Dia do Médico

Assaf Hadba, coloproctologista, ex-diretor da Associação Paulista de Medicina, da Associação Médica Brasileira e um dos fundadores da Unimed de Bauru

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A liberdade, como fundamento da vida, perde sua significação em qualquer sociedade quando se relega o aprimoramento da inteligência e o descurar-se da educação como fator excelso do aperfeiçoamento de um povo. A vida sem liberdade é escravidão. Não há vida sem liberdade, e sim um mero ato de se estar vivo.

A liberdade não se adjetiva, ela é livre em si mesma. A liberdade, que fortalece e revigora cada vez mais aquele que aprimora a inteligência, só sobrevive quando é total e quando se autolimita livremente.

A liberdade rejeita em necessário respeito a inteligência, as limitações artificiais, expulsando com energia o corpo estranho que as provoca. A liberdade em excesso é licenciosidade e de menos é submissão: só ajustada medida, colocada pelo aprimoramento da inteligência, dará os limites de sua permanência. Num regime sem liberdade não há escala de valores, confundindo-se, num nivelamento absurdo, a inteligência e a burrice. O despreparo e a incompetência são presas fáceis da demagogia e do arbítrio, contribuindo para o retrocesso dos povos.

O médico paulista está hoje inserido neste contexto, em que a inteligência vacila e a liberdade se esvanece. A omissão imperdoável de todos nós – cedendo espaço para o avanço dos interesses daqueles que buscam o poder apenas pelo mando, e retirando da classe médica a liberdade de trabalho – conduziu a nação a uma estrutura que escraviza o médico e não emancipa o paciente. A assistência médica que se realiza em São Paulo é, de modo geral, um acinte à inteligência, estimulada por um perverso sistema que burocratiza o médico e não respeita a liberdade do ser humano.

Se tivéssemos, forçoso é reconhecê-lo, a omissão da classe médica, aceitando “bicos” como empregos e dando a eles um tratamento “bicoso” que, cultivado pela incompetência, transformou-se em modo de vida, não menos certo é que disso se aproveitaram os demagogos de todos os tipos para permanecer a estrutura escravagista hoje dominante.

A Medicina, pelo seu próprio ministério e pela nobreza do elemento que manipula, exige a liberdade como imposição da inteligência e de respeito ao ser humano. O ser humano é biopsicossocial e carrega em si todos os sentimentos inerentes ao complexo que lhe permite a busca de um mínimo de felicidade a que tem direito. No campo da Medicina, há que se compreender que a doença é um processo psicossomático e assim deve ser tratado.

O médico não pode ser um reles mecânico e o paciente uma simples máquina, na qual a troca de peças se efetua na frieza de uma rotina inteiramente material. Existe algo superior que os aproxima efetivamente do relacionamento: o sofrimento de um e a missão do outro.

São forças que, sublinhadas pelo amor, não permitem a submissão a que hoje estão sujeitas. É preciso reagir. Entre algumas fórmulas, a principal é reconhecer o produto médico, hoje um desconhecido.

Não basta, porém, bons médicos. É preciso que exista um sistema que lhe conceda a liberdade de assim continuarem, sem serem compelidos a um conformismo que, com o tempo, a todos nivelará por baixo.

Partindo da premissa de que quem faz assistência médica é o médico, somente o pleno conhecimento deste produto poderá reorientar as ações da sociedade para a assistência médica livre e inteligente que todos desejamos.

Não paira a dúvida que um médico ruim haverá de produzir uma assistência médica ruim e um médico bom dará uma assistência médica boa. Não há assistência médica boa com médicos incompetentes. Há dúvidas sobre esta afirmativa? Na Medicina, a competência com a liberdade é garantia da liberdade e da competência.

Todavia, para que se reconheça a competência que assegura a liberdade, é preciso reconhecer o médico e estabelecer um mínimo de proficiência, sem a qual ela não mais existe. Hoje, o médico é um desconhecido.

Não o reconhecem, e ao seu grau de competência os órgãos que têm por dever legal e moral zelar pelo aprimoramento da assistência médica.

É preciso que todos se conscientizem, inclusive autoridades, que doença não é mercadoria e menos ainda ideologia, não podendo sofrer as deletérias ações de intermediação, nem qualquer outra intervenção do falido regime estatizante, que desfigura a liberdade de pacientes e médicos.

Para o aprimoramento de qualquer produto, é necessário o reconhecimento do médico do estado de São Paulo. Há, entre nós e os laboratórios farmacêuticos, um entendimento para a realização do censo após a pesquisa.

Teremos então o pleno conhecimento dos problemas do médico, para assim melhor atacá-los, fugindo do tão vulgar “achismo” que hoje prepondera neste País.

O “eu acho” será substituído por números concretos e reais. O médico qualificado, forte, é orgulhoso dos seus conhecimentos, não enfraquece a sua arte e não decai no seu exercício.

Este médico não penaliza o paciente e não se subalterniza a uma estrutura prepotente, fortalecida pela inconsciência e irresponsabilidade dos defensores da demagogia da igualdade.

Um produto bom não produz resultados ruins, somente os sujeitos as vicissitudes da Ciência, desde que exercida com probidade, liberdade e competência.

Assaf Hadba
Coloproctologista, ex-diretor da Associação Paulista de Medicina, da Associação Médica Brasileira e um dos fundadores da Unimed de Bauru