Abordagem clínica da mulher no climatério

O atendimento da mulher neste período requer atenção e identificação de fatores de risco para doenças de maior prevalência

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Rogério Bonassi Machado 
Presidente da Associação Brasileira de Climatério (Sobrac)

Publicado na edição 727 – jul/ago de 2021 da Revista da APM
Foto: Divulgação

O climatério é a fase de transição entre o período reprodutivo e o não reprodutivo da mulher, caracterizado por modificações endócrinas, biológicas e clínicas, compreendendo parte da menacme até a menopausa. Essa, por sua vez, é definida como o último período menstrual, identificado retrospectivamente após 12 meses de amenorreia.

 O intervalo, do início dos sintomas de irregularidade menstrual até o final do primeiro ano após a menopausa, é chamado de perimenopausa. Do ponto de vista fisiológico, reflete a diminuição gradual da produção folicular ovariana. A redução da população folicular leva a eventos endócrinos que culminam com o hipoestrogenismo.

As repercussões do hipoestrogenismo a curto prazo são representadas inicialmente pelas alterações menstruais, pela presença das ondas de calor típicas, também conhecidas como fogachos, além das alterações do humor, do sono e de aspectos emocionais relevantes. Os sintomas urogenitais, como secura vaginal, dispareunia e fenômenos atróficos vaginais podem ocorrer desde a perimenopausa, porém, têm prevalência crescente de acordo com o tempo de instalação do hipoestrogenismo.

A osteoporose, o declínio cognitivo e as doenças cardiovasculares acompanham as repercussões tardias do hipoestrogenismo. Embora o diagnóstico da insuficiência estrogênica no climatério seja eminentemente clínico, o atendimento da mulher neste período requer atenção e identificação de fatores de risco para doenças de maior prevalência na faixa etária.

Assim incluem-se como propedêutica básica da mulher no climatério, além de exames específicos como mamografia e ultrassonografia transvaginal, a avaliação do risco cardiovascular e de diabetes, osteoporose e outras neoplasias, com a cólon-retal e a pulmonar.

A terapia hormonal (TH) no climatério representa sua principal forma de tratamento. Tem como elemento básico o uso de estrogênios, preferencialmente naturais (17 beta estradiol), acompanhado ou não de progestagênios, os últimos necessários para proteção endometrial em mulheres com útero presente, sendo dispensáveis nas mulheres histerectomizadas. A TH no climatério tem como pilares o tratamento da sintomatologia climatérica, a prevenção e tratamento da atrofia urogenital e a prevenção da osteoporose.

A TH é contraindicada na presença de antecedentes pessoais de neoplasia mamária e endometrial, de doenças cardiovasculares, hepáticas em atividade e nas porfirias.

O tratamento alternativo, em mulheres com contraindicações à TH, compreende os antidepressivos, os bisfosfonatos e os estrogênios fracos por via vaginal, na dependência de cada caso.