Começou, na última quinta-feira (24), na sede da Associação Paulista de Medicina (APM), o XXIV Congresso Brasileiro de História da Medicina, que vai até o próximo domingo (27). O evento também comporta o I Encontro das Academias de Medicina de São Paulo e do Rio Grande do Sul, que o organizam em conjunto com a APM e a Sociedade Brasileira de História da Medicina.
A primeira atividade da programação foi a palestra “O Homem, o Médico e o Câncer – Fragmentos de uma História”, ministrada por José Carlos do Valle. Ele é livre docente de Clínica Médica da Universidade Federal do Estado do Rio de Janeiro (Unirio) e especialista em Oncologia Clínica.
Valle começou destacando que a sua apresentação não focaria na etiologia do câncer, mas nos aspectos inusitados que os tumores têm na Terra. Assim, introduziu aos presentes um gráfico que mostrava que o homem primitivo – há cerca de 150 milhões de anos – vivia em um ambiente com poucos compostos químicos. Esse cenário se alterou drasticamente, no entanto, a partir do século XIX, com a revolução industrial. Atualmente, os humanos despejam semanalmente seis mil compostos químicos na atmosfera.
O palestrante – que também é membro titular da Academia Nacional de Medicina – mostrou, na sequência, que o primeiro exemplar de tumor em um ser vivo que se conhece foi em duas vértebras do dinossauro apatosaurus louisae, que viveu durante o período Jurássico. “Interessante é que elas foram estudadas e comparadas ao fêmur de uma galinha acometido por osteopetrose aviária. Como há uma semelhança incrível, é provável que o tumor do dinossauro tenha sido induzido por vírus”, explicou.
Quanto aos seres humanos, Valle mostrou que o mais antigo tumor está no crânio de um homem adulto egípcio, de aproximadamente 2.700 A.C. “É um câncer de nasofaringe, protótipo de tumor muito frequente na Ásia e na África. Mais recente, foram encontrados crânios pré-colombianos com metástases de melanoma, provavelmente de 2.400 A.C.”
Além disso, o acadêmico mostrou que o câncer não é exclusividade dos vertebrados, acometendo também os vegetais. É o que se chama de “galhas” – elas já foram encontradas fossilizadas em exemplares de até 150 milhões de anos.
O palestrante ainda falou sobre as influências químicas que a 2ª Guerra Mundial teve no mundo, por conta das bombas atômicas e as substâncias liberadas, e passou pela história de alguns grandes nomes no estudo do câncer e dos tumores.
Por fim, mostrou um vídeo da evolução do aquecimento global na Terra e falou sobre a responsabilidade dos seres humanos na piora das condições de vida no Planeta. Após a apresentação, os congressistas se dirigiram a um coquetel oferecido pela organização.
Programação
Ao longo desta sexta-feira (25), mais de 20 outros palestrantes ministrarão aulas, com especial destaque para o grego Nicolas Kastanos Hatzinicolis, embaixador mundial da Ideia Hipocrática do Município de Cós (Grécia) e fundador do Movimento Hipocrático. O médico apresentará a palestra magna “Hipócrates, a Tecnologia e o Rosto Humano na Medicina”.
No sábado, além das palestras, haverá assembleia da Sociedade Brasileira de História da Medicina e o jantar comemorativo “Uma noite paulistana”. No domingo, os congressistas são convidados a visitarem os museus de História da Medicina da Santa Casa de Misericórdia de São Paulo e da Universidade de São Paulo.
O Congresso
O primeiro Congresso Brasileiro de História da Medicina foi realizado em 1951, na cidade do Rio de Janeiro, e idealizado pelo Prof. Dr. Ivolino de Vasconcelos, que fundou, juntamente com outros colegas, o Instituto Brasileiro de História da Medicina, no ano de 1945. É o mais expressivo evento relativo à História da Medicina no Brasil.
Em 2019, o Congresso é presidido por Lybio José Martire Junior e promove os tradicionais prêmios da Sociedade: “Prêmio Carlos da Silva Lacaz”, para estudantes de Medicina que concorrem com trabalhos na área de História da Medicina em nível nacional; ”Medalha José Correia Picanço”, para expoentes do ensino médico no estado em que se realiza o Congresso; e “Medalha Ivolino de Vasconcellos”, para aqueles que lançarem livros de História de Medicina no ano em que ocorre o Congresso e que nele estiverem inscritos.
Texto: Guilherme Almeida
Fotos: BBustos Fotografia


