Na última terça-feira, 7 de julho, foi transmitido no Instagram da Associação Paulista de Medicina mais um episódio da “Sleep Talks”, série de lives voltada aos temas da Medicina do Sono durante a pandemia de coronavírus. A convidada desta edição foi a neuropediatra Letícia Soster, que falou sobre “Como Melhorar o Sono da Criança e do Adolescente no Isolamento?”.
A especialista argumentou que o sono dessa população se torna um assunto esquecido em tempos de isolamento, período em que os níveis de estresse e ansiedade tendem a aumentar. De acordo com Letícia, o sono é uma forma de manifestar sensações e emoções. Portanto, quando a sua qualidade é prejudicada, há um reflexo direto no comportamento e na rotina.
Para identificar casos de crianças que não estão dormindo bem é preciso, primeiramente, prestar atenção aos sinais emocionais dados por elas. “O sono mexe primeiro no humor, então a gente tem uma série de manifestações. A criança manifesta uma irritabilidade quando não está dormindo bem. Ela fica mais impaciente, menos criativa e com menos vontade de fazer as coisas, porque ela não entende o que está acontecendo”, explicou.
É fundamental entender o processo de sono de uma criança, desde o começo da vida, para criar uma rotina na hora de dormir. Até os três meses, os bebês não têm níveis detectáveis de melatonina. Ela começa a se consolidar a partir dos seis meses de vida, contribuindo para que a criança tenha maior percepção do claro e do escuro, desenvolvendo níveis de sono mais estáveis a partir do período noturno.
De acordo com Letícia, a partir desde momento já é possível criar pequenos hábitos que contribuam para melhorar a qualidade do sono. “Precisamos ensinar as crianças a adormecer e aprender com elas. Nós vivemos em uma geração nova, então é necessário esse cuidado. É um trabalho que vem de todas as partes. Muitos pais acabam imprimindo estresse no processo de adormecer e chega a um ponto em que você é vencido pelo cansaço. É preciso reconhecer o seu corpo e as necessidades dele e ensinar a criança a fazer o mesmo.”
A especialista apontou que é importante criar rotinas que contribuam para o relaxamento do cérebro, além de indicar a percepção da criança em entender que a hora de dormir se aproxima. “É interessante fazer uma atividade, jogar um quebra-cabeça, comer algo mais leve na janta, falar mais baixo, enfim, tudo para favorecer o relaxamento. E isso é um processo, é um hábito, tem que ser uma prática diária para o cérebro já ir se preparando para o sono, de forma consistente, todos os dias”, descreveu.
“Para crianças não verbais, de três anos para baixo, quando a comunicação ainda não é consistente, o ideal é uma rotina de três passos, ou seja, deitar-se, contar uma história e dar um beijo de boa noite. Ela vai entender que o próximo passo é a hora de dormir. Em crianças maiores é possível inseri-las na nossa própria rotina, elaborando cenários em que elas entendam a importância do sono”, completou.
Além disso, é fundamental ressaltar a importância de crianças dormirem sozinhas e terem o próprio espaço. Conforme apontou Letícia, os pequenos que conseguem dormir sem a presença dos pais são mais independentes, seguros e adeptos à socialização, pois essa é uma habilidade neural que faz parte do desenvolvimento cognitivo. Dessa forma, acabam se tornando mais autoconfiantes.
A neuropediatra abordou, ainda, o tratamento do sono para crianças com autismo ou transtorno de déficit de atenção com hiperatividade (TDH). “A criança autista é muito sensível a luz e rotina. Temos que dar a ela uma rotina consistente, sempre igual. A gente tem que deixá-la segura através de um ritual de sono reforçado e repetitivo, para ela fixar esse comportamento. Nos casos de TDH, alguns estudos mostram que as crianças tendem a ser mais vespertinas, ou seja, com cognição melhor no período da tarde. Além disso, existe uma relação importante entre o TDH, a síndrome das pernas inquietas e o transtorno opositivo desafiador (TOD), que faz com que seja muito difícil para a criança compreender a importância do relaxamento.”
A liberação do hormônio GH também foi um dos temas da live e Luciana ressaltou que quanto melhor a qualidade do sono, mais saudável o crescimento da criança. Outro ponto de relevo é a forma que o estresse dos pais pode refletir no sono de seus filhos, se tornando necessário um processo de tratamento para que toda a família passe a ter uma rotina adequada. “Para a gente chamar de problema de sono é preciso ter uma consequência diurna”, relembrou a especialista antes de finalizar.
Sleep Talks
A próxima transmissão da série acontece em 21 de julho, às 19h, com a presença de José Cipolla Neto, Professor Titular de Fisiologia do Instituto de Ciências Biológicas da Universidade de São Paulo (USP). Ele abordará “Tudo o que você precisa saber sobre melatonina”. Confira as demais datas:
- 4 de agosto, a neurologista referência nacional em Medicina do Sono Andrea Bacelar retrata “Quais as causas da sonolência diurna excessiva?”;
- 18 de agosto, a otorrinolaringologista Tatiana Vidigal é convidada para falar a respeito de “Como avaliar a adesão ao CPAP por Telemedicina?”;
- 1º de setembro, o neurologista Álvaro Pentagna ministra a live sobre “Sono e Imunidade”;
- 15 de setembro, a neurologista Rosa Hasan esclarece todas as eventuais dúvidas referentes ao sono;
- 29 de setembro, o pneumologista Mauricio Bagnato traz “Dicar para dormir melhor ajustando o relógio circadiano.
Todas as lives são realizadas pelo perfil oficial da APM no Instagram e contam com moderação de Andrea Toscanini, presidente do XVIII Congresso Paulista de Medicina do Sono.