A Academia de Medicina de São Paulo recepcionou o pediatra Hermann Grinfeld na tarde da última quarta-feira, 12 de março, para a apresentação da segunda Tertúlia Acadêmica do ano. Grinfeld, que é formado em Medicina pela Pontifícia Universidade Católica de São Paulo, falou sobre “Alcoolismo na Gravidez”.
Em nome do presidente da AMSP, Helio Begliomini, o palestrante agradeceu a oportunidade de falar sobre um assunto que, segundo ele, apesar de controverso, é completamente fascinante. Ele relembrou que o abuso de álcool por mulheres é um tema recorrente em religiões, na filosofia e na arte, apontando fragmentos da Bíblia, de obras de Aristóteles e de pinturas que retratam o assunto.
“Não apenas a sociedade brasileira, mas grande parte dos países demonstram haver uma intolerância com o alcoolismo feminino, principalmente na gestação. Repreendem duramente mulheres sem controle com a bebida, mas são benevolentes com os excessos etílicos dos homens”, criticou.
Fatores
Segundo Hermann, se caracterizam como “consumidoras pesadas” de álcool as mulheres que tomam cinco doses ou mais de uma vez só ou aquelas que tomam mais de 35 unidades por semana – o equivalente a uma garrafa de destilado com 750 ml de bebida. No caso das gestantes, o especialista reforçou que o álcool costuma ser a droga com o consumo mais frequente por conta do fácil acesso e pelo seu valor que, comparado a outros entorpecentes, é baixo. Neste sentido, a prevalência mundial do consumo de álcool entre grávidas é estimada em, aproximadamente, 12%.
“O consumo de álcool não tem se reduzido, e nem com o desenvolvimento de campanhas as autoridades conseguem fazer com que ele seja menor, muito pelo contrário. Apesar de proibido por lei, menores de 18 anos ingerem álcool cada vez mais cedo. Desta forma, o etilismo crônico em mulheres vem se tornando mais frequente e elas têm complicações orgânicas e psíquicas mais precocemente que os homens”, explicou.
No caso do alcoolismo na gravidez, as consequências se relacionam a diversos fatores. “O etanol cruza a placenta e entra na circulação fetal em cerca de uma hora após o consumo. O líquido amniótico retém o álcool por cerca de 3 horas, sendo, portanto, um ‘reservatório’ da substância. Como o feto ingere o líquido amniótico, os danos que o álcool causa são potencializados. Há diferenças significativas no metabolismo do álcool entre mulheres e homens, grávidas e não grávidas. A proporção de água corporal nas mulheres é menor do que em homens e como o álcool é solúvel em água, mulheres o metabolizam de forma mais lenta.”
O alcoolismo na gravidez está associado ao uso de outras drogas, desnutrição e infecções; parceiro alcoólatra; depressão; más condições socioeconômicas e educacionais; desemprego e dependência financeira de familiares; e absenteísmo às consultas de pré-natal.
Síndrome Alcoólica Fetal
O consumo de álcool na gestação leva à Síndrome Alcoólica Fetal (SAF) o que, para Hermann, é a parte mais dramática do nascimento de uma criança, já que é uma das principais causas de atrasos mentais e más-formações, afetando entre 4% a 10% das consumidoras pesadas. Além disso, este é um dos maiores problemas de saúde pública do mundo e é uma doença sem cura. “O feto atingido não tem volta, não há como repor aqueles neurônios que foram corrompidos.”
Apesar de crianças afetadas pela SAF possuírem características que podem passar despercebidas, sem alterações faciais significativas, há atributos que permitem identificá-las, como atraso mental, levando a problemas de aprendizado, principalmente na fase de alfabetização; microcefalia, em determinados casos; lábio superior afilado; ausência de filtro nasal e fenda palpebral diminuída. Também há retardo no crescimento pré e pós-natal, além de evidências de disfunção no sistema nervoso central.
Hermann reforça que a ingestão de qualquer quantidade de álcool, sejam pequenas ou grandes doses, é extremamente prejudicial ao feto. “Todos os tipos de bebidas alcoólicas apresentam riscos ao bebê. Quando uma mulher grávida bebe, o seu bebê também está bebendo. Se engravidar não beba e se beber, não engravide”, complementou o médico.
O presidente da Academia, Helio Begliomini, finalizou a sessão agradecendo o colega pela objetividade da apresentação. “Estávamos buscando marcar isso há alguns meses já e o doutor Hermann teve alguns problemas pessoais que quase não permitiram que ele estivesse aqui. Então, agradeço por você estar bem e por ter vindo nos agraciar com a sua palestra.”
Texto: Julia Rohrer
Fotos: Divulgação AMSP

