Dando continuidade às rodadas de aquecimento para o 3º Global Summit Telemedicine & Digital Health – que ocorre de 9 a 12 de novembro de 2021, na manhã da última quinta-feira (15), foi realizado mais um warm up, debatendo o tema “Telemedicina e Saúde Digital no Brasil: Aprendendo com quem faz”, transmitido ao vivo no site do GS.
Jefferson Gomes Fernandes, presidente do Conselho Curador do GS, e Antônio Carlos Endrigo, diretor adjunto de Tecnologia de Informação da Associação Paulista de Medicina, foram os moderadores do evento e fizeram as apresentações dos palestrantes convidados.
“Na primeira edição do Global Summit, em 2019, a única discussão era sobre uma eventual regulamentação da Telemedicina, em 2020. Com a crise sanitária que acelerou o uso da saúde digital, agora em 2021 temos muito a debater nessa questão, principalmente em pautas relacionadas à regulamentação da prática. A APM sempre foi uma grande protagonista nessa discussão, realizando eventos e trazendo especialistas que compartilham experiências adquiridas nestes poucos anos de Telemedicina”, afirma Endrigo.
Transformação Digital
Carlos Pedrotti, médico-referência do Centro de Telemedicina do Hospital Israelita Albert Einstein, foi o primeiro palestrante a se apresentar. Participa desde o início da fundação do centro de Telemedicina da instituição e mostrou um pouco da história do projeto e como foram desenvolvidos produtos e estratégias.
“Iniciamos o projeto em 2012, com urgências e emergências em programas governamentais, ajudávamos com opiniões especializadas para médicos generalistas que estavam em pronto atendimento em 27 hospitais diferentes no Brasil”, conta.
“No ano seguinte, expandimos o programa, em 2014 começamos a trabalhar com Telemedicina, em contato com profissionais de enfermagem que já estavam intermediando consultas com os pacientes e passamos a atender Teleneurologia 24 horas, programas de Medicina Intensiva em 2015 e em 2016 já estávamos trabalhando com atendimento direto ao paciente, ainda numa escala pequena, mas expandindo. A pandemia não foi o iniciador da Telemedicina, mas sim o acelerador”, completa.
Presente há quase dez anos na área, o projeto se consolidou e conseguiu trazer melhor acesso à Medicina de alta qualidade a quem jamais poderia imaginar receber o atendimento, principalmente em regiões remotas.
Pedrotti ainda contou sobre desafios enfrentados na trajetória com a Telessaúde. “As tecnologias já existem há algum tempo e estão cada vez mais acessíveis e não são o grande impedidor, o maior desafio encontrado hoje é definir bem o processo de como médico e paciente de diferentes regiões podem se comunicar”, destaca.
Com relação aos resultados, o programa tem uma média de 80% a 85% de pacientes que recebem alta sem a necessidade de um pronto atendimento, 92,2% de satisfação dos pacientes atendidos e ainda trabalham com serviços de atendimento off-shore, Teleneurologia transferências neurológicas e Tele-UTI.
Coordenador Médico de Saúde Digital do Hospital Moinhos de Vento, Felipe Cabral explicou sobre o macroambiente e saúde digital presentes na instituição. “Nosso primeiro programa envolve 250 startups inscritas, 18 estados e quatro países diferentes, temos o objetivo de ter novas tecnologias, projetos com agilidade e rapidez, eficiência operacional, engajar nossas lideranças e trazer cultura interna de inovação para a empresa”, conta.
O projeto iniciou-se em 2016, com serviços de Teleoftalmologia, em 2018, Teleconsulta e Tele-UTI e, em 2020, expandiram-se os atendimentos e ambulatórios virtuais. “A saúde digital não é necessariamente 100% digital, fazemos parte de um contexto, não queremos substituir, mas sim somar”, destaca o coordenador.
“No Hospital Moinhos de Vento, separamos a Saúde Digital em inovação e Telemedicina. Em inovação, a empresa desenvolveu três frentes de atuações principais: programa de conexão com startups, iniciativas internas e conexão com grandes empresas”, complementa.
Segundo Cabral, a instituição pretende conectar em parceria com grandes empresas e gerar novos negócios produtos e ideais. “Nossa Telemedicina já tem cinco anos de história, com mais de 100 mil atendimentos, presente em mais de 25 cidades e mais de 150 médicos ativos. A importância da digitalização é se manter competitivo, aprender mais rápido do que a concorrência, focar no desejo do consumidor, trabalhar com dados e aumentar seu modelo de negócio. Temos vistos que todas as outras vertentes dentro da nossa sociedade vêm se digitalizando há muito tempo e isso faz tudo ser mais exponencial”, ressalta.
Metas e Desafios
Marco Bego, chief innovation officer no Inova HC/USP, trouxe em sua apresentação as ações de Telemedicina que estão sendo desenvolvidas no HC, que possui oito hospitais conectados em um único complexo e opera trabalhando com quatro pilares fundamentais: assistência, educação, pesquisa e inovação. “A Instituição já trabalha com Telessaúde desde 1997, ao longo desses anos desenvolvemos muitas ações e, com certeza, a pandemia gerou um poder de aceleração nunca visto, com isso, podemos usar a tecnologia de forma mais estruturada”, afirma.
Segundo o especialista, conectar as iniciativas, disciplinas e especialidades foi um dos grandes desafios enfrentados durante o processo. “Com a necessidade de desenvolver a parte de atendimento para casos de Covid-19 e continuar com os atendimentos gratuitos fora da área da pandemia, tínhamos a melhor oportunidade para posicionar o HC na área de saúde digital, acelerar o uso e começar a estabelecer a prática da Telemedicina no hospital”, completa.
Dentre os objetivos definidos para a saúde digital, a instituição manteve o foco em programas de referência, melhorar a experiência do paciente no SUS, criar fontes de eficiência e adiantar a operação do HC para atender também à atenção primária. “Nosso projeto está estruturado
em três fases, tivemos que fazer uma reanalise da nossa estratégia, alinhado com os pilares que já tínhamos, definimos algumas iniciativas e começamos a escalar novos projetos”, destaca o especialista.
Bego ainda explica que havia mais de 70 iniciativas de saúde digital já acontecendo no HC e que para serem colocadas em prática, começaram a organizá-las em fases: visão, metas e iniciativas, para definir quais ações eram necessárias para atingir os pilares estabelecidos, e organizar os projetos de forma macro com as pessoas certas liderando cada um deles.
Finalizando as apresentações, Natan Kartz, médico especialista em Telessaúde na Universidade Federal do Rio Grande do Sul, apresentou as ações, desafios e objetivos a serem realizados em Telemedicina O Hospital de Clínicas de Porto Alegre (HCPA), instituição pública e universitária vinculada academicamente à UFRGS.
Desde sua implementação na instituição, 52.878 teleconsultas foram realizadas em 2020 e 35.300 de janeiro a junho de 2021, principalmente nas especialidades de Medicina de Família, psiquiatria, endocrinologia, nefrologia, enfermagem e genética.
Kartz explica que em reunião com membros da instituição foram discutidos quais ações deveriam ser realizadas para alcançar resultados, entre elas mapeamento, dificuldades, ferramentas e funcionalidades. “Devido ao grande fluxo de pacientes, muito rapidamente conseguimos fazer a migração de consultas remotas realizadas pelo hospital”, afirma.
“Otimizar os processos administrativos é necessário para o acesso aos recursos de saúde e regulamentar e promover o uso de recursos da Telemedicina no HCPA. Com isso, foram criadas tarefas baseadas em três temas estratégicos: cuidado centrado com o paciente e baseado em valor, otimização de recursos, espaços e sustentabilidade econômico-financeira”, completa.
Entre os desafios e as perspectivas futuras, o especialista afirma que ainda é preciso investir em estrutura, melhorar e realizar processos mais sofisticados e eficientes e expandir a atuação do HCPA no Rio Grande do Sul e Brasil através da Telemedicina. “Ainda perdemos muito tempo na parte administrativa de contato com os pacientes, a ideia é investir em estrutura para transformar o atendimento virtual em algo muito parecido com o atendimento presencial e que os profissionais tenham que fazer muito pouco para conseguirem atender os pacientes”, complementa.
Ao final das palestras, os convidados responderam perguntas feitas pelos moderadores e participantes referente à legislação e regulamentação da prática da Telemedicina, projetos que não tiveram resultado esperado e os principais desafios enfrentados com a implementação da telessaúde.
“Todas as experiências trazidas por nossos palestrantes mostram dimensões, maturidade e evoluções que demonstram claramente os benefícios para a população e serviços de saúde com a Telemedicina e o uso da tecnologia como instrumento de trabalho”, finaliza Fernandes.