Neste 18 de outubro, é celebrado, mais uma vez, o Dia do Médico. É bem verdade que nos últimos tempos há escassos motivos para comemorar. Não são poucas as dificuldades enfrentadas pela classe médica no nosso País. No entanto, isso só reforça a necessidade de união e confere ainda mais ímpeto em festejar essa data tão especial.
Os percalços se acumulam, mas de forma unida a classe médica tem se organizado para combatê-los de cabeça erguida. A única saída é esta: estreitar os laços. Não por acaso, a importância do associativismo tem sido cada vez mais frisada, junto com o fortalecimento das sociedades de especialidades e demais entidades médicas.
As atrocidades que vêm ocorrendo contra nossa categoria profissional não foram e nem serão negligenciadas. A abertura indiscriminada de escolas de Medicina, a não obrigatoriedade do Revalida, a inexistência de um exame de proficiência para os egressos dos cursos de graduação médica – tudo isso tem resultado em uma queda livre na qualidade da formação de médicos, impactando significativamente a Saúde da população brasileira.
Perdura ainda hoje uma ideia equivocada que privilegia a quantidade em detrimento da qualidade. Assim, ganha eco o discurso que alega que o número de profissionais está abaixo do necessário e decidem ressuscitar o falho projeto Mais Médicos como uma resposta ilusória aos anseios sociais. Contudo, os dados da Demografia Médica 2023 são incontestes em publicizar que o Brasil possui médicos em quantidade suficiente para atender às demandas da população.
O Conselho Federal de Medicina registra profissionais ativos em um contingente que se assoma como um dos maiores do mundo. Os reais problemas aparecem através do cenário de desigualdade na distribuição, fixação e acesso aos médicos País afora. A maioria ainda permanece concentrada nas regiões Sul e Sudeste, nas capitais e nos grandes municípios. Isso se explica eminentemente pelas más condições de trabalho que, infelizmente, ainda são encontradas na maior parte das cidades do interior, mais pobres, e nas regiões Norte e Nordeste.
Desta maneira, a resposta correta deveria vir através de políticas públicas de atração e fixação, mas o que vemos cada vez mais são respostas populistas que ludibriam boa parte das pessoas ao vender soluções que não atacam os reais problemas. O Mais Médicos ou a ampliação desmedida de escolas de Medicina, por exemplo, só levarão a um crescimento das deficiências já existentes no exercício da profissão. Médicos e pacientes, em especial, não devem ser encarados como números, exigindo uma percepção que os valorize como seres humanos.
A formação deve permanecer rigorosa, sob os ditames de uma tradição que garanta uma educação efetiva, fundamentalmente baseada em princípios éticos e humanísticos, com ênfase nos valores da boa Medicina, no respeito e na confiança. A flexibilização de tais aspectos não deveria ser sequer aventada como possibilidade.
A resposta, como já foi salientado, precisa vir através do fortalecimento e da maior unidade da nossa categoria. A queda no número de médicos associados e das entidades médicas pode levar a um enfraquecimento de pautas urgentes. É somente através da Associação Brasileira de Medicina, das sociedades de especialidade e das demais entidades que tem sido possível garantir uma representatividade mínima perante a classe política na defesa dos interesses desta que é uma das mais belas profissões.
Mais do que nunca, deve-se encarar a data como momento de se irmanar e fazer valer as legítimas aspirações do médico brasileiro. Apesar de todas as dificuldades, continuamos trabalhando da melhor maneira possível. Em constante evolução, hoje, por exemplo, o Brasil tem tecnologia de ponta comparável aos melhores centros de Saúde do mundo. Os profissionais tornaram possível oferecer tudo isso às pessoas. E com muito vigor, a classe tem driblado os obstáculos e avançado, tanto no sistema suplementar, como no Sistema Único de Saúde.
Que fiquem aqui registradas as congratulações a todos os médicos e médicas do País, estendidas também a todas as entidades. Um feliz Dia do Médico, com votos de que a classe possa se unir mais ainda e fazer a própria voz ser ouvida de maneira forte e efetiva.
Antonio José Gonçalves, professor Titular de Cirurgia da Faculdade de Ciências Médicas da Santa Casa de São Paulo, secretário geral da Associação Médica Brasileira, vice-presidente da Associação Paulista de Medicina e presidente eleito da APM para o triênio 2023/2026
Foto: Alexandre Diniz