Por que médico é Doutor? Um amigo meu estava comentando o fato de médicos usarem o termo doutor sem ter doutorado achando um absurdo e, vendo seus argumentos, notei que ele e muita gente não conhece a origem do termo.
O termo Doutor vem do verbo latino docēre (ensinar). No fim do estudo universitário nas universidades da Idade Média, de acordo com as tradições da escolástica, obtinha-se a licença para ensinar (licentia doscendi), originalmente exclusiva da igreja. Assim, depois da conclusão de um curso universitário, o graduado se intitulava doutor e tinha o direito de ensinar na academia médica.
Até então, a profissão de médico era aprendida de maneira informal e os termos ἰατρός (iátros) ou medicus eram encontrados na literatura. No ano de 1221, o imperador Frederico II, da Itália, declarou que ninguém poderia se tornar médico sem ser examinado publicamente pelos mestres de Salerno.
Era um curso de 5 anos e, como de praxe na época, os laureados recebiam o título de Doutor Medicinae. A partir daí, o termo de doutor começou a ser usado para designar médicos.
É uma relação histórica que data da incorporação da Medicina à universidade. Há 900 anos se usa o termo Doutor para o graduado em Medicina. E apenas no século XIX o termo doutor começou a designar os portadores de doutorado.
Os outros cursos de Saúde, como Odontologia e Veterinária, entre outros, datam do século XIX, não havendo relação histórica com o uso do Doutor como no caso da Medicina, já que se adequavam à nova norma universitária.
Então, da próxima vez que ouvirem que doutor é quem tem doutorado, expliquem que vocês são doutores desde antes da existência do doutorado!
É também oportuno lembrar que, em 1808, Dom João VI fez decreto real, não revogado até hoje, que dá título de doutor para médicos [e advogados], com o objetivo de melhorar o padrão profissional brasileiro. Eis aí um impositivo legal pouco conhecido.
Para quem gosta de história, um abraço.
Foto: Domínio Público
Publicado na edição 747 (Nov/Dez de 2024) da Revista da APM