Na última quarta-feira, 1º de setembro, a Associação Paulista de Medicina promoveu mais uma edição de seu webinar. Apresentado por José Luiz Gomes do Amaral, presidente da APM, e moderado pelos diretores Paulo Manuel Pêgo Fernandes (Científico) e Álvaro Atallah (Economia Médica e Saúde Baseada em Evidências), o tema escolhido foi “Tabagismo: como tratar?”. O evento foi transmitido ao vivo pelo canal da APM no YouTube.
A doença do século XXI
José Roberto Jardim, professor sênior de Pneumologia da Escola Paulista de Medicina e diretor do Centro de Reabilitação Pulmonar e do Núcleo de Prevenção e Cessação do Tabagismo (PrevFumo), foi o primeiro convidado da noite. Iniciou sua discussão falando sobre o surgimento da doença e a sua evolução até o século XX.
“É sempre um prazer e uma obrigação estar discutindo com os colegas uma das doenças mais comuns no mundo, o tabagismo, que pode ser prevenida e tratada para o bem-estar físico, psíquico e social. Muitos estudos indicam que o tabagismo surgiu na América Central, na civilização Maia, em que os povos usavam as folhas do tabaco como propriedades medicinais e espirituais”, explicou. Ainda de acordo com ele, a grande produção de cigarros começou depois da segunda guerra mundial, porque a indústria do tabaco também forneceu gratuitamente muitos cigarros aos soldados, principalmente aos americanos, o que gerou aumento do consumo.
O especialista também ressaltou os principais motivos para o vício, entre eles: a dependência química ou psicológica, prazer e hábitos. Ao fumar, a nicotina estimula a liberação de substâncias na região de bem-estar do cérebro, e depois de um tempo, ocorre redução da dopamina, e isso faz com que a pessoa queira fumar novamente.
Conforme o especialista, o tabagismo mata mais pessoas a cada ano do que álcool, drogas, acidentes automobilísticos, AIDS, incêndio, suicídio e homicídio. No Brasil, são registradas mais de 200 mil mortes por ano, equivalente a 23 mortes por hora.
Um dos órgãos mais atingidos pelo tabagismo é o pulmão, acelerando a queda da capacidade respiratória e causando tosse, chiado, falta de ar, bronquite crônica e enfisema, crises de asma e infecções respiratórias. Além disso, aumenta o risco de câncer de boca, língua, gengiva, garganta e traquéia, pulmões, esôfago e estômago, rins, bexiga e colo do útero, além de consequências dermatológicas.
A partir de pesquisas, foi comprovado que filhos de pais que fumam têm maior risco de otites, amigdalites, bronquiolites, infecções respiratórias de competição e asma. Além disso, a criança pode nascer prematuramente, com baixo peso ou até mesmo correr o risco de morte. “Sabemos que a doença pulmonar obstrutiva crônica começa a aparecer no útero da mãe fumante.”
O que realmente funciona?
Jaqueline Ribeiro Scholz, diretora do Programa de Tratamento do InCor e autora do livro “Deixe de Fumar”, foi a segunda convidada a ministrar palestra. Ao iniciar sua apresentação, mostrou os inúmeros métodos e medicamentos encontrados na internet, o que dificulta muito a prática clínica.
A especialista destacou que, a cada 100 pacientes, a taxa de sucesso varia de 30% a 40%, considerada baixa, o que explica a procura de outros medicamentos para parar de fumar. “Todos estes anos, persegui resultados melhores para parar de fumar e, neste cenário, a mídia em vários momentos traz informações que deixam os pacientes inseguros em relação à própria medicação para tabagismo. Aconteceu com a bupropiona nos anos 2000 e há alguns anos com o medicamento Champix. Além desse aspecto, ainda temos que ficar desconstruindo esse tipo de notícia”, enfatizou.
“Nossa primeira escolha de tratamento é a vareniclina, pois é um medicamento que tira o sofrimento do paciente ao parar de fumar e bloqueia o receptor. Explico para o paciente que a estratégia para parar de fumar se baseia em três pilares: saúde mental, estratégia comportamental e medicação que tira fissura. Esperamos que essa prática que fazemos no ambulatório possa ser disseminada, para que mais pessoas tenham acesso e possam obter melhores taxas de sucesso”, concluiu.
Discussão
Após as apresentações iniciais dos palestrantes, Atallah conduziu debate sobre o tema. Sua primeira pergunta aos convidados foi em relação ao modismo do narguilé e cigarro eletrônico entre os adolescentes e a melhor forma de prevenção.
“As pessoas têm uma falsa ideia de segurança com o narguilé, mas no líquido muitas vezes colocam bebidas alcoólicas, maconha e um festival de combinações de substâncias tóxicas. A Educação é fundamental, o Brasil precisa urgentemente de um programa de saúde mental para jovens com relação às drogas. As políticas públicas já bem sucedidas com tabaco precisam ser mais abrangentes com essas outras substâncias, partindo da legislação e educação”, complementou Jaqueline.
O presidente da APM, por sua vez, levantou o debate sobre os motivos que levam à dependência e se existe algum tipo de traço genético nessa situação. “Existem traços genéticos. Pessoas que têm menor metabolismo hepático para a nicotina fumam menos cigarros, pois mantém mais a nicotinamida. Segundos nossos estudos, 40% dos fumantes são dependentes e 60% fumam por hábito ou prazer. A diferença está entre o metabolismo e o receptor”, explicou Jardim.
“Não existe dose segura de tabaco, portanto este é um conceito que não se pode deixar de levar em consideração nesta reunião”, finalizou Amaral.
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