“Só o aprimoramento da inteligência perpetua a liberdade”. A liberdade, como fundamento da vida, perde sua significação em qualquer sociedade, quando se relega o aprimoramento da inteligência ao descurar-se da educação como fator excelso do aperfeiçoamento de um povo. A vida sem liberdade é escravidão.
Não há vida sem liberdade e sim um mero ato de se estar vivo. A liberdade não se adjetiva, ela é livre em si mesma. A liberdade, que fortalece e revigora cada vez mais aquele que aprimora a inteligência, só sobrevive quando é total e quando se autolimita livremente.
A liberdade rejeita em necessário respeito a inteligência, as limitações artificiais, expulsando, com energia, o corpo estranho que as provoca. A liberdade em excesso é licenciosidade, de menos é submissão: só a justa medida, colocada pelo aprimoramento da inteligência, dará os limites de sua permanência.
Num regime sem liberdade não há escalas de valores, confundindo-se, num nivelamento absurdo, a inteligência e a burrice. O despreparo e a incompetência são presas fáceis da demagogia e do arbítrio, contribuindo para retrocesso dos povos. O médico está hoje inserido neste contexto, onde a inteligência vacila e a liberdade se esvanece.
A omissão imperdoável de todos nós, cedendo espaço para o avanço dos interesses daqueles que buscam o poder apenas pelo mando e retirando da classe médica a liberdade de trabalho, conduziu a nação a uma estrutura que escraviza médico e não emancipa o paciente. A Assistência Médica que se realiza neste país é, de um modo geral, um acinte à inteligência, estimulada por um perverso sistema que burocratiza o médico e não respeita a liberdade do ser humano.
A classe médica ao aceitar o emprego oferecido pelo governo como “bico” e dando a eles um tratamento “bicoso” que, cultivado pela incompetência, transformou-se em modo de vida, não menos certo é que disso se aproveitaram os demagogos de todos os tipos para estabelecer a estrutura escravagista hoje dominante.
A Medicina, pelo seu próprio ministério e pela nobreza do elemento que manipula, exige a liberdade como imposição da inteligência e de respeito ao ser humano. O ser humano e biopsicossocial e carrega em si todos os sentimentos inerentes ao complexo que lhe permite a busca de um mínimo de felicidade a que tem direito.
No campo da medicina, há que se compreender que a doença é um processo psicossomático e assim deve ser tratado. O médico não pode ser um reles mecânico e o paciente uma simples máquina, onde a troca de peças se efetua na frieza de uma rotina inteiramente material. Existe algo superior que os aproxima afetivamente do relacionamento: o sofrimento de um e a missão do outro. São forças que, sublinhadas pelo amor, não permitem a submissão a que hoje estão sujeitas.
É preciso reagir. Entre algumas fórmulas, a principal é conhecer o produto médico, hoje um desconhecido. Não basta, porém, bons médicos. É preciso que exista um sistema que lhes
conceda a liberdade de assim continuarem, sem serem compelidos a um conformismo que, com o tempo, a todos nivelará por baixo.
Partindo da premissa de que quem faz assistência médica é o médico, somente o pleno conhecimento deste produto poderá reorientar as ações da sociedade para a assistência médica livre e inteligente que todos desejamos.
Não paira dúvida que um médico ruim haverá de produzir uma assistência médica ruim e um médico bom dará uma assistência médica boa. Não há assistência médica boa com médicos incompetentes. Há dúvidas sobre esta afirmativa?
Na medicina, a competência com liberdade é a garantia da liberdade e da competência. Todavia, para que se reconheça a competência que assegura a liberdade, é preciso conhecer o médico e estabelecer um mínimo de proficiência, sem a qual ela não mais existe. Hoje o médico é um desconhecido. Não o conhecem e ao seu grau de competência os órgãos que tem por dever legal e moral zelar pelo aprimoramento da assistência médica.
É preciso que todos se conscientizem, inclusive autoridades, que doença não é mercadoria e menos ainda ideologia, não podendo sofrer as deletérias ações de intermediação, nem qualquer outra intervenção do falido regime estatizante, que desfigura a liberdade de pacientes e médicos.
Para o aprimoramento da assistência médica é necessário o conhecimento profissional do médico. Teremos, então, com a plena liberdade da classe médica, o total conhecimento da competência que tanto queremos e apregoamos para a felicidade do nosso povo.
O médico qualificado, forte, é orgulhoso dos seus conhecimentos, não enfraquece a sua arte e não decai no seu exercício. Este médico não penaliza o paciente e não se subalterniza a uma estrutura prepotente fortalecida pela inconsequência e irresponsabilidade dos defensores da demagogia da igualdade.
Um produto bom não produz resultados ruins, somente resultados favoráveis, desde que exercida a profissão com probidade, liberdade e competência.
Artigo publicado no Jornal da Cidade (Bauru), em 18 de outubro de 2023