Atenção à saúde para a população indígena do Xingu

Em 1941, em plena Segunda Guerra Mundial, havia uma forte discussão sobre a ocupação das áreas vitais brasileiras, fazendo com que Getúlio Vargas criasse a marcha para o Oeste, com a ideia nacionalista do “vamos ocupar esses espaços vazios”.

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Por Douglas Antonio Rodrigues

Em 1941, em plena Segunda Guerra Mundial, havia uma forte discussão sobre a ocupação das áreas vitais brasileiras, fazendo com que Getúlio Vargas criasse a marcha para o Oeste, com a ideia nacionalista do “vamos ocupar esses espaços vazios”.

De São Paulo, atravessando Goiás e adentrando Mato Grosso pelo Rio Araguaia, a ideia era criar vilarejos e pontos de apoio, ligados à Força Aérea Brasileira. Mais tarde, a expedição passou a ser comandada pelos irmãos Villas-Bôas. Já a demarcação de terras, com a criação do Parque Xingu, ocorreu em 1961, no governo Jânio Quadros.

Hoje, com uma extensão territorial de 2.797.491 hectares e uma transição entre Cerrado e Floresta Amazônica – rica em biodiversidade -, há 7.400 habitantes, segundo Censo de 2018, com 14 etnias distribuídas em 106 aldeias próximas aos cursos de água.

O projeto de Saúde, organizado pela Escola Paulista de Medicina da Universidade Federal de São Paulo, sob supervisão do Professor Roberto Baruzzi, surgiu em 1965, quando havia grande vulnerabilidade para os povos. Em 30 dias, 114 pessoas morreram em virtude de uma epidemia de sarampo. Em uma população de 600 pessoas, representou a perda de 1/6, mesmo com o apoio médico.

Desde a composição da primeira equipe, sustentamos o tripé ensino, pesquisa e assistência, e a participação de alunos e/ou residentes de Medicina. E sempre com a ideia de disseminar o conhecimento e a troca, o grupo é formado também por pajé, raizeiro, agente de saúde e parteira, não apenas por médico, enfermeiro e dentista.

Apesar de ter sido criado em 1988, o Sistema Único de Saúde só reconheceu a necessidade de atender as áreas indígenas em outubro de 1999. Hoje, temos dentro do sistema uma rede de serviços de atenção primária no interior das terras indígenas, além de um subsistema de gestão federal.

A atual política de Saúde também contribui para a formação de agentes comunitários indígenas. Só conseguimos controlar a malária, por exemplo, depois que os índios entraram no circuito de controle da doença. Aprenderam a fazer diagnóstico microscópico e o tratamento precoce em diferentes aldeias. Hoje, não temos mais surtos da doença.

Em tempos de era digital, integrar saúde em espaços longínquos com poucos recursos tecnológicos é o nosso desafio. Temos que nos virar com a história, o exame clínico e o diagnóstico epidemiológico. É frequente e não deixa de ser interessante.

Hoje, há 7.400 habitantes, com 14 etnias distribuídas em 106 aldeias próximas aos cursos de água

Douglas Antonio Rodrigues é gerente do Ambulatório do Índio do Hospital São Paulo e coordenador do Curso de Especialização em Saúde Indígena da Unasus/Unifesp

Artigo publicado na edição 713 da Revista da APM – Setembro 2019.