A prática médica dos tempos atuais no Brasil se afasta celeremente das expectativas que nos levaram à escolha de nossa profissão. Viemos a ela movidos pela compaixão, em busca de instrumentos que nos permitissem aliviar o sofrimento do próximo. Convencidos de que a Ciência fosse tal instrumento, dividimos a vida em estudar e cuidar de pessoas.
Tem sido cada vez mais difícil fazê-lo, na medida em que somos afastados daqueles que são o centro da atenção do médico: seus pacientes e, no conjunto, as populações que assistimos. Sucessivos governos transformaram a assistência à saúde em negócios, nos quais todo interesse escuso prevalece. Fomos excluídos da regulação de nossa profissão e de nossas especialidades.
Nos últimos anos, o médico foi usado para expiar todas as insuficiências do sistema de saúde. Vimos deformado o processo formativo do médico, ao ponto de nos defrontarmos, os mais de 400 mil médicos em atividade no País, com 271 “escolas médicas”; sejam das privadas, em grande parte movidas pelo mercantilismo, sejam das públicas, degradadas pela falta de financiamento e excesso de politicagem, tem-se hoje 26.000 vagas para o primeiro ano de Medicina.
A expectativa é “diplomarem-se” ainda mais alunos, consideradas as promoções “automáticas” e as transferências espúrias. Sucessivas avaliações têm consistentemente reprovado mais da metade dos hoje graduados. Nesse trágico cenário, a importação de “médicos” cubanos apenas acrescenta pitada de ideologia, oportunismo político e desfaçatez à receita do veneno apresentado à sociedade brasileira, o programa “Mais Médicos”.
O Sistema Único de Saúde (SUS), única possibilidade de mais de 150 milhões de brasileiros, definha como alvo dos parasitas que, ao longo de anos, fazem-no vítima de desmedida ambição. Incapaz de atender minimamente à demanda das populações, oferecem-no irresponsavelmente como espaço para treinamento das dezenas de milhares de egressos dessas “faculdades”.
Aos já bem menos de 50 milhões de cidadãos que, ainda privilegiados, logram deter plano privado de saúde, tiram-lhes também a esperança, deixando a regulação do setor aos mesmos que o exploram.
Vemos assim o cidadão e os médicos agredidos por predadores de toda sorte, amostra mais que provável das dificuldades que enfrenta o Pais, seja qual for a perspectiva considerada. Será a convergência em torno dos interesses da saúde do cidadão e das populações que nos trará a bom termo a revitalização da profissão médica. Para essa convergência, necessitamos da união das forças democráticas de todo o País. Essa sempre foi e sempre será a receita das grandes nações.
Em nosso campo de atuação, é imperioso o aperfeiçoamento do associativismo. Precisamos da Associação Médica Brasileira absolutamente sintonizada com os nossos anseios, defendendo os interesses dos colegas, atuando com firmeza pela boa Medicina e por qualidade na assistência aos cidadãos.
Queremos a AMB para os médicos. Uma Associação agregadora, que se alinhe às demais entidades em torno de pautas comuns para a busca de avanços para os médicos, a saúde e os pacientes. As recentes crises que vivemos no meio associativo permitem antever imensa dificuldade à frente. A força da união dos médicos brasileiros, por outro lado, nos traz certeza do bom êxito.
É com a confiança de que juntos podemos e iremos superar todos esses obstáculos que apresento-me como pré-candidato à presidência da Associação Médica Brasileira, contando para isso com o apoio de importantes associações, como a APM e as Federadas do Paraná, Rio de Janeiro, Distrito Federal e Espírito Santo, além de diversas sociedades de especialidades e de colegas de vários outros estados do Brasil. Teremos, sim, a nossa AMB para os médicos. Conto também com vosso apoio.
Jurandir Marcondes Ribas Filho, ex-presidente da Associação Médica do Paraná
Artigo publicado na Revista da APM – Edição 686 – março 2017