nos envolvamos, com tolerância e generosidade, na difícil tarefa de ultrapassar diferenças e debelar novos focos de incêndio.
E que assim, em futuro próximo, possamos voltar a desfrutar de edificante convívio, na eterna busca de um mundo melhor.
Excelente 2023 a todos!
Publicada na edição 735 – Dezembro de 2022/Janeiro de 2023 da Revista da APM