No dia 10 de novembro, a Academia Paulista de Neurologia (Apan), em parceria com a Associação Paulista de Medicina (APM), realizou o segundo Neuro Talks, série de lives sobre doenças e terapias neurológicas, desta vez com a abordagem sobre Mal de Parkinson. O evento foi coordenado pelo médico Ronaldo Abrahan e transmitido pelo Zoom Metting.
A neurologista do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da USP Mônica Santoro Haddad foi uma das palestrantes e apresentou novas atualizações no tratamento de Parkinson para sintomas motores. Dados apontam que a incidência da doença, embora ainda seja alta entre a faixa etária de 50 e 59 anos (em torno de 17,4 a cada 100 mil pessoas), aumenta de forma significativa entre 70 e 79 anos, sendo de 93,1 a cada 100 mil.
“Levantamento informa que o Brasil tinha 4% (4,1 milhões de indivíduos) com relação ao mundo, em 2002. Com projeção para 2030, teremos 8,7 milhões de indivíduos, número dobrado. Esse aumento da incidência está vinculado não apenas ao envelhecimento da população, mas a fatores externos ambientais. Esperamos inclusive uma pandemia de DP nos próximos dez anos”, ressalta.
O diagnóstico é feito quando surgem os sintomas motores cardinais, brasinergia, rigidez e tremor. Os indícios persistentes são disfagia, instabilidade postural, quedas e freezing. “O tratamento visa basicamente os sintomas de acinesia (lentidão ou ausência de movimentos), tremor e rigidez. Embora seja um sintoma cardinal, a instabilidade postural é tardia na evolução da doença e não é responsiva a tratamentos”, explica a especialista.
Especificamente o tremor, segundo ela, em alguns casos precisa de doses mais altas de reposição dopaminérgica. “Há também situações de não haver melhoras, os sintomas não respondem igualmente”, acrescenta.
A terapia leva em consideração não apenas a idade do paciente, como informa Mônica. O tratamento é individualizado sob perspectiva da profissão, do lado afetado pela doença, das expectativas do indivíduo para presente e futuro, das condições clínicas concomitantes e quão grave é a doença. “Não existe o melhor tratamento para a DP, e sim o melhor tratamento para cada paciente. No entanto, todos devem ser ativamente estimulados a fazer adaptações ao estilo de vida, com exercícios aeróbicos, dieta e bons hábitos de sono.”
Em termos de manejo farmacológico, são usadas drogas que aumentam a atividade dopaminérgica, precursores da dopamina: levodopa (diferentes apresentações), bloqueadores da defragação da DA: IMAO (selegelina, rasagilina, safinamida), ICOMT (entacapone, opicapone); bloqueadores da recaptação de DA (e antagonistas NMDA): amantadina (diferentes apresentações); e antagonistas dopaminérgicos: ergolínicos (bromocriptina, cabergolina), não ergolínicos (pramipexole, rotigotina), apomorfina.
“Anticolinérgicos, embora tradicionalmente usados com biperideno e triexifenidil, são drogas que devem ser evitadas. Hoje em dia, é possível fazer o tratamento do Parkinson sem esses medicamentos porque existem associações com o aumento do risco de demência e atrofias em pacientes”, completa.
Sintomas não motores
Os principais sintomas não motores do Mal de Parkinson são neuropsiquiátricos, como depressão, ansiedade, síndrome de pânico, comprometimento cognitivo, alucinações e psicose; distúrbios do sono: distúrbio comportamental do sono REM, insônia, sonolência excessiva diurna, sonhos vívidos, apneia do sono, síndrome das pernas inquietas e movimentos periódicos dos membros; autonômicos: disfunção vesical, sudorese, hipotensão ortostática, sialorreia e impotência; do sistema digestório: dificuldade de deglutição, constipação intestinal; sensitivos: dor, anosmia, distúrbios visuais; além de fadiga e falta de ar.
“Estudo Priamo, da Universidade de Salerno, na Itália, aponta que mais de 98,6% dos pacientes assistidos apresentaram pelo menos um sintoma não promotor, afetando muito a qualidade de vida. Por isso, buscamos ativamente por esses sintomas durante a consulta. É obrigação nossa buscarmos durante a anamnese a presença ou não desses sintomas, porque quando identificamos precocemente, há melhor evolução desse paciente”, explica a neurologista da Unifesp e do Iamspe Roberta Arb Saba Rodrigues Pinto.
Dentre os sinais com o maior impacto negativo na qualidade de vida estão depressão, insônia, constipação intestinal, ansiedade, comprometimento da concentração e memória. Nas fases mais avançadas, a perda cognitiva e os sintomas psicóticos são os sintomas não motores mais importantes.
Tratamento
Para o tratamento não farmacológico da hipotensão ortostática, sintomática ou assintomática, é recomendado o uso meias elásticas e faixa abdominal, o aumento de ingestão hídrica (2 litros ao dia) e de NaCl, a elevação da cabeceira menor a 30 graus, além de se evitar o consumo de álcool e refeições exageradas, exercícios físicos vigorosos e exposição ao calor.
“Quando a terapia não farmacológica não surte efeito, tentamos o uso medicamentoso de fludrocortisona e desmopressina, mais utilizados no mercado brasileiro. Para fadiga, cansaço, falta de energia e sensação do esgotamento, prevalência em 33% a 58% dos casos, são recomendadas as drogas rasagilinia, levodopa, modafinila e metilfenidato.
Em relação aos distúrbios neuropsiquiátricos, dependendo dos casos específicos, podem ser usadas drogas como antiparkinsonianas, dopaminérgicas, antidepressivas, neurolépticos atípicos com clozapina e quetiapina, rivastigmina e benzodiazepínicos, além de terapias cognitivo-comportamental e exercícios físicos.
Para distúrbios do sono, motores, acinesia noturna, tremor, distonia matinal, discinesias, síndrome das pernas inquietas e movimentos periódicos dos membros “é fundamental identificar a causa da insônia, higienizar o sono e indicar hipnóticos de meia vida curta e com pouco efeito residual matinal”, finaliza Roberta.
Neuro Talks
A série de lives da Apan teve início no dia 6 de outubro, com debate sobre Epilepsia, mediado pelo presidente da Associação, Rubens Gagliardi, e com palestra de Luis Otavio Sales Ferreira Caboclo, professor de Neurologia da Faculdade Israelita de Ciências da Saúde Albert Einstein; e de Lécio Figueira Pinto, coordenador do Ambulatório de Epilepsia do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (FMUSP).
Os eventos têm realização da APM e apoio da Academia Brasileira de Neurologia (ABN), com o objetivo de discutir os temas mais relevantes e emergentes da especialidade e preparar os médicos para o Congresso Paulista de Neurologia 2021, que ocorre de 27 a 29 de maio do próximo ano.
O próximo Neuro Talks será em 8 de dezembro, às 19 horas, sobre Canabidiol, com moderação de Acary Oliveira e aulas de Vitor Tumas (Canabidiol na Terapêutica Neurológica) e Fernando Solera (Canabidiol na Prática Esportiva). Inscreva-se neste link.