Gestão, Ética e Estética

Tudo o que se faz na vida – desde criar produtos ou prestar serviços, enviar e-mails, proferir discursos, conduzir reuniões, dar aulas, educar pessoas, pregar um evangelho até gerir uma organização - tem um componente ético e um estético, ou seja, tudo tem um conteúdo (ético) e uma forma (estética).

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Tudo o que se faz na vida – desde criar produtos ou prestar serviços, enviar e-mails, proferir discursos, conduzir reuniões, dar aulas, educar pessoas, pregar um evangelho até gerir uma organização – tem um componente ético e um estético, ou seja, tudo tem um conteúdo (ético) e uma forma (estética).

Ambos os paradigmas têm variações culturais e históricas importantes. O que é ético e esteticamente apreciável aqui e agora pode não ter sido no passado ou em outro lugar. Logo, pode-se dizer que gestão, ética e estética estão histórica e culturalmente interligadas, porque os três conceitos convergem na realização de ações humanas.

Só há gestão onde pessoas se reúnem para fazer coisas juntas. E só há ética na interação de pelo menos duas pessoas, assim como só há apreciação estética no encontro mínimo de duas mentes ou entes. Assim, os três conceitos são produto de uma intensa interação humana. Ética e estética têm tudo a ver com gestão de ações humanas.

Neste momento da história pelo qual passa o Brasil, impõem-se várias reflexões sobre ética e práticas de gestão pública ou privada: delações premiadas, o que é moral e ético, compliance, conduções coercitivas, acordos de leniência, buscas e apreensões, canais de denúncia, o que fazer para ser mais ético e outras tantas manifestações que passaram a fazer parte do noticiário diário. Não há como não ver nelas componentes éticos, estéticos e de gestão.

A pergunta que se impõe, diante deste panorama, é se as populações hoje estão/são mais ou menos éticas do que foram nos momentos anteriores da história da humanidade, independentemente de suas culturas.

Para responde-la, talvez se deva avaliar a condição da mulher no mundo atual. Embora ainda bastante em desvantagem com relação aos homens, pode-se afirmar com bastante segurança que a humanidade progrediu muito no reconhecimento aos direitos femininos ao longo dos anos (assim como de outros direitos humanos).

Outros exemplos poderiam ser analisados para confirmar que, de fato, a humanidade hoje está mais ética do que em qualquer outro momento da história, malgrado inúmeros exemplos ainda prevalentes em alguns lugares, que demonstram o contrário.

O que fazer, contudo, para avançar ainda mais em direção a um mundo ético?

Primeiro, é preciso entender que nunca se poderá dizer que a humanidade alcançou ou alcançará um patamar ótimo de ética, porque se trata de um processo sem fim, no qual estará sempre caminhando em busca de melhores níveis, com retrocessos e avanços.

Outro componente importante para a análise é o fato de que a ética, assim como a estética e a gestão, acontece em uma zona cinzenta entre o que as pessoas pensam “como as coisas deveriam ser” e como de fato “as coisas são”.

Nesse intervalo, há um grande espaço para relativizações e distanciamentos das formas absolutas de ver e analisar eventos e ações das pessoas. Sempre há grande diferença entre o mundo ideal (das ideologias) e o mundo real.

No mundo ideal não deveria haver mais guerras, embora todos saibam que, por mais pacifistas que sejam os homens, sempre haverá guerras na humanidade. No mundo ideal não deveria haver injustiças, embora por mais justos que sejam os homens, sempre haverá injustiças no mundo. Assim também com a crueldade e tantos outros conceitos humanitários.

Por outro lado, também é importante que se entendam as relações entre moral, ética e as leis – e como estas impactam na gestão. Grande número de autores considera que não existe diferença entre moral e ética. Outros, contudo, entendem que moral é o conjunto de valores e crenças que as pessoas têm dentro de si, sendo a ética a transformação desses valores em ações práticas. Desta maneira, uma pessoa pode ter valores morais muito fortes sem necessariamente ser ética, por não praticar aquilo em que acredita.

Já a lei, que deriva destes dois conceitos, é restritiva no sentido que prescreve aquilo que os cidadãos não devem fazer, sem que por isso os transforme em bons cidadãos. Por exemplo: a lei proíbe matar e roubar, mas não matar nem roubar não transforma, necessariamente, as pessoas em boas cidadãs. Para isso, elas precisam praticar muito mais ações éticas.

Impõe-se, portanto, a reflexão do que e como fazer para ter mais ética nas ações das pessoas e dos grupos, e que a estética delas seja apreciável e, portanto, tornem-se mais facilmente gerenciáveis.

Pouco provável que as pessoas vão aprender a ser mais éticas por meio de uma disciplina curricular em qualquer nível de educação formal. Isso se aprende, desde tenra idade, em casa, por meio dos exemplos de familiares e com os demais grupos sociais com os quais as pessoas se relacionam em seu desenvolvimento cognitivo e emocional.

Não há outra forma de aprender ética. Os pontos de encontro, acadêmicos ou não, podem ao longo da vida adulta ajudar a compreender melhor os conceitos éticos, assim como os das outras pessoas. Entender as nuances e perspectivas desses conceitos ajudará a humanidade a prosseguir de maneira mais harmônica e estável nas suas relações pessoais, organizacionais e nacionais.

Essas informações devem remeter os leitores a considerar a importância de a ética e a estética estarem na agenda de reflexões dos cidadãos, seja em ambientes públicos, organizacionais ou privados. Só assim a compreensão do que seja bom gerencialmente poderá prosperar nos grupos sociais, com benefícios para todos.

Haino Burmester é médico, administrador hospitalar e um dos fundadores do Programa Compromisso com a Qualidade Hospitalar (CQH), da Associação Paulista de Medicina