AS BAIXAS COBERTURAS vacinais registradas no País são extremamente preocupantes. Infelizmente, vivemos o risco de retorno da poliomielite e a possibilidade de perder o status de área livre do sarampo. E o problema não para por aí, como demonstrado pelas epidemias de febre amarela silvestre e pelo aumento das mortes por gripe.
A desmobilização da população em torno de uma prática essencial é fruto de diversos fatores, que vão desde o descuido diante do desaparecimento de doenças às fake news, passando pela dificuldade de ir às Unidades Básicas de Saúde (UBS) em horário comercial.
Os médicos, no entanto, também têm o seu papel. Não são raras as ocasiões em que perdemos a oportunidade de vacinar adultos. Apesar da assistência no prénatal, meta contra a influenza e não costumam receber a dTpa, vacina com cobertura de aproximadamente 30% apenas.
Não são raras as ocasiões
em que perdemos a
oportunidade de
vacinar adultos
Também vale destacar: pessoas com determinadas doenças crônicas que, não instruídas, raramente procuram os Centros de Referência para Imunobiológicos Especiais (CRIEs), onde poderiam se vacinar gratuitamente contra infecções consideradas mais graves para elas.
A literatura científica demonstra que, ao mesmo tempo em que somos determinantes para a adesão dos adultos às vacinas, não as prescrevemos com a frequência que deveríamos. No Brasil, foram realizadas pesquisas pela Secretaria de Estado da Saúde de Sã Paulo, em 2001 e 2002, para investigar o que fez os idosos participarem das campanhas de vacinação contra a influenza e o que os levaria a se vacinarem novamente.
Os achados foram: apenas 10% dos entrevistados se vacinaram por orientação médica, 45% afirmaram que o médico não tocou no assunto e 32% dos indecisos voltariam a se vacinar caso recebessem recomendação médica.
O caminho para mudar o cenário, debatido no Grupo de Discussão Permanente criado pela SBIm em parceria com outras entidades, é investir em educação. Precisamos fortalecer o ensino sobre imunizações na graduação e na residência, incluir o tema nas provas de título, independentemente da área, inseri-lo nos congressos de todas as especialidades e, claro, prescrever. Juntos chegaremos lá.
ISABELLA BALLALAI é presidente da Sociedade Brasileira de Imunizações (SBIm)
Artigo Publicado na Revista da APM – edição 702 – agosto 2018