Os jovens e o associativismo médico

A “pejotização” da Medicina, a abertura indiscriminada de escolas médicas e a banalização do ato médico contribuem para que o médico recém-formado se depare com uma realidade desafiadora

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Ser médico hoje é muito diferente do que já foi no passado. A “pejotização” da Medicina, a abertura indiscriminada de escolas médicas e a banalização do ato médico contribuem para que o médico recém-formado se depare com uma realidade desafiadora. Jornadas de trabalho extenuantes, desvalorização profissional, atuação em locais carentes de recursos e a ausência de proteção trabalhista adequada. Não é à toa que a incidência de suicídio entre médicos jovens e estudantes de Medicina é de três a cinco vezes maior que na população em geral.

A qualidade do ensino médico é outra preocupação, pois vemos cada vez mais profissionais formados sem o preparo necessário para atendimento à população, sendo o funil da residência médica outro problema. Não há vagas, muito menos campos de estágio suficientes para todos os novos médicos que se formam a cada ano, e essa é uma realidade que tende a piorar.

Diante deste cenário, o associativismo desempenha um papel crucial na vida profissional do médico jovem. Muitos o desconhecem, pois não é ensinado nas escolas. A participação em associações médicas promove o desenvolvimento profissional através de acesso a recursos como cursos e workshops, além de conectar o jovem médico com profissionais já experientes na área.

Ao participar de associações médicas, temos a oportunidade de estabelecer conexões significativas. Essas conexões não apenas oferecem suporte emocional e intelectual, mas também podem resultar em parcerias profissionais, trocas de experiências e oportunidades de colaboração em pesquisas e projetos.

É também papel do associativismo a defesa e a representatividade de nós, médicos. As associações médicas têm o poder de influenciar políticas públicas relacionadas à Saúde. Participar ativamente de campanhas, lobby e debates públicos sobre questões de Saúde é uma forma eficaz de advogar pelos interesses da profissão. O engajamento em debates públicos e a defesa de políticas favoráveis à profissão são meios essenciais para influenciar positivamente o cenário médico e garantir que as necessidades dos médicos jovens sejam adequadamente representadas e atendidas.

As associações médicas também atuam como defensoras dos direitos e das condições de trabalho dos médicos. Em situações de desafios legais ou éticos, a associação oferece suporte jurídico e orientação, garantindo a proteção e a integridade profissional do médico. Para assegurar nossa representatividade e garantir que nossas causas sejam ouvidas, é essencial que nós, médicos jovens, participemos ativamente do associativismo. Ao envolver-nos nessas associações, fortalecemos a nossa voz coletiva, contribuindo para a defesa efetiva dos interesses da profissão.

Participar ativamente do associativismo não apenas nos conecta a uma rede valiosa de colegas, mas também nos capacita a desempenhar um papel ativo na formulação de políticas e na defesa de condições de trabalho justas. Ao unirmos forças por meio dessas organizações, consolidamos uma plataforma robusta para expressar nossas preocupações, influenciar mudanças positivas e garantir que as necessidades específicas dos médicos jovens sejam devidamente consideradas.

Marianne Yumi Nakai, diretora Científica Adjunta da APM.

Publicada na edição 741 – Dezembro de 2023 da Revista da APM